- SPOILERS do episódio e da série. Leiam aqui as críticas das demais temporadas, games e HQs. E aqui, as críticas de Fear the Walking Dead.
Hunted me lembrou um pouco o episódio Walk With Us da décima temporada, que tinha tudo para ser espetacular pelos eventos a acontecer, mas faltou boas escolhas para desdenhar os caminhos deles numa execução competente. Uma dessas escolhas é a mesmíssima daquele episódio, no caso, elipsar a ação que ocorreria depois do gancho final para um mero resumão, jogando a trama para um outro lado, teoricamente menos interessante. Nesse caso, não incomoda tanto quanto foi no outro, que descartou a grandiosa “Batalha de Hilltop” para cinco minutos de câmera lenta vazia e consequências já mostradas. Aqui, além da batalha contra os Reapers não ser nem perto de um evento principal da temporada, rende pelo menos, uma primeira cena muito boa, por mais curta que seja.
A câmera na mão acompanhando o grupo sendo encurralado pelos psicóticos, com personagens relevantes como o Padre Gabriel (Seth Gilliam) e Auden (Callan McAuliffe) sendo feridos, vários figurantes mortos até – confirmando aquilo que tinha dito sobre os parceiros da Maggie (Lauren Cohan), nenhum seria realmente aprofundado, só seriam visualmente bonitos para esta batalha, que nem aconteceu… –, numa continuidade coerente ao clima de vulnerabilidade anteriormente instaurado. Acontece que a premissa do pós isso, que consta em uma perseguição de caçada – dando o título ao capítulo –, em nenhum momento prossegue a intensidade dessa primeira sequência. A direção de Frederick E.O. Toye, também novo nas câmeras da série, é blazer. Desinteressada em sobrepor urgência ao jogo de gato e rato entre as comunidades, voltando a pontos que já haviam sido consolidados de modo genérico. O arco de Negan (Jeffrey Dean Morgan) e Maggie tinha avançado, mas parece que aqui volta para o mesmo prisma, tamanha é a pouca destreza do diretor em filmar os monólogos conflitantes entre os dois de maneira progressiva.
Parece as conversas de Acheron, mas sem o mesmo tesão, sendo que eles se entenderam dentro de um aspecto subentendido de espelhamento da tipificação de liderança. Falando nela, cadê a Maggie super carrancuda e sanguinária do episódio passado? Ela basicamente se ver no mesmo dilema que estava Home Sweet Home, ao se deparar com seus companheiros sendo mortos e separados novamente. Algo válido, mas que tinha que ter mais escopo, com ela sendo responsável por isso de alguma forma mais direta. Poder-se-ia, ao mostrar a batalha inicial na integra com os Reappers, em que ela bolou algum plano de enfrentamento momentâneo que deu errado, a fazendo novamente ter essa virada sentimental mais sensível, que também poderia se conectar a difusão de suas interações com o Negan. Só que o episódio mais uma vez escolhe ser demasiadamente econômico, deixando vários dos personagens de fora, focando-se única e exclusivamente nela, Negan, Auden e outros dois que morrem – Agatha (Laurie Fortier) e Duncan (Marcus Lewis) – de maneira pouco impactante.
E sim, dava para fazer algo mais impactante mesmo sendo personagens terciários e descartáveis e temos como parâmetro Gage (Jackson Page) do episódio passado. Davam para ter repetido o tratamento dele, com a mesma sensibilidade para todos os outros membros da Maggie que tinham de morrer neste capítulo, já como uma forma de tentar descontruir e desarmar a nova Maggie fria e desumana apresentada anteriormente. Nem que usassem o clichê do salvamento como forma de novo apaziguamento. Quer dizer, isso acontece. Negan salva Maggie, mas nem isso dá em nada. Ou muda nada da posição retroativa aderida por ela. E quando coloco retroativa, inclui o pensamento de perder um longo período do episódio para ela decidir largar ou não Auden em algum canto e seguir na missão. Se fosse alguém que ela tivesse uma conexão mais próxima, beleza. Mas o Auden? Tentam por ali o dialogozinho dele falando ser pai para conectar com a maternidade de Maggie, mas é algo tão frouxo para colocar em indecisão, uma escolha fim das contas foi a óbvia e poderia ter sido feita sem rodeios para dar enfoque a perseguição que nem se resolve aqui.
