Home TVEpisódio Crítica | The Walking Dead – 10X06: Bonds

Crítica | The Walking Dead – 10X06: Bonds

por Gabriel Carvalho
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“Ele era fraco.”

  • Observação: Há spoilers do episódio e da série. Leiam, aqui, as críticas de todas as demais temporadas, dos games e das HQs. E, aqui, da série spin-offFear the Walking Dead.

Em ocasiões passadas, o enfoque em menores escopos, como nos arcos narrativos de certos personagens, acompanhava também um esvaziamento do motor de The Walking Dead. Na sua temporada de número dez, no entanto, até mesmo as tramas relacionadas aos personagens mais “insignificantes” participam da construção geral do enredo e, consequentemente, do suspense que marca a obra. Quer seja na exploração da comunicação em rádio – um atalho ao roteiro que está sendo bem aproveitado pelos roteiristas -, quer seja na recordação de eventos trágicos recentes, cada pequeno passo dado pela temporada transforma-se em um grande salto para o todo. Nesse caso, os limites que separam os personagens – tanto os territoriais quanto os emocionais – mantém-se como seu assunto primordial, em meio a um episódio que parece não avançar muito, mas cruza parte das fronteiras imaginárias que existem entre as pessoas. Ora, a cena conclusiva trata justamente do personagem que um dia colocara quase o elenco inteiro da série de joelhos curvando-se à nova antagonista. Mesmo não sendo tão explícitas, as mudanças estão presentes.

Numa piada que marca isso, Siddiq (Avi Nash) pede para Dante (Juan Javier Cardenas) respeitar os seus limites, após o outro personagem – interpretado de uma maneira extremamente carismática pelo seu ator – fazer um comentário inconveniente. O bom texto permanece sendo uma das qualidades principais do comando de Angela Kang, que assumiu a série em sua nona temporada. Daryl (Norman Reedus), por exemplo, em uma conversa com Carol (Melissa McBride), mostra sua insegurança perante uma possibilidade de aproximar-se a Connie. Com essa, as interações soam orgânicas, ao passo que, num ritmo certeiro, avançam a trama – a qual, agora, contará com a dupla na posse de um Sussurrador mantido como refém. O confronto com esse grupo macabro é, por uma grande margem, mais instigante que a enfadonha Guerra Total do passado. Com as peças se movendo, os dramas sendo explorados, e o enredo aprimorado, o perigo, porém, cresce.

Enquanto os protagonistas planejam um contra-ataque aos Sussurradores, os antagonistas continuam a reprimir as suas comunidades – com as manadas de zumbi, por exemplo, que Carol e Daryl observam. Logo, por mais que sejam claras para nós as intenções ambíguas de Negan (Jeffrey Dean Morgan) – que, reiterando o tema central, cruza os limites territoriais impostos para se unir aos mascarados -, na visão dos inimigos ele é uma possível arma. Como o próprio comenta, Negan poderia ajudar os Sussurradores ao fornecer informações acerca da “sua” comunidade – e parece que Alpha (Samantha Morton) e os demais antagonistas cairão nesse truque barato. O episódio, no caso, prepara uma prova de fogo para o personagem, que tem seus momentos mais cômicos acontecendo por causa das dinâmicas entre o ex-antagonista e Beta (Ryan Hurst), essencialmente antagônicos. Há exagero nessa vertente no decorrer do capítulo, ao ponto dos Sussurradores serem um tanto menosprezados enquanto ameaça, mas, ao menos, a imponência de Negan revela-se. Dentro deste grupo, contudo, o maior problema que surge não é realmente a chegada de Negan, mas a sugestão de que a organização social deles será rompida. No encerramento do episódio, Beta é quase um namorado enciumado – o que o capítulo instiga numa cena rápida entre ele e Alpha.

Fora isso, as consequências mais graves dos planos dos Sussurradores começam a surgir, aumentando o escopo narrativo que essa temporada possui – não apenas, no caso, uma guerra boba de ataque e resposta. Em Alexandria, os espectadores mais leais à série se recordarão da epidemia que aconteceu na quarta temporada, ocupando a primeira metade daquele ano como sua trama principal.

Como sabemos as causas do adoecimento geral dos moradores de Alexandria – a contaminação da água pelos Sussurradores -, o nosso temor pelas suas vidas se agrava e, inerentemente, pelas possíveis consequências de suas mortes. Para impulsionar a gama de valor dramático presente nessa trama, no mais, o roteiro consegue costurar bem tal questão com a crise mental de Siddiq. Em vista de justo Rosita (Christian Serratos) ser uma das pessoas contaminadas, a extensão de impasses se expande, por conta da mulher ter tido um caso com o personagem e até mesmo uma criança. Quando o médico apaga, o peso dramático se encontra nele estar segurando o bebê – ao passo que a crise se agrava.

Une-se a isso, em paralelo, a amizade de Rosita com Eugene (Josh McDermitt), que possui uma conversa simpática com ela pelo rádio, de certa maneira reatando a dupla após uma situação anterior, em que a mulher apontara ao cientista que nunca ficaria com ele. Diante dessa interação, portanto, o episódio promove um espaço natural para Eugene caminhar para novos lugares. Quiçá o passo mais pro futuro da temporada seja relacionado a ele, que se comunica com uma pessoa misteriosa pelo rádio, em um misto de curiosidade e também química. De maneira organizada, assim sendo, The Walking Dead encontra espaço para vários personagens, usufruídos por meio de um enredo que torna seus arcos construídos coesos entre si.

The Walking Dead – 10X06: Bonds — EUA, 10 de novembro de 2019
Showrunner: Angela Kang
Direção: Dan Liu
Roteiro: Kevin Deiboldt
Elenco: Norman Reedus, Melissa McBride, Jeffrey Dean Morgan, Avi Nash, Christian Serratos, Josh McDermitt, Samantha Morton, Ryan Hurst, Juan Javier Cardenas
Duração: 45 min.

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