Home TVEpisódio Crítica | The Walking Dead: Daryl Dixon – 1X01: L’ame Perdue

Crítica | The Walking Dead: Daryl Dixon – 1X01: L’ame Perdue

O náufrago zumbi-religioso.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.

Depois de Maggie e Negan irem para Manhattan em Dead City, temos mais um spin-off da franquia levando um personagem famoso para um cenário remoto. Como era de se esperar após aquela propaganda safada do último episódio da série original, TWD quer expandir e trazer algum tipo de interesse e novidade para um universo que é menos interessante a cada ano que passa. Dessa vez, vemos Daryl (Norman Reedus) chegando à costa da França, um tanto perdido e sem saber onde realmente está, o que é uma surpresa considerando que o personagem terminou a série principal confiante em explorar os EUA na sua motocicleta. Nos instantes iniciais, já notamos que as coisas não deram muito certo.

Para quem gosta de caçar furos de roteiro, o episódio de estreia, L’ame Perdue (A Alma Perdida), é uma festa. A logística aqui é uma bagunça disfarçada de mistério e desculpas esfarrapadas para colocar Daryl na França sem muitas explicações. No final do episódio ganhamos um pouco de contexto de como ele terminou ali, mas nada realmente concreto com aquele grupo de antagonistas que aparecem no navio. Piratas? Colonialistas? Comerciantes marítimos? Uma nova ordem mundial? Estou até curioso com a resposta. Sem falar que ao longo do piloto conhecemos um santuário de freiras guerreiras que protegem um garoto que acreditam ser o novo messias, e que, com base em profecias, Daryl é o homem responsável por levar o garoto do ponto A ao ponto B para o menino assumir seu papel de líder religioso no pós-apocalipse. Maluquice total.

A questão é que eu meio que gostei. Toda essa vibe de um motoqueiro medieval lutando numa Cruzada como se tivesse saído da corte do Rei Artur para um universo de zumbis é uma ideia muito divertida e inusitada para uma franquia relativamente pé no chão. O fato de Daryl incorporar o clássico anti-herói estoico torna o conceito interessante em torno da personalidade do personagem, como esse andarilho vagando numa terra estranha encontrando novos problemas que quer evitar, mas que lhe darão propósito e conexão. Temas como solidão, traumas, luto e paternidade vão ser trabalhados, com certeza.

Claro que tudo parece uma cópia descarada de The Last of Us ao notarmos o encaminhamento narrativo do episódio de estreia: juntar um matador de zumbis cheio de rugas e cicatrizes com uma criança destinada. Mas não se enganem, antes de Joel e Wolverine tivemos outras histórias com esse tipo de premissa clássica ou pelo menos algo similar (alô, Bravura Indômita?). Tudo vai depender da execução, de como conseguem explorar os clichês e as convenções de uma trama que oferece poucas novidades dramáticas, ainda mais depois da bacaníssima produção da HBO. Surpreendentemente, o primeiro capítulo traz toques religiosos, brincando com a nossa percepção da mitologia desse universo que sempre prezou histórias humanas sem exageros.

Duvido muito que vamos ver temas como fé, doutrina, fanatismo ou iconoclastia sendo articulados pelo tipo de texto superficial que vem acompanhando as produções da franquia, mas pelo menos existe a oportunidade de explorar algo diferente. Estou relativamente curioso em qual caminho irão seguir, se vão chutar o pau da barraca e propor uma história fantástica/fantasiosa (poucas chances) ou se usarão o cenário religioso para desenvolver algum tipo de jornada espiritual para Daryl, o que parece ser provável. Não sei se teremos um enredo messiânico, mas certamente veremos a trajetória do homem silencioso e machucado encontrando empatia.

Meu medo é que tive os mesmos sentimentos de curiosidade e surpresa no início de Dead City, até a série começar a derrapar e finalmente colidir em chamas no desfecho da temporada. Aliás, alguns problemas da franquia se manifestam em L’ame Perdue, começando pela maneira como a produção não sabe mais como usar zumbis (eles queimam agora, mas não têm efeito no episódio para além disso); passando pela repetição narrativa com uma facção que controla determinada região e bate de frente com nossos protagonistas; e uma dificuldade imensa de equilibrar bons dramas e diálogos com uma direção de suspense. O diretor Daniel Percival é melhor com a ação, até meio inspirada em swashbuckler (típico do eixo Espanha-França-Itália), do que com tensão, onde a franquia continua tendo dificuldade de evocar suas raízes de terror.

The Walking Dead: Daryl Dixon tem tudo que imaginamos numa história solo do personagem homônimo, desde sua característica de andarilho solitário com tendências bondosas levando ele a protagonizar uma aventura, até seu estoicismo que mascara muita dor. Não sei se os roteiristas vão ter qualidade o suficiente para criar algo dramaticamente profundo em torno do personagem, mas eles se aproveitam de uma premissa batida que tem feito sucesso para criar um cenário curioso com camadas de religião na França. Confesso que, no momento, estou cínico por conta de experiências passadas, mas o episódio de estreia é agradável e inusitado dentro das limitações da franquia.

The Walking Dead: Daryl Dixon – 1X01: L’ame Perdue (EUA, 10 de setembro de 2023)
Desenvolvimento: David Zabel
Direção: Daniel Percival
Roteiro: David Zabel
Elenco: Norman Reedus, Clémence Poésy, Louis Puech Scigliuzzi, Laïka Blanc-Francard, Anne Charrier, Romain Levi, Adam Nagaitis
Duração: 60 min.

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