- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.
Não vou mentir: esqueci completamente do retorno de The Walking Dead: Daryl Dixon. Um leitor até chegou a pontuar em um comentário que o seriado estava retornando, mas apenas quando o Ritter me alertou da volta da série (pra lembrar de coisa boa, nunca né…) que me toquei que já tinham sido lançados dois episódios da nova temporada. Talvez exista uma lição aqui sobre a decadência de uma franquia que há alguns anos, eu não apenas sabia a data de volta da série, como estava preparado para assistir no dia de estreia! Para quem acompanha The Walking Dead desde antes da adaptação original, é uma pena que tenhamos chegado a esse ponto…
Mas ei, não quero começar a crítica apenas com um tom pessimista, porque o retorno de Carol (Melissa McBride) merece algum nível de otimismo. De longe uma das melhores (quiçá a melhor) personagens da franquia, a mulher mais fodástica desse universo televisivo (sim, mais do que a Michonne!) está procurando Daryl, que, como sabemos, foi parar na França. O segundo ano da série até mesmo ganhou o subtítulo de O Livro de Carol, pelo que podemos entender a relevância de sua participação na história, muito provavelmente agora como a co-protagonista originalmente pensada para o derivado. Os dois episódios iniciais da temporada são divididos em núcleos de ambos os personagens principais, com Carol em uma jornada à Europa e Daryl lidando com os eventos do ano de estreia em torno de Laurent.
Gosto de maneira razoável do núcleo de Carol. Tanto La Gentillesse des Étrangers quanto Moulin Rouge lidam com a personagem matando e enganando para chegar na França, no que rende alguns bons momentos de thriller e de violência, com destaque para o embate na Groenlândia com duas mulheres um tanto malucas, para dizer o mínimo. McBride comanda atenção e tem um carisma que Norman Reedus apenas sonha em ter, rapidamente tomando frente do protagonismo da série. Também gosto da relação e do dilema dramático entre a personagem e o gentil Ash Patel (Manish Dayal), um piloto que perdeu o filho e que tem sido manipulado por Carol para ganhar uma “carona” até a França.
Obviamente que as conveniências do roteiro em torno da viagem dos dois chega a ser risível, com tudo acontecendo com um nível de facilidade que beira o absurdo, mas dá para relevar certas coisas em prol da narrativa relativamente tensa e divertida – como é bom ver a Carol em ação -, e dos eventuais frutos desse segmento: a boa dinâmica entre Carol e Daryl, que devem se topar nos próximos episódios. Há uma possível crítica aqui sobre talvez um retorno ao status quo, com a jornada do motoqueiro alado basicamente voltando a estaca zero com o retorno de Carol, mas veremos. Gostos dos dois juntos e gosto da ideia de um conflito entre eles sobre retornar para os EUA.
Infelizmente, porém, tenho um grande problema com os dois episódios: tudo que acontece na França é muito ruim. Seguindo a toada dos episódios finais da temporada anterior, continuo achando todo o enredo aqui extremamente confuso, sem muitas explicações e razões para as diferentes facções, quais são as motivações de alguns desses personagens e qual é o sentido dos temas messiânicos em torno de Laurent. Visualmente, tudo continua belíssimo, com destaque para as sequências do castelo, mas nada aqui narrativamente ou dramaticamente chama a minha atenção, passando pelo sequestro do garoto, o retorno de Genet ou o conflito ideológico mal explicado entre os grupos que adoram Laurent.
Além disso, o uso dos zumbis continua péssimo. Consigo ver um esforço tremendo da direção em usar as criaturas para algum fim, como a sequência de Carol presa entre as prateleiras, a vinda dos zumbis na floresta (shots muito bonitos, aliás) e os mortos-vivos camuflados na Groelândia, mas nada realmente de destaque em termos de horror e suspense. São os humanos que continuam gerando bons antagonistas (adorei as duas maluquinhas que queriam procriar), mas veremos se a história na França ganha algum tipo de qualidade com a chegada de Carol. Até aqui, porém, a série é só razoável, quase ruim, em um retorno esquecível (he,he) que apenas alegra um pouquinho pela vindoura reunião de dois personagens maiores do que a própria história.
The Walking Dead: Daryl Dixon – O Livro de Carol – 2X01 e 02: La Gentillesse des Étrangers / Moulin Rouge (EUA, 2024)
Desenvolvimento: David Zabel
Direção: Greg Nicotero (1X01); Daniel Percival (1X02)
Roteiro: Shannon Goss (1X01); Keith Staskiewicz (1X02)
Elenco: Norman Reedus, Clémence Poésy, Louis Puech Scigliuzzi, Laïka Blanc-Francard, Anne Charrier, Romain Levi, Melissa McBride, Joel de la Fuente, Manish Dayal
Duração: Aprox. 50 min. cada