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Crítica | The Umbrella Academy – 4ª Temporada

Mais um apocalipse, menos criatividade.

por Kevin Rick
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Após o desfecho da terceira temporada, temos um salto temporal no quarto ano, em que acompanhamos a família Umbrella seis anos depois de redefinir o universo. Sem poderes e numa linha alternativa que a Academia não existe, os irmãos passam os anos vivendo vidas normais (dentro do limite para eles), numa premissa que lembra um pouco a segunda temporada, em que os personagens foram “obrigados” a criarem novos laços e a se autodescobrirem em um novo ambiente quando foram espalhados para diferentes períodos temporais.

Obviamente que a grande diferença dessa temporada final é o espaço de tempo, com os personagens criando toda uma vida diferente do que conhecíamos antes. Ben (Justin H. Min, na versão “malvada” da temporada anterior) é um ex-prisioneiro; Luther (Tom Hopper) é um stripper; Allison (Emmy Raver-Lampman) é uma atriz, vivendo junto de sua filha e com Klaus (Robert Sheehan), que agora é um germafóbico sóbrio; Viktor (Elliot Page) dirige seu próprio bar; Cinco (Aidan Gallagher) é um agente da CIA; e Diego (David Castañeda) e Lila (Ritu Arya) vivem uma vida suburbana ordinária, casados e com filhos. É uma pena que esses desenvolvimentos aconteçam majoritariamente em elipse, mas pelo menos há um intuito dos roteiristas em reformular algumas ideias, mudar interações e mexer nos arcos dos personagens.

No entanto, não se enganem, a fórmula narrativa da série é mantida na temporada final, com mais um apocalipse em frente dos Hargreeves, que precisam salvar o mundo uma quarta vez enquanto continuam batendo cabeça entre eles mesmos. Confesso que o território familiar da premissa não me desagrada, já que gosto das outras temporadas, numa opinião que muito se assemelha com as críticas do meu colega Luiz Santiago. Infelizmente, porém, o novo apocalipse é, de longe, o pior da produção, com uma saga final mal desenvolvida. Somos basicamente jogados em uma história aleatória envolvendo uma garota chamada Jennifer (Victoria Sawal), que consumiu uma substância chamada durango que, em contato com a calêndula (partículas de energia responsáveis pelos poderes dos irmãos), pode acarretar o fim do mundo.

Nada é exatamente explicado ou desenvolvido ao longo da temporada. Não entendemos a origem de Jennifer, a razão de existir do durango, nem porque o contato com a calêndula gera essa reação em cadeia. Adiciona-se a isso diversos conceitos aleatórios, como o fato de, após o toque, Ben conseguir “rastrear” Jennifer, ou então a linha narrativa de Cinco descobrindo realidades paralelas, e temos um conjunto de ideias jogadas na narrativa de qualquer jeito, pouco se integrando ou sequer fazendo sentido dentro da lógica interna da série (que já era bagunçada), tampouco agregando algo para a mitologia do universo. Não é nem só um problema de conveniências, mas de preguiça mesmo, como se tudo tivesse sendo feito às pressas.

O menor número de episódios enfatiza esse atropelo narrativo, sendo essa a primeira temporada da série com menos de dez episódios (apenas seis). Curiosamente, um problema recorrente da série é o número de subtramas e crônicas esparsas que atrapalham a linha principal, o que, em tese, numa temporada mais curta, deveria ser melhorado, mas o que vemos é exatamente o oposto. Essa temporada tem alguns dos piores núcleos separados da história principal, como a trama horrenda de Klaus se tornando um medium escravo (tudo aquilo é, no máximo, um alívio cômico bobo), ou a grosseira história “romântica” entre Cinco e Lila, que tem serventia apenas para criar um atrito entre os irmãos no finalzinho da temporada. Até ganhamos um arco inicialmente interessante com o casal psicopata de Gene e Jean (vividos por Nick Offerman e Megan Mullally, casados na vida real, que reprisam aqui um pouco da ótima química que tinham em Parks and Recreation), mas a trama sobre um grupo de fanáticos que defendem o fim do mundo acaba tendo pouco impacto (para não dizer nenhum, já que basicamente serviram apenas para ficarem de “guardas” de Ben e Jennifer).

