– Contém spoilers
– Leiam as críticas dos demais volumes da série em quadrinhos, aqui.
O volume 7 de The Walking Dead foi efetivamente uma calmaria antes da tempestade, com um desfecho de tirar o fôlego não só dos personagens, como de nós leitores. Dito isso, Nascidos para Sofrer é quando a trovoada realmente começa, com o governador às grades da prisão, com um exército e um tanque de guerra. Qualquer um que tenha lido o que veio antes nos quadrinhos de Robert Kirkman sabe que isso não poderia terminar de uma boa maneira – mesmo que, de fato, o grupo de Rick “ganhasse”, sofreriam grandes perdas. A questão é quem acabaria deixando o mundo dos vivos.
Antes de nos colocar no combate, porém, Kirkman faz uma breve e interessante retrospectiva, nos contando o que aconteceu em Woodbury desde que Michonne deixara o Governador à beira da morte. Acompanhamos o planejamento do ataque, como o enlouquecido líder convenceu toda sua comunidade a ir contra a prisão e, ao mesmo tempo, testemunhamos a totalidade da loucura desse homem. O que vemos a seguir é uma verdadeira guerra, o clímax e encerramento de um dos melhores arcos de The Walking Dead, com eventos verdadeiramente traumáticos, tanto dentro das páginas quanto fora delas.
O mais interessante de tudo é como Robert consegue dosar a ação e o drama dentro de suas páginas – em todos os momentos algo está realmente acontecendo e para isso, ele, como de costume, divide o volume em diferentes focos a fim de construir uma ideia geral de todo esse acontecimento. Com isso, ele consegue aumentar a tensão no espectador, através de uma mudança de foco bem posicionada. É criado um grande suspense inúmeras vezes ao longo de suas páginas, ao passo que precisamos pular de uma a outra incessantemente – verdadeiramente não há como parar esse volume no meio, tamanho é o nosso grau de engajamento e, no fim, já nos sentimos tão angustiados quanto os personagens que aprendemos a gostar.
O roteiro também faz uma óbvia alusão a governos imperialistas, que manipulam seu povo a fim de conquistar mais territórios, provocando uma guerra desnecessária com o apoio da população. Vejam, o verdadeiro motivo do Governador por trás da invasão da prisão é simplesmente conseguir um local mais seguro – tudo poderia ser feito através da conversa, mas a violência já foi estabelecida lá atrás quando, sem mais nem menos, ele corta o braço de Rick. Tudo o que veio desde então é pura consequência. Dizer que a invasão foi motivada pela vingança é mentira, já que ele planejava fazer isso desde o início, Michonne apenas garantiu um sabor a mais a esse jantar. As ações da espadachim, contudo, fizeram com que o antagonista se preenchesse de ódio, sua loucura foi elevada às alturas, afetando seu planejamento consideravelmente.
A arte de Charlie Adlard, como de costume, não deixa a desejar e garante a expressividade de cada personagem e a brutalidade de cada morte. O triste fim de Lori e sua bebê definitivamente é um dos momentos que mais marcam em toda a obra, o olhar de Rick, que implora para que seu filho não olhe para trás é capaz de nos encher de lágrimas e encerra essa edição e o arco como um todo com chave de ouro.
O volume oito de The Walking Dead representou o fim de uma fase para os quadrinhos de Robert Kirkman. Estamos diante de um fim e à beira de um novo começo, que irá alterar completamente o status quo dos personagens. O arco da prisão se encerrou e com ele foi embora um dos principais antagonistas da série, atrás somente de Negan em grau de loucura, mas até esse outro aparecer ainda temos um longo caminho pela frente.
The Walking Dead – Vol. 8: Nascidos para Sofrer (The Walking Dead – Vol. 8: Made to Suffer)
Contendo: The Walking Dead #43 a 48
Roteiro: Robert Kirkman
Arte: Charlie Adlard
Arte-final: Cliff Rathburn
Capas: Tony Moore
Letras: Robert Kirkman
Editora nos EUA: Image Comics
Data original de publicação: outubro de 2007 a abril de 2008
Editora no Brasil: HQM
Data original de publicação no Brasil: março de 2012
Páginas: 148