– Contém spoilers
– Leiam as críticas dos demais volumes da série em quadrinhos, aqui.
Foi encerrado o arco da prisão – até agora o maior de The Walking Dead – e os eventos que marcaram seu desfecho colocam Rick e Carl em uma situação parecida, talvez até pior, do que estavam quando todo o apocalipse começou. Aqui Permanecemos, nono volume dos quadrinhos de Robert Kirkman mais uma vez nos lembra que seu autor não está aqui para nos enrolar e em apenas seis capítulos consegue alterar o status quo do grupo de sobreviventes mais de uma vez, dando início a um novo arco, que os levaria para um mundo maior.
Iniciamos a história logo após a fuga de Rick e seu filho. Separados de todos os outros, eles precisam encontrar algum lugar para passarem alguns dias, visto que Rick está ferido. Ao encontrarem uma casa aparentemente segura em uma cidadezinha, eles lá se estabelecem, apenas para o pai de Carl desmaiar em virtude de seu adoecimento. Desde já percebemos que a intenção de Kirkman nessas edições é explorar o psicológico de seus personagens no momento de maior instabilidade. Vemos um foco considerável em Carl e um nítido amadurecimento do garoto, principalmente quando ele admite ser uma criança e que precisa de seu pai.
Rick, após acordar, também ganha uma interessante reviravolta através da ligação misteriosa que acredita receber todos os dias na casa abandonada. Acompanhamos, página após página, sua própria maneira de lidar com a morte de sua esposa e filha, o que apenas aumenta a força do personagem – mesmo profundamente abalado, tanto fisicamente, quanto psicologicamente, ele tem disposição para continuar. Sabiamente, o autor coloca no meio desse trecho um estranho que se entrega e se suicida, mostrando que Grimes poderia escolher esse caminho mas não o faz. Ao mesmo tempo, a ingenuidade de Carl é desconstruída, preparando o personagem para os arcos futuros, nos quais ganharia muito mais relevância.
Mas, como já dito, o status quo é alterado mais de uma vez e logo u grupo, ao menos os que sobreviveram, se veem reunidos na fazenda do falecido Hershel. Há um certo ar de nostalgia quando nos vemos nesse local novamente, mas temos a nítida consciência de que se trata de algo transitório, especialmente quando Abraham, Rosita e Eugene aparecem. Rosita ainda não ganha muita voz nesse volume, mas desde já temos a nítida consciência de que uma bela adição foi feita ao grupo de sobreviventes – Abraham e seu vocabulário são praticamente um alívio cômico para os quadrinhos e Eugene nos choca ao trazer a possível resposta para o maior mistério da história: como o mundo ficou daquele jeito. Naturalmente que Kirkman não nos revela a razão ainda e, para quem já leu os volumes posteriores, sabe que o desenvolver dessa história nunca vai pelo caminho simples.
Dito isso, o caminho para Washington é estabelecido e, como sempre, o autor nos introduz a esse arco através de diálogos muito bem escritos, dando personalidade a seus personagens ao mesmo tempo que não desperdiça nosso tempo. Novos conceitos são, também, estabelecidos e Robert o faz criando conversas com grande naturalidade, não pecando pelo excesso de didática. É interessante notar, também, como esses conceitos são deixados na “reserva”, criando um ponto de coesão, visto que seriam retomados posteriormente, nos preparando para o que está por vir nas próximas edições.
Aqui Permanecemos é um volume de transição, sem dúvidas, mas isso não significa que não seja tão atrativo quanto as outras edições de The Walking Dead. Robert Kirkman demonstra, em seis capítulos, como tem controle de sua história e nos traz diferentes focos que mergulham no psicológico de seus personagens, que devem lidar com as recentes perdas sofridas na prisão. Entramos em uma nova fase dos quadrinhos e, novamente, somos deixados não só na expectativa, como na dúvida do que está por vir. Os próximos volumes prometem.
The Walking Dead – Vol. 9: Aqui Permanecemos (The Walking Dead – Vol. 9: Here We Remain)
Contendo: The Walking Dead #49 a 54
Roteiro: Robert Kirkman
Arte: Charlie Adlard
Arte-final: Cliff Rathburn
Capas: Tony Moore
Letras: Robert Kirkman
Editora nos EUA: Image Comics
Data original de publicação: maio a novembro de 2008
Editora no Brasil: HQM
Data original de publicação no Brasil: junho de 2012
Páginas: 148