- Observação: Há spoilers do episódio e da série. Leiam a crítica de todas as demais temporadas, dos games e das HQs, aqui.
Era óbvio que Scott M. Gimple tinha que deixar um cliffhanger ao final de Start to Finish, mas o que ele fez foi decepcionante. Sim, finalmente tivemos a primeira menção a Negan na cena pós-creditos para deixar os fãs dos quadrinhos em polvorosa, mas a questão não é essa e sim toda a estrutura do que ele mostrou nos 43 minutos anteriores.
Iniciando com um prelúdio que cria uma excelente atmosfera de medo, impotência e destruição com a utilização de formigas e um biscoito sendo devorado no quarto de Sam (repararam nos bonequinhos de Invencível, outra série em quadrinhos de Robert Kirkman?), o episódio, escrito por Matthew Negrete nos mostra novamente a torre caindo e o muro de Alexandria sendo destruído, com os zumbis esfomeados finalmente entrando no paraíso. No entanto, toda essa excelente construção se perde quando os personagens (praticamente só o grupo original de Rick, pois o resto da população foi, aparentemente, teletransportada para a Enterprise) são divididos em núcleos e os diversos conflitos se estabelecem.
A divisão em si até soa natural, pois é, literalmente, um “cada um por si” quando o muro cai, mas o que o roteiro constrói soa dolorosamente como enrolação, filler do começo ao fim, usando Deanna mordida como a pedra de toque dramática. Confesso que minha opinião seria diferente se este fosse o penúltimo episódio antes do midseason finale, pois ele é bem dirigido, com momentos razoavelmente tensos, especialmente a luta entre Carl e Ron e, claro, toda a situação envolvendo Carol, Morgan, Denise e o Lobo ferido e amarrado.
A grande questão, no entanto, é que Gimple não encerra sua eletrizante narrativa, aquela que ele iniciou lá atrás em First Time Again. Muito ao contrário, o episódio é apenas mais um seguindo esse mesmo caminho, esse mesmo torpor que acometeu a temporada a partir de Now e por isso ele desaponta fortemente. No lugar de acabar com algo que efetivamente tenha significado, Gimple apenas interrompe sua história com a gangue central caminhando cheirosa pelo meio dos mortos-vivos, em um plano que tem tudo, absolutamente tudo para dar errado ao ponto de eu ter genuinamente me espantado dele ter vindo da cabeça de Rick. Há tantas variáveis ali – Judith pode chorar, Sam pode dar ataque histérico, Ron pode surtar novamente e Gabriel por dar chilique – que chega a ser tragicômico.
E, dessa forma, Gimple tira de seus espectadores a satisfação de algum tipo de encerramento, de algum tipo de acontecimento realmente importante que nos permita dizer, sem hesitação, que valeu a pena amargar três episódios mornos (para alguns quatro) na espera. E não, a morte procrastinada de Deanna realmente não conta, por ela não agregar nada diferente à série, nada que já não tenha sido deixado sobejamente claro em todos os momentos em que ela apareceu nessa meia temporada. Lógico que, em termos de atuação, Tovah Feldshuh merece aplausos, não só pela transformação física pela qual passou ao longo de suas aparições, como por sua capacidade de transmitir desespero, raiva, resignação, esperança e saudades (vejo muitas saudades no rosto dessa atriz, algo raro de se conseguir convincentemente), sempre de maneira elegante e firme. Será uma atriz que fará falta com certeza.
Foi bom ver Carl tomando uma atitude forte em relação a Ron, desarmando-o e chamando seu falecido pai exatamente daquilo que ele era: babaca. Foi um momento interessante, ainda que estranhamente deslocado e apressado por se passar no meio do ataque de zumbis à cada onde eles estavam. Mas funcionou apropriadamente, não mais do que isso.
Outro momento que meu deu esperanças de ver algo realmente diferente foi quando Carol finge estar passando mal (confesso que fui enganado!) somente para, na primeira oportunidade, descer para liquidar o Lobo aprisionado. E, quando achava que o episódio surpreenderia, eis que o duelo entre “Paz e Amor” e “Guerra e Ódio” foi anticlimático ao ponto de até depor contra a personagem de Melissa McBride. Claro que o Lobo se aproveita da situação e, mesmo com a chegada um tanto mágica de Tara, Rosita e Eugene (cuja utilidade narrativa aparentemente se limita a abrir fechaduras com um clipe), leva Denise como refém em uma sequência que dá raiva de tão patética.
Acho que, no final das contas, Gimple queria mesmo era mostrar a seu público que, na próxima metade, lidará com a ameaça de Negan e, para isso, fez uma sequência pós-créditos que até diverte, mas novamente parece que o showrunner está ludibriando os espectadores. Primeiro, muita gente não tem a remota ideia de quem é Negan (e não explicarei aqui, para não dar spoilers dos quadrinhos) e, segundo, todos os que sabiam de Negan já tinham mais do que certeza de que ele apareceria em breve, especialmente depois do grupo que vimos somente da cintura para baixo em Always Accountable. Não era necessário mencionar o nome de Negan e, ao fazer isso, pareceu um “truque sujo” de Gimple.
Sem resolver nada e com um roteiro fragmentado, com poucos momentos realmente bons, o midseason finale desaponta quase que completamente levando ladeira abaixo todo o fantástico começo da 6ª temporada. Agora só nos resta torcer para que, ao final da temporada completa lá no ano que vem, essa memória ruim da primeira metade seja dissipada pela promessa de “bons momentos” com Negan e sua turma.
The Walking Dead – 6X08: Start to Finish (EUA, 2015)
Showrunner: Scott M. Gimple
Direção: Michael E. Satrazemis
Roteiro: Matthew Negrete
Elenco: Andrew Lincoln, Norman Reedus, Steven Yeun, Lauren Cohan, Chandler Riggs, Danai Gurira, Melissa McBride, Michael Cudlitz, Lennie James, Sonequa Martin-Green, Josh McDermitt, Christian Serratos, Alanna Masterson, Seth Gilliam, Alexandra Breckenridge, Ross Marquand, Austin Nichols, Tovah Feldshuh, Michael Traynor, Jordan Woods-Robinson, Katelyn Nacon, Corey Hawkins, Kenric Green, Ethan Embry, Jason Douglas
Duração: 43 min.