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Crítica | The Walking Dead – 9X08: Evolution

por Gabriel Carvalho
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  • Observação: Há spoilers do episódio e da série. Leiam, aqui, as críticas de todas as demais temporadas, dos games e das HQs. E, aqui, da série spin-offFear the Walking Dead.

O cemitério, cenário do embate climático da midseason finale da nona temporada de The Walking Dead, reveste-se de simbolismos impressionantes, que mostram o quanto a série amadureceu, ao passo que igualmente retornou às origens não apenas de si mesma, como do seu próprio sub-gênero. Um ambiente onde os mortos enterrados ainda estão mortos é invadido por mortos mais vivos do que nunca, capazes de pensar, se esquivar e sussurrar. The Walking Dead raramente abraça o horror de uma maneira tão poderosa quanto nos últimos momentos de Evolution, retornando a um conceito onde os mortos-vivos são verdadeiramente perigosos, mesmo em uma sabotagem interessante do pensamento evolutivo – mais absurdo do que os personagens da série pensam ser – comentado por Eugene (Josh McDermitt), em ótima interpretação amedrontada. A evolução que o episódio presume em sua carga é, em contrapartida, um retrocesso da civilidade almejada pelos protagonistas das últimas temporadas, pensando em uma harmonia entre comunidades que se rompe com o surgimento de um grupo antagonista que permite a subversão do que é um morto-vivo, do que é uma ameaça em um mundo de canibais e salvadores.

Os mortos que caminham. Os seres vivos revestidos de seres mortos, apresentados de uma vez por todas, é uma das proposições mais criativas de Robert Kirkman – autor dos quadrinhos -, enfim incorporada pela série de uma maneira competentemente executada, comportando-se como uma ameaça inédita e original, entre as inúmeras que já debutaram em The Walking Dead. A série, diferentemente da guerra entre comunidades de vivos, pode recorrer ao melhor que o gênero de zumbi oferece em seu estado mais cru e imaginativo. O ambiente das cenas de horror – não mais de ação – desse episódio é encoberto por uma camada de neblina espessa. Os espaços são mais claustrofóbicos, ainda mais em vista do ótimo trabalho de som – enquanto legendado, porque a mistura dos sussurros com os gemidos não é perfeita na versão dublada. Os personagens, quando encurralados, mostram verdadeiramente pavor diante do desconhecido à espreita deles. A morte de Jesus (Tom Payne), embora não possua muita carga dramática associada, é chocante nos termos da coreografia estabelecida – a esquiva seguida da facada -, quebrando completamente com o que víamos há nove temporadas nesse combate entre mortos e vivos, construindo ameaça.

O cemitério, reiterando uma pontuação estabelecida previamente, é realmente um ótimo espaço para essa conclusão de horror. The Walking Dead nunca foi tão assustador, até mesmo recorrendo a clichês do gênero – com a noite carregada de trovões -, para originar esse medo latente, presente também em demais questões do episódio. Negan (Jeffrey Dean Morgan), por exemplo, escapa da prisão. A direção dessa cena é cuidadosa para, primeiramente, novamente com o som, principiar uma curiosidade do espectador em decorrência do olhar do personagem direcionado à porta, após a sua bola de tênis, em meio a uma trivialidade, cair do outro lado das barras de metal. A justificativa para esse evento não é muito elaborada, contudo, combina com os sentimentos de culpa e raiva envolvidos no erro crasso do Padre Gabriel (Seth Gilliam) – personagem que, por sua vez, retoma alguns demônios do Negan em seu discurso, durante bons diálogos, nos questionando do homem que estava, até então, atrás das grades. O ápice de suspense alcançado é estrondoso, assim como a questão de Negan, permitindo um gancho mais empolgante do que frustante, diferentemente de outros que a série já empregou entre os seus – desnecessários – hiatos.

“A velha gangue está de volta”, debocha Tara (Alanna Masterson) diante da visita de Michonne (Danai Gurira) à Hilltop – comunidade que, com a morte de Jesus, referenciado inúmeras vezes pelo episódio, será verdadeiramente afetada. A tensão permanece com as conversas entre antigos amigos, pessoas, hoje, quase indiferentes umas as outras. Tara, por exemplo, continua com a mesma expressão facial frente a uma Michonne igualmente apática. A recepção do grupo de Alexandria em Hilltop é extremamente curiosa, no entanto, Evolution é um episódio que não quer responder nada sobre o ontem, apenas redundar a existência de um ontem. Os discursos que saem da boca de Michonne, após três episódios enigmáticos acerca do seu passado, não apresentam muita novidade, intensificando, por ora, o processo corrosivo. The Walking Dead rompe, paralelamente, com a progressão rítmica, desenvolvendo um arco que em muito remete ao progredido por Carl anteriormente na série – com a chegada em Alexandria, na quinta temporada, e os primeiros contatos com Enid. Henry (Matt Lintz) é um ótimo personagem e a série sabe retornar premissas – existentes nos quadrinhos – que aparentemente morreriam. Um respiro de juventude em um programa que se descobre e redescobre, como ferreiro ou como série de horror.

  • Aviso: The Walking Dead entra agora em hiato de final de ano, retornando dia 10 de fevereiro de 2019.

The Walking Dead – 9X08: Evolution — EUA, 25 de novembro de 2018
Showrunner: Angela Kang
Direção: David Leslie Johnson
Roteiro: Michael Satrazemis
Elenco: Norman Reedus, Danai Gurira, Calley Fleming, Melissa McBride, Josh McDermitt, Christian Serratos, Alanna Masterson, Seth Gilliam, Ross Marquand, Katelyn Nacon, Tom Payne, Khary Payton, Cooper Andrews, Matt Lintz, Traci Dinwiddie, Callan McAuliffe, Kerry Cahill, Rhys Coiro, Avi Nash, Matt Mangum, Aaron Farb, Mimi Kirkland, Briana Venskus, Mandi Christine Kerr, Jennifer Riker, Jeffrey Dean Morgan, Eleanor Matsuura, Nadia Hilker, Dan Fogler, Lauren Ridloff
Duração: 60 min.

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