Ao menos o outro núcleo de Hunted é melhor. Focado em Magna (Nadia Hilker), Kelly (Angel Theory), Rosita (Christian Serratos) – até que enfim deram algo para essa mulher fazer – e Carol (Melissa McBride) versão sofredora – de novo – para caçarem os cavalos que fugiram de Alexandria e que eles estavam precisando para locomoção. Parece e não deixa de ser, pelo pouco avanço prático da história, uma enrolação, mas se subverte como útil quando um dos cavalos é sacrificado para virar alimento ao grupo. Uma virada sutil, mas inesperada o suficiente para ser comovente, principalmente diante de um contraste com o tom naturalista e esperançoso das cenas no bosque os caçando. É bom ver um pouco de Magna e Kelly sendo exploradas – faltou o Luke (Dan Folger) aparecer também no episódio. Diante do pouco entregue no outro núcleo, até preferia ver um episódio inteiro focado neste para dar relevância a essas personagens ao nível que Yumiko (Eleanor Matsuura) está tendo.
No mínimo, se fosse para ter essa fragmentação de dois núcleos incompletos, que o outro terminasse em gancho com alguém encontrando Connie (Lauren Ridloff), para entrelaçar com esse pouco desenvolvimento bem puxado para o emocional do episódio. Como não foi, me pergunto se este núcleo não poderia ter dado lugar a um filler bem mais interessante que aquele Diverged com a Carol que saiu igualzinha daquele episódio, com a diferença de ser não ser um sofrimento repetido pelo Daryl (Norman Reedus), além de mais genuíno pela questão da fome na comunidade. A melhor parte de Hunted nesse sentido foi ver as crianças interagindo. É impagável e ao mesmo tempo sensível ver Judith (Cailey Fleming), Hershel (Kien Michael Spiller) e Rick Jr. (Antony Azor) conversando em como os adultos mentem para eles dizendo que está tudo bem para tentar tranquilizá-los, sendo que eles já são bem maduros para entender como realmente funciona a vida em apocalipse e sofreram maus bocados nele. Perderam uma oportunidade de ouro de realmente explorá-las para além de figurações simbólicas e não sei se terão outras chances para fazer isso direito tão próximo do fim.
Sei bem que o quanto disse sobre a décima primeira temporada estar promissora com os dois primeiros episódios e não anulo o que disse. Vejo Hunted como um erro de percurso. Mais do que isso, um erro de execução particular, que pode reaparecer durante os restantes vinte e quatro episódios da temporada, mas o importante é não prejudicar o prosseguimento de potencial contínuo. Na última cena, reparem como a câmera foca no pé de cabra ensanguentado de Negan, onde tudo ao redor está desfocado, menos a Maggie. Corta e o plano seguinte, que fecha o episódio, é dos dois se distanciando com uma cruz ao lado direito da imagem. Seria uma sugestão subliminar? Mesmo se não for, há uma intenção de ser e perante a próximo episódio que colocaram os dois para sobreviverem em dupla um dependendo do outro, nossa expectativa é alçada de novo para cima. Reforça a casca da temporada em estar disposta a se arriscar, mas obvio, nem todos os riscos vão ser certeiros.
The Walking Dead – 11X03: Hunted | EUA, 5 de Setembro de 2021
Diretor: Frederick E.O. Toye
Roteiro: Vivian Tse
Elenco: Norman Reedus, Melissa McBride, Lauren Cohan, Christian Serratos, Seth Gilliam, Ross Marquand, Callan McAuliffe, Jeffrey Dean Morgan, Nadia Hilker, Cailey Fleming, Angel Theory, Laurie Fortier, Glenn Stanton, Okea Eme-Akwari, James Devoti, Anabelle Holloway, Antony Azor, Kien Michael Spiller, Marcus Lewis, Hans Christopher
Duração: 42 minutos