- Observação: Há spoilers do episódio e da série. Leiam, aqui, as críticas de todas as demais temporadas, dos games e das HQs. E, aqui, da série spin-off, Fear the Walking Dead.
Continuação direta de The Damned, Monsters é, primeiramente, bem parecido com seu antecessor. Isso denota que The Walking Dead continuou, com o episódio desta semana, no mesmo ritmo que estava previamente, algo bem raro de se observar na temporada passada, a qual possuía grandes mudanças de tom e temática entre um episódio e outro.
Em um primeiro plano, é perceptível como Morales, que retorna após mais de 90 capítulos longe da série, é desperdiçado pelo roteiro de Matt Negrete e Channing Powell. O personagem serve como ponte para Rick, em sua jornada de redenção iniciada em Mercy, e só. A questão é que nem mesmo o diálogo entre Morales e Rick é aperfeiçoado como poderia, em, por exemplo, indicações mais pontuais nas feridas que o ex-xerife carrega. Que tal começar dizendo que muito dos homens que Rick e companhia mataram em Not Tomorrow Yet eram pais de família, e que, portanto, deixaram mulher e crianças, algo que acontecera recentemente com a própria Gracie?
O dualismo, de bem contra mal, não funciona nunca e isso Morales carrega em seu discurso, mas de forma vaga, algo que poderia ser revertido com um roteiro melhor escrito. Sem querer cobrar isso de The Walking Dead, as vezes um pouco de verborragia pode ajudar os arcos, que o showrunner quer construir, de forma mais clara. Por outro lado, Negrete e Powell acertam no silêncio entre Rick e Daryl, o qual, dada as situações nas quais os personagens interagem juntos, evidencia muito da diferença de pensamento entre os dois “heróis” que está sendo desenvolvida. Aliás, alguém pensa que Daryl ter matado aquele garoto dos Salvadores foi um ato acertado? Acredito que sim, muitos ainda devem pensar isso, dada a descrença generalizada na justiça que vivemos, mas o roteiro certamente definiu sua linha de raciocínio, e espero que permaneça com ela de forma consistente e evidente.
O ódio generalizado do público, contudo, deve estar voltado a Jesus. Atitude corajosa tomada pelos roteiristas em utilizar um dos personagens mais amados dos quadrinhos de The Walking Dead como ponto de oposição às atitudes moralmente questionáveis tomadas durante uma situação de confronto, transformando-o em uma figura mais próxima (mesmo que ainda estratosfericamente longe) do salvador cristão. Todavia, sua jornada está bem construída, observando-se apenas o que foi oferecido até agora pela oitava temporada. Desde o princípio, Jesus quer usar a Guerra Total não como um meio para a destruição de homens entre si, visando deturpadamente à paz, mas como um passo para a esperança, e nada mais esperançoso do que a retomada de valores que se perdem com o caos (e que na nossa sociedade, ironicamente, muitos já perderam) e das fagulhas da retomada de um sistema jurídico, e quem sabe a constituição um dia de um novo Estado.
Mas, lembrem-se, Jesus não é nenhum Morgan. Jesus mata, possuindo, porém, limites que esbarram em suas concepções de certo e errado. Já Morgan está perdido em sua loucura, mas, graças a Lennie James e um bom monólogo, recebe um tratamento adequado. A luta entre os dois personagens é um dos pontos altos do episódio, rendendo um momento divertido, de entretenimento puro. Aliás, as cenas de ação deste episódio estão melhores que as dos episódios passados, com a utilização dos zumbis de forma mais original – a cena dos mortos rolando é engenhosa – e uma sensação de perigo mais presente – escassez de munição é abordada pela primeira vez na temporada durante o bom momento team-up entre Daryl e Rick.
Igualmente a esses núcleos, somos levados a testemunhar os últimos momentos de Eric com seu marido Aaron. A cena entre os dois, infelizmente, acaba ficando mais piegas que deveria, e Ross Marquand não convence diante da perda daquele que ama. Ademais, a própria explicação para Aaron sair de perto de Eric enquanto o homem sangrava como um porco é falha. Como se os combatentes precisassem dele na zona de guerra, ou como se Aaron seria facilmente convencido a abandonar seu amado em tal situação de apreensão. A boa interpretação, curta, mas sentida, de Jordan Woods-Robinson (que nunca teve o tempo de tela que poderia ter tido), além da atenção dada ao roteiro em não tornar a morte do personagem tão irrelevante quanto seria na teoria são aspectos dignos de nota.
Finalmente, chegamos a conclusão da narrativa sobre o sorriso constante de Ezekiel, com o Rei finalmente prestes a perder sua primeira batalha. É interessante como o roteiro, e a própria direção de Greg Nicotero, utilizam primeiramente o personagem e o que acontece com seu povo como consolidantes do otimismo do Rei, para então desconstruir tudo abruptamente. “Não perderemos nenhum soldado” é uma frase de efeito que surpreendentemente funciona, visto que Khary Phaton está bem, e mais tarde ainda transmite um desespero latente em seu olhar.
Portanto, tendo em vista os argumentos supracitados, Monsters é uma boa continuação do que antes fora apresentado em The Damned, possuindo falhas pontuais que acabam não desestabilizando o episódio e o discurso que quer preferir. Ainda contando com uma participação mais cômica do ótimo Xander Barkeley, o capítulo prepara terreno para futuros acontecimentos, como Gracie, a bebê que perdera o pai, indo parar nas mãos de Aaron e o futuro que aguarda tanto os prisioneiros de Jesus quanto os Salvadores do posto de Gavin. A pergunta que não quer calar, no entanto, é: O que reserva o destino para o nosso querido Tobin?
The Walking Dead – 8X03: Monsters — EUA, 5 de novembro de 2017
Showrunner: Scott M. Gimple
Direção: Greg Nicotero
Roteiro: Matt Negrete e Channing Powell
Elenco: Andrew Lincoln, Norman Reedus, Lauren Cohan, Chandler Riggs, Danai Gurira, Melissa McBride, Lennie James, Josh McDermitt, Christian Serratos, Alanna Masterson, Seth Gilliam, Ross Marquand, Jordan Woods-Robinson, Katelyn Nacon, Kenric Green, Jason Douglas, Tom Payne, Xander Berkeley, R. Keith Harris, Khary Payton, Cooper Andrews, Austin Amelio, Christine Evangelista, Steven Ogg, Debora May, Sydney Park, Mimi Kirkland, Briana Venskus, Nicole Barré, Pollyanna McIntosh, Juan Pareja, Dahlia Legault, Kerry Cahill, Jeremy Palko, Brett Gentile, Jeffrey Dean Morgan
Duração: 44 min.