Home TVEpisódio Crítica | The Walking Dead: Dead City – 1X01: Old Acquaintances

Crítica | The Walking Dead: Dead City – 1X01: Old Acquaintances

Nova York dos mortos suicidas.

por Kevin Rick
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  • spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.

Quem acompanhou minhas críticas na reta final de The Walking Dead sabe que não sou entusiasmado pelo arco de redenção de Negan (Jeffrey Dean Morgan) como esse anti-herói que quer uma família feliz. Nunca comprei esse desenvolvimento para um vilão que assassinava, torturava e estuprava com um sorriso maníaco e brilho nos olhos. Também fiquei desgastado com o relacionamento passivo-agressivo que foi construído entre ele e Maggie (Lauren Cohan), que para mim muitas vezes ofendeu o legado de Glenn quando Maggie começa a ter uma certa afinidade com o assassino de seu marido, enquanto o restante do grupo do seriado faz amizade com o antigo vilão.

Portanto, o anúncio de um spin-off focado em Negan e Maggie não foi muito animador para mim. Surpreendentemente, The Walking Dead: Dead City é infinitamente mais interessante do que imaginei e até abre algumas portas curiosas para uma franquia que parecia morta. A premissa é relativamente simples, seguindo Maggie e Negan no que parece ser alguns anos desde Rest in Peace. A personagem está viajando  em busca do filho sequestrado, Hershel (Logan Kim), que foi levado por um vilão chamado The Croat (Željko Ivanek), um antigo membro dos Salvadores, razão pela qual Maggie rastrea Negan para ajudá-la nesta missão.

A partir da sequência inicial com a co-protagonista olhando uma grande cidade destruída, é possível notar um senso de escala no seriado, que decide nos levar para uma Manhattan pós-apocalíptica. Desde as primeiras temporadas de TWD e a terrível The Walking Dead: World Beyond que não acompanhamos essa franquia em uma região metropolitana, o que faz sentido, uma vez que o afastamento de epicentros e grandes cidades faz parte do manual de sobrevivência básico em um ambiente pós-apocalíptico.

Portanto, essa mudança de cenário traz um frescor necessário para a franquia, principalmente quando pensamos que a ideia agora é de expansão de universo com todos esses spin-offs anunciados, sendo Dead City a porta de entrada. A produção também não faz feio, apesar das claras limitações de orçamento, mesclando filmagens em locações com efeitos especiais para construir uma Nova York destruída. Loren Yaconelli também tentar dar algum senso de dimensão ao episódio, trabalhando com sequências de grande distância e aproveitando espaços quando pode.

Eu diria que o seriado tem até características de um neo-western, com uma iluminação underground, diferentes sociedades surgindo dos restos e arredores de Manhattan e um marshall (Gaius Charles) perseguindo o Negan. Detalhe: temos cartazes de procurado; uma cidade chamada Nova Babilônia; e até um bar/motel no entorno de uma Nova York isolada. Tudo muito divertido de ver em um universo que parecia sem novos conceitos, o que finalmente despertou minha curiosidade para o que a AMC tem guardado com o restante das produções anunciadas na decepcionante vitrine que foi o último episódio da série original.

Obviamente que nem tudo é efetivamente novo, com uma narrativa bastante similar do ciclo de TWD de encontrar um antagonista sádico que controla determinada região e bate de frente com nossos protagonistas, dessa vez envolvendo uma clássica trama de sequestro e vingança, que também lembra histórias de velho-oeste. Não tenho muitos problemas com a premissa básica, até porque o roteiro do showrunner Eli Jorné é perspicaz ao evitar muitas ligações com a série passada que não seja a briga de Negan e Maggie, podendo focar no desenrolar da missão sem muitos didatismos e explicações. O salto no tempo também auxilia nesse “desagarro” da minissérie.

Tenho, porém, problemas com as interações entre os co-protagonistas. Alguns cacoetes de TWD se personificam aqui na forma de monólogos e diálogos piegas. Já sabemos que todo mundo sofre nesse universo e que Maggie e Negan adoram suas pequenas brigas. Mas uma ou outra interação dos dois é promissora, com destaque para a cena do barco, quando Negan confronta Maggie por ter matado vários pais e filhos. É tão mais tridimensional trazer Negan para suas raízes: a personificação perturbada do que é essa nova sociedade pós-apocalíptica. Ainda dá pra ver aquele Negan chato com olhares tristes e faces de remorso, mas também podemos ver aquele Negan maléfico, que é quando Morgan se sobressai, como na ótima cena do veículo que o personagem faz suas piadas sarcásticas. Vamos ver para onde o roteiro leva esse relacionamento.

Outro ponto positivo da vinda para uma região metropolitana é o retorno das manadas de zumbis, um dos poucos recursos do seriado que ainda traz algum nível de periculosidade para os mortos-vivos, que foram se tornando piada ao longo dos anos. Também espero que eles aproveitem cenários urbanos como prédios, shoppings e metrôs. Os zumbis ainda não são uma grande ameaça, mas é bom ver a produção tentando incorporá-los na história de novos jeitos, como a cena dos “zumbis suicidas”. No momento, porém, o horror continua superficial em Dead City, com algumas sequências bem bobas. A cena dos personagens fugindo pelas ruas de Nova York são fracas, assim como todo aquele bloco contra o marshall – a sequência do cara sendo morto após esperar os mortos-vivos quebrarem a porta é de uma estupidez inacreditável.

Mas o que é realmente inacreditável é o início surpreendentemente bacana de The Walking Dead: Dead City. Minha falta de expectativa pode ter contribuído, mas senti uma genuína direção de Eli Jorné em criar um conteúdo de qualidade, que traz o que há de melhor em TWD ao mesmo tempo que tenta trazer novas concepções para uma franquia desgastada. Old Acquaintances sofre dos problemas que citei e também dos defeitos comuns de pilotos, que normalmente são mais lentos para poder estabelecer a trama, mas tem muita qualidade aqui. Espero que a minissérie continue nessa vibe neo-western e saiba aproveitar o cenário metropolitano de Nova York o máximo possível para o horror.

The Walking Dead: Dead City – 1X01: Old Acquaintances (EUA, 18 de junho de 2023)
Desenvolvimento: Eli Jorné
Direção: Loren Yaconelli
Roteiro: Eli Jorné
Elenco: Lauren Cohan, Jeffrey Dean Morgan, Gaius Charles, Željko Ivanek, Mahina Napoleon, Logan Kim
Duração: 62 min.

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