- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.
Assim que a batalha de Daryl com o zumbi variante acabou em dois minutos, me lembrei do comentário de um leitor profetizando isso e comecei a dar risadas. Pelo menos o roteiro encontrou uma saída para estender o bloco do gladiador por mais alguns minutos com a entrada de Quinn e de outros mortos-vivos modificados. Dos cantos do público entoando o nome do protagonista, o desafio do combatente à líder do recinto e a cravada da bandeira (com direito a câmera lenta), a produção continua tentando evocar características medievais, claro que sem muito sentido narrativo, temático ou simbólico. Mais problemático do que isso, porém, é a falta de urgência e de suspense nessas cenas indiferentes. No fim os zumbis variantes não apresentaram uma ameaça real e saem de tela tão rápido quanto apareceram.
Aliás, o episódio todo é extremamente anticlimático. A fuga de Daryl, Isabelle e Laurent do covil de Genet é atrapalhada, cheia de facilidades estranhas e com um sentimento de apatia, passando pelo sacrifício de Quinn que não tem qualquer significado dramático (o arco dele e de Isabelle é absolutamente descartável); o ataque de Laurent ao pai biológico zumbificado, em mais uma forçada de barra imensa com esse personagem mirim sem personalidade; e, claro, a estranhíssima escolha de Codron em não se vingar de Daryl após escutar uma frase de Laurent. Já disse antes e repito: estou cansado da pobreza desse roteiro em tentar dar linhas messiânicas para o garoto por conta de meia dúzia de palavras de compaixão. É subestimar demais a inteligência do espectador.
No mais, o terceiro ato do episódio é paciente, nos deixando meditar no dilema de Daryl entre voltar para os EUA ou ficar na França com sua nova “família”. Não é um encaminhamento dramático de todo ruim, reforçado com algumas belíssimas sequências de paisagem e do imponente castelo que o grupo encontrou refúgio. O cineasta Percival tenta encontrar mérito e ternura com a força de imagens e em momentos banais (Daryl brincando com o menino; os olhares entre o protagonista e Isabelle) para preencher a despedida final. A revelação de abandono do pai do protagonista e a cena no cemitério são momentos relativamente súbitos para agregar valor ao arco de Daryl, mas pelo menos há algum nível de comoção e desenvolvimento do personagem antes do final da temporada, por mais ligeiro que seja.
Obviamente que faltou uma construção ao longo da temporada para sentirmos os efeitos desses momentos com mais força, desde a despedida de Daryl até a aparição surpresa de Laurent na praia. Uso aqui de exemplo a cena da companheira de Isabelle (a jovem ex-freira), que ganha uma cena completamente descontextualizada ao se despedir do namorado. A temporada inteira é compactuada de momentos aleatórios e ideias jogadas ao vento. A guerra territorial e ideológica é outro exemplo, terminando mal explicada e sem exposição da importância de Laurent para além desse símbolo religioso.
Antes da temporada começar, li um artigo sobre como Norman Reedus afirmou em uma entrevista que a produção estava “fazendo arte”. É possível notar essa presunção dos desenvolvedores do seriado, passando pela salada temática e as diversas representações históricas que tentam compactar nos episódios, seja de caráter religioso, medieva ou revolucionário. É como se estivessem querendo fazer algo diferente, mas só jogando tudo em tela sem uma direção bem delineada. Afinal, terminamos o ano de estreia sem entender as motivações dos grupos, de qual é a relevância de Laurent nesta guerra e de quais são os debates propostos pelo subtexto da produção. Tudo parece sem significado e aleatório, o que é agravado pela falta de química e de laços entre o trio principal, tanto que fiquei completamente indiferente com a cena dos zumbis indo atrás de Laurent e um Daryl em dilema na praia. O cliffhanger de Carol é um recurso para nos deixar curiosos pela reunião da dupla, mas estou totalmente desinteressado nesse arco na França, que, além de todos esses problemas, mantém a toada da franquia nos últimos anos de oferecer um produto que subutiliza os zumbis e não trabalha suspense e horror com o devido respeito. Como sempre, temos uma nova temporada no horizonte… até lá.
The Walking Dead: Daryl Dixon – 1X06: Coming Home (EUA, 15 de outubro de 2023)
Desenvolvimento: David Zabel
Direção: Daniel Percival
Roteiro: Jason Richman, Laura Snow
Elenco: Norman Reedus, Clémence Poésy, Louis Puech Scigliuzzi, Laïka Blanc-Francard, Anne Charrier, Romain Levi, Adam Nagaitis
Duração: 54 min.