A sensação que a temporada passa é a de que os roteiristas não sabiam o que fazer com os personagens. Luther fica flutuando pelos eventos sem fazer praticamente nada para além de ser uma saída ruim de humor, com seu personagem ficando ainda mais bobão como stripper e um constante palerma nas interações do grupo, enquanto Alisson existe apenas para contrariar todo mundo e se manter como um fio de irritação. Viktor tem seus momentos de raiva com seu pai, mas nada realmente concreto é trabalhado aqui, já essa versão do Ben passa a temporada inteira se misturando (literalmente) com Jennifer, sem nenhuma razão aparente e sem nenhum tipo de conclusão satisfatória (finalmente descobrimos sua morte original, que acaba sendo mais um degrau de conveniência para a saga do que uma grande revelação). Em suma, nenhum Hargreeve ganha algum tipo de desenvolvimento dramático notável.

Para piorar ainda mais a temporada, o investimento da Netflix é claramente menor nesse último ano, resultando em um trabalho técnico muito inferior aos anos anteriores, tantos em termos de efeitos especiais, escopo das cenas de ação ou construção de cenários. Inclusive, os Hargreeves ganham algumas atualizações em seus poderes, mas nada bem usado de maneira prática. Ainda dá para perceber o aspecto excêntrico e esquisito na direção de arte, mas é, sem dúvida nenhuma, a temporada com o lado visual mais ruim. A direção também parece limitada e menos criativa, principalmente nos momentos de frenesi, basicamente se contentando com um nível maior de gore para esconder o trabalho bastante protocolar por trás das câmeras. A batalha final é pífia, com um monstro mal digitalizado ficando maior e maior à medida que os personagens o atacam.

Bem, depois de de quatro temporadas, é uma pena que The Umbrella Academy termine numa nota tão decepcionante. A série nunca foi realmente espetacular, mas teve seus momentos de personalidade visual, construção de um universo interessante e, principalmente, da apresentação de bons personagens. São eles que, em poucos momentos ao longo da temporada, mantêm algum nível de interesse na história, especialmente nos seus momentos disfuncionais e interações cômicas. Tudo o que acontece ao redor deles e com seus arcos, porém, é decadente, em uma saga final apressada, com muitos desvios ruins e ideias aleatórias de um roteiro que grita falta de interesse, como se a produção estivesse caminhando para uma morte lenta. Nesse sentido, o sacrifício final dos nossos heróis é agridoce e sem impacto, já que o apocalipse em si não tem urgência, sentido ou escopo, tampouco realmente entendemos a razão dos personagens terem que morrer, muito menos que tiveram uma conclusão individual ou como equipe minimamente satisfatória. Uma pena, o seriado, os personagens e os fãs mereciam mais.

The Umbrella Academy – Season 4 (EUA, 08 de agosto de 2024)
Direção: Jeremy Webb, Paco Cabezas, Neville Kidd
Roteiro: Steve Blackman, Molly Nussbaum, Robert Askins, Jesse McKeown, Aeryn Michelle Williams, Elizabeth Padden, Lauren Otero, Thomas Page McBee, Andrew Raab, Christopher High
Elenco: Elliot Page, Tom Hopper, Emmy Raver-Lampman, David Castañeda, Robert Sheehan, Aidan Gallagher, Colm Feore, Justin H. Min, Ritu Arya, David Cross, Nick Offerman, Megan Mullally, Martin Roach, Liisa Repo-Martell, Victoria Sawal, Zack Binder, Millie Davis, George Tchortov, Jessica Greco
Duração: 06 episódios (c. 50 min. cada um)

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