- SPOILERS do episódio e da série. Leiam aqui as críticas das demais temporadas, games e HQs. E aqui, as críticas de Fear the Walking Dead.
Dado o gancho desesperador e intenso de What Lies Ahead com Carl (Chandler Riggs) tomando um tiro do nada, é de se esperar que o episódio seguinte da segunda temporada apresentasse o desenvolvimento dessa problemática com uma intensidade parecida. E esse, não é exatamente o caso de Bloodletting, ainda que exista a urgência e o episódio siga os passos da season premiere ao que diz respeito ao acúmulo de conflitos, desta vez, a situação de Carl, diferente da de Sofia (Madison Lintz), aparenta unir os corpos conflitantes com um objetivo de introduzir o núcleo ambiente da temporada, no caso, a fazenda. Numa primeira assistida, existe a preocupação se a gravidade do ferimento do Carl levará a sua morte, contudo, a série, nessa época tão bem montada, já aponta um direcionamento, ao fazer um belíssimo espelhamento na cena inicial com Carl recebendo a notícia de seu pai baleado, cortando para Rick (Andrew Lincoln) correndo desesperado com o filho aos seus braços em direção ao socorro, o que indicava que os fins das duas situações possivelmente também seriam espelhados.
Lembremos, a última cena do episódio anterior não contextualiza o que aconteceu. No episódio, só minutos depois sabemos que o caçador atirou sem vê-lo, acertando o cervo e ele. Até descobrir ser um acidente, existe uma tensão imensa em saber se Carl está vivo ou não, tal como, saber como a dupla presente na hora, Shane (Jon Bernthal) e Rick, além do resto grupo iriam reagir posteriormente a situação. Ambas as premissas, são inicialmente estabilizadas com alguma tranquilidade. Carl está vivo, aquelas pessoas novas introduzidas da fazenda são boas e vão querer ajudar e o indicativo de culpa será segurado na dúvida de haver uma fatalidade, porque o que mais importa no momento, é salvar a vida do garoto dos estilhaços de bala dentro do seu corpo. O episódio foca muito na perspectiva impotente do Rick a situação, no qual, seu intérprete Andrew Lincoln dá um show a parte, numa das muitas performances brilhantes ao longo da temporada. A maneira como ele reage progressivamente a situação do filho, acentuando fisicamente o desequilíbrio emocional, acumulando também o desgaste de está doando o sangue para ele viver, é extremamente comovente.
Tão comovente, que resgata um pouco – aparentemente – a personalidade antiga de seu amigo Shane, disposto a assumir outras responsabilidades, como participar de uma missão de ida a uma cidade próxima em busca de material para procedimento cirúrgico, além de ajudar a convencer Rick de que ele precisa ficar para dar suporte ao filho. Talvez seja o último episódio que vai realmente vai valorizar essa relação de irmandade entre os dois sem a presença do conflito amargado de Lori (Sarah Wayne Callies), pelo menos, não diretamente. Fica claro em determinado momento que Shane menciona Lori, a amargura que carrega, mas engole seco em prol de ajudar o companheiro desesperado. A humanização do momento é fundamental para os desdobramentos da continuidade do conflito, principalmente em termos motivacionais a Shane. Tanto que a chancela para o gancho do episódio é com ele numa outra situação desesperadora, em que na referida missão feita com Otis (Pruitt Taylor Vince) – aquele quem baleou Carl e se dispôs a missão pelo fardo –, ambos ficam cercados de zumbis, num beco sem saída.
Interessante notar como fisicamente os zumbis se comportam nesse momento da série. Por ter lapsos de memorias humanas, eles definitivamente são mais velozes do que a versão clássica lenta, embora, a tensão com eles parte muito do acúmulo de muitos num mesmo e apertado local, do que pela velocidade do ataque. Há outra cena com walkers no núcleo em busca de Sofia, só para cumprir uma cota de aparição, mas como sempre nesse início, bem encaixada na narrativa, sendo a ponte para a introdução de Maggie (Lauren Cohan), como uma personagem forte. Ela aparecendo para salvar Andrea (Laurie Holden) em cima da hora do ataque zumbi, montada em um cavalo com um taco de beisebol é uma ótima cena. Rapidamente ela avisa aos demais integrantes sobre a fazenda e sobre o problema que mais interessa no momento: salvar Carl, levando Lori consigo. Fica a cargo de Daryl (Norman Reedus) continuar a busca por Sofia, ele que era o único ali confiante de que independente de hoje ou outro dia, eles iriam encontrá-la. Para esse episódio o caráter secundário e otimista que essa problemática ganha é um tanto abrupto, mas como dito na minha crítica anterior, é um otimismo e desapego proposital para quando a confirmação vier.
Ademais, vale destacar o núcleo de T-Dog (Irone Singleton), confirmando a vulnerabilidade dos personagens em âmbito realista, aquele corte do episódio anterior vem gerando uma infecção crítica ao personagem. Sua situação, em menor proporção é também desesperadora. É algo mais sutil, onde ele também está tão imponente com o mundo ao redor (a cena da poltrona de bebê) e consequentemente em como ele se posiciona diante aquilo, que cogita a Dale (Jeffrey DeMunn) em os dois fugirem dali enquanto a tempo. Uma fala não para propor um novo conflito, mas como um desabafo dramaticamente bem efetivo. No fim das contas, é bem legal como ironicamente Daryl é quem o salva ao oferecer seus antibióticos, logo ele, o irmão do caipira que havia deixado inicialmente desconfortável, um pequeno lapso de conforto ao episódio. No geral, Bloodletting é esse tipo de episódio de respiro, até para balancear o clima de maior pessimismo do anterior, desenvolvendo seus personagens de forma humana durante um progresso que sabe se reinventar apresentando novos problemas interessantes.
The Walking Dead – 2X02: Bloodletting | EUA, 25 de Outubro de 2011
Diretor: Ernest Dickerson
Roteiro: Glen Mazzara, Angela Kang
Elenco: Andrew Lincoln, Jon Bernthal, Sarah Wayne Callies, Laurie Holden, Jeffrey DeMunn, Steven Yeun, Chandler Riggs, Norman Reedus, Melissa McBride, Irone Singleton, Lauren Cohan, Pruitt Taylor Vince, Emily Kinney, Scott Wilson, Jane McNeill, Kelley Davis, James Allen McCune, Deja Dee, Amy Cain
Duração: 41 minutos