- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.
Logo no início do episódio, Daryl e companhia param em uma cidade chamada Angers, eventualmente assistindo uma bizarra orquestra de zumbis tocando Boléro. O protagonista entoa que esse foi um desvio estúpido. Bem, eu não poderia concordar mais, e vou além, o episódio todo parece um desvio estranho. Depois dessa cena, os personagens chegam numa larga comunidade que parece uma feira itinerante; visitam a antiga moradia de Isabelle; e terminam em uma boate escondida, em que o dono é Quinn, o ex-namorado da co-protagonista que vimos no flashback do episódio passado.
Como o título do episódio indica, traduzido para “Paris sempre será Paris”, existe uma ideia de homenagem à Cidade Luz que percorre as desventuras do grupo principal. Não existe nada culturalmente cativante, mas as referências parisienses estão por toda parte, das várias conversas sobre a Torre Eiffel, Isabelle falando sobre Arte e a recriação da famosa vida noturna nas baladas da capital francesa. É uma ideia… inusitada, no esforço que a produção tem feito para tentar algo diferente, mas falta direção narrativa para tornar os eventos intrigantes, para trazer substância dramática e principalmente para se criar suspense.
A sensação é de uma história arbitrária. Se nos primeiros episódios tivemos aquelas inspirações medievais, agora aqui tudo tem um pezinho no contemporâneo, principalmente no bloco da boate. A linguagem da série é aleatória, até na maneira como a jornada dos personagens não é bem delineada, porque num momento estão indo para um lugar, noutro mudam de ideia, uma hora Daryl quer um rádio, no outro quer ajudar Isabelle a pegar uma foto da irmã… sem falar que esse episódio é extremamente entediante. Até entendo o apreço por um capítulo mais intimista, mas faltam diálogos melhores e uma dramaturgia com peso para que as conversas entre Daryl e Isabelle ganhem emoção.
Ademais, estou com dificuldade para entender os arcos dos personagens. Daryl parece um visitante na aventura, fazendo o que lhe pedem e servindo como líder sempre que o perigo chega, mas não tivemos nenhum desenvolvimento que avance ou nos faça refletir os traumas e eventos passados do personagem, ou qualquer elemento que mostre algum tipo de evolução. É o mesmo Daryl de sempre. Já Isabelle é um compilado de elementos genéricos da franquia, sem muito carisma. E Laurent, bem, até agora essa metáfora de profeta escolhido não faz muito sentido e essas sugestões de que ele é especial são cafonas demais para criar algum interesse dramático na história.
Em suma, Paris Sera Toujours Paris é chato. A história não vai pra lugar nenhum, apresenta um monte de elementos e cenários aleatórios, não desenvolve os personagens e termina num cliffhanger barato com esse antagonista convencional que quer vingança – fora que a direção de ação e tensão do episódio é absolutamente horrenda, visualmente estéril, escura e com planos confusos para manter a logística das sequências, como quando começam a atirar em Daryl. A indicação de que existe um grupo fazendo experimentos em zumbis é, talvez, o melhor destaque do episódio em termos de curiosidade, mas duvido que algo verdadeiramente bem trabalhado vá sair disso. Os outros episódios não são lá muito bacanas, mas pelo menos tinham um nível de entretenimento caótico que segurava o roteiro raso, agora aqui o ritmo é cadenciado e as fragilidades da história ficam mais evidenciadas.
The Walking Dead: Daryl Dixon – 1X03: Paris Sera Toujours Paris (EUA, 17 de setembro de 2023)
Desenvolvimento: David Zabel
Direção: Tim Southam
Roteiro: Coline Abert
Elenco: Norman Reedus, Clémence Poésy, Louis Puech Scigliuzzi, Laïka Blanc-Francard, Anne Charrier, Romain Levi, Adam Nagaitis
Duração: 48 min.
