Home QuadrinhosEm Andamento Crítica | The Ultimates (2024) #1

Crítica | The Ultimates (2024) #1

Operação secreta: criar heróis.

por Kevin Rick
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Eu gosto de caracterizar o Universo Ultimate da Marvel Comics como a “Vertigo” da editora, uma vez que essa linha de quadrinhos se distancia das continuidades, dos tie-ins e, basicamente, de toda a restrição de liberdade criativa do universo compartilhado. Obviamente que ideias básicas de mitologia são mantidas, mas o universo Ultimate foi uma bela resposta da Marvel para leitores querendo algo diferente. Depois de alguns anos fora dos holofotes pós-Guerras Secretas, o Universo Ultimate é reintroduzido no catálogo da Marvel com a Terra-6160, em um cenário super heroico alterado pelo Criador, o Reed Richards maligno da Terra-1610. Em linhas gerais, o vilão fez mudanças temporais que não deixaram os Vingadores e outros heróis surgirem nesse universo.

A premissa é confusa, mas com efeitos temáticos interessantes, abrindo espaço para discussões sobre destino, legado e responsabilidade. Vemos um pouco disso logo no início da edição, quando Iron Lad (um jovem Tony Stark) e Doutor Destino (uma versão sombria de Reed Richards) criam um plano para voltarem no tempo e darem poderes às versões homólogas do heróis da Terra-616, o que obviamente dá errado, ao passo que um recém descongelado Capitão América esclarece que uma revolução nasce de ideais, não de poderes presenteados.

Existe algo interessante em torno desse encaminhamento narrativo: tornar essa nova linha dos Ultimates em uma história sobre insurgentes, o que indica possíveis escolhas imorais e um tipo de trama diferente do que estamos acostumados. Inclusive, quando o primeiro plano de Stark e Reed não dá certo, eles optam por uma abordagem pessoal, em que informam aos “recrutados” seus potenciais da Terra-616, o que abre algumas possibilidades dramáticas intrigantes sobre celebração dos personagens da Marvel e também sobre o inverso, algo muito bem desenvolvido aqui com Hank Pym. Quando essa versão do Homem-Formiga descobre toda a trajetória no mínimo complicada do Pym do universo principal (de herói a abusador de mulheres e a psicopata em muitos momentos), o personagem se pergunta se deve assumir o manto.

Penso que será interessante acompanhar essa dinâmica psicológica dos personagens tentando copiar os bons feitos