- Observação: Há spoilers do episódio e da série. Leiam a crítica de todas as demais temporadas, dos games e das HQs, aqui. E da série spin-off, Fear the Walking Dead, aqui.
Estamos no quinto episódio da sétima temporada e a escolha narrativa de Scott M. Gimple, apesar de problemas com repetições temáticas e uma exposição talvez exagerada dos Salvadores e de Negan, encontrou um bom equilíbrio. Afinal, diferente dos “cinco-minutos-por-núcleo” que vem irritantemente marcando Game of Thrones, o showrunner elegeu dedicar um episódio por grupo, o que permite desenvolvimento e clareza de propósito. Mas mesmo essa estrutura já vinha pesando e Go Getters consegue ser um saudável meio termo que, espero, seja o mote daqui para a frente.
Com o primeiro episódio Negan-cêntrico, marcando a triunfal entrada do vilão no universo de The Walking Dead, tivemos o segundo inteiramente focado em outros personagens marcantes, o Rei Ezequiel e sua tigresa digital Shiva. No terceiro, foi a vez do QG dos Salvadores e da alimentação canina de Daryl e, finalmente, no quarto, voltamos à Alexandria para ouvir um interminável discurso de Negan sobre como ele é o maior de todos, o chefão, o bam-bam-bam. Era óbvio, portanto, que Hilltop seria o próximo grupo a receber atenção de Gimple.
Mas, deixando de lado o risco de fazer o episódio parecer uma repetição light do anterior, vemos um pouco de Alexandria também, com Rick partindo para procurar alimentos e outras “oferendas” para os Salvadores, iniciando o ciclo semanal imposto por Negan e sua carinhosa Lucille. Já nesses primeiros minutos vemos e sentimos o descontentamento e a rebeldia de Carl que mostra uma coragem irresponsável ao encarar uma missão suicida, usando Enid como um meio para alcançar seu fim e, no processo, criando momentos genuinamente belos e descontraídos entre os dois que culminam com o primeiro beijo deles, beijo esse que também pode ser o último.
Com isso, apesar de Hilltop ser realmente o centro das atenções, a narrativa ganha camadas que primeiro preparam Carl para o que parece ser uma tentativa egoísta de assassinato de Negan e, em seguida, Enid, para formar uma trinca girl power com Maggie e Sasha a caminho de destronar o irritante Gregory de sua posição de liderança do vilarejo fortificado. Falando em Gregory, o ótimo Xander Berkeley volta para seu caricato papel, lembrando-nos do quão desprezível é o personagem que quase entrega Maggie e Sasha para Simon (Steven Ogg), ou melhor, Negan 2 e, no processo, para nossa alegria, perde toda sua bebida.
Mas a grande volta mesmo é a do ninja Jesus (Tom Payne) personagem que, apesar de ser interessantíssimo, havia desaparecido completamente da história há tempos. Parece, porém, que sua presença passará a ser cada vez mais importante, pois ele mostra a que veio ao defender Maggie e Sasha com unhas e dentes e ao bandear-se completamente para o lado delas ao final, planejando colocar a futura mamãe encabeçando Hilltop.
O que fica evidente é a formação de um pequeno “grupo de elite” sob as barbas dos dirigentes das duas comunidades vizinhas. Gregory e Rick parecem não ter ideia que Rosita, Eugene e Michonne, de um lado, e Maggie, Sasha, Jesus e Carl (e possivelmente Daryl), de outro, estão razoavelmente juntos no propósito de derrubar o Macho Alfa Negan de seu Olimpo do Bullying. Quando (pois não é uma questão de “se”) Ezequiel e o Reino se juntarem à essa equação, a insurreição estará completa e provavelmente, com isso, teremos uma guerra em futuro próximo. O melhor é que Gimple parece estar fugindo do óbvio e fazendo algo “de baixo para cima”, pervertendo as expectativas de que planos salvadores precisam vir dos líderes. Com Rick aparentemente fora de combate pelo momento, os peões estão se movendo no tabuleiro à sua revelia, o que pode gerar histórias muito interessantes como a que provavelmente será no caso de Carl e Jesus a caminho da fortaleza dos Salvadores.
No entanto, Go Getters tem aquele inevitável ar de episódio preparatório. Ele é sim necessário e marcadamente superior ao monótono e repetitivo anterior, mas não deixa de ser uma espécie de rearrumação do tabuleiro para fazer o jogo andar em breve. Se espremermos a essência, não sai muito dali além do que descrevi acima, já que Finlandia aos berros no carro blindado (o detalhe do dedo metálico foi sensacional!) como prelúdio para a chegada de Negan 2 pode até ter sido um momento interessante em si, mas ele foi tão telegrafado para ser usado como a ponte para liderança de Maggie que foi inevitável rolar os olhos na sequência que não trouxe nenhuma tensão. E o dia seguinte, confesso que o bullying de Gregory por Negan 2 deixou-me preocupado por potencialmente ser uma repetição da semana passada. Felizmente, porém, ainda que o episódio tenha dedicado tempo demais para a situação, ela foi indolor e, narrativamente, ajudou na derrocada de Gregory.
Go Getters colocou as peças em seus respectivos lugares e nos apresentou aos demais jogadores equilibrando a narrativa em diferentes grupos com natural mais peso a Hilltop. Agora é aguardar para ver como Gimple jogará os dados e movimentará suas peças.
The Walking Dead – 7X05: Go Getters (EUA, 20 de novembro 2016)
Showrunner: Scott M. Gimple
Direção: Darnell Martin
Roteiro: Channing Powell
Elenco: Andrew Lincoln, Norman Reedus, Lauren Cohan, Chandler Riggs, Danai Gurira, Melissa McBride, Lennie James, Sonequa Martin-Green, Josh McDermitt, Christian Serratos, Alanna Masterson, Seth Gilliam, Alexandra Breckenridge, Ross Marquand, Austin Nichols, Tovah Feldshuh, Michael Traynor, Jordan Woods-Robinson, Katelyn Nacon, Corey Hawkins, Kenric Green, Ethan Embry, Jason Douglas, Tom Payne, Xander Berkeley, Jeffrey Dean Morgan, Khary Payton, Steven Ogg
Duração: 45 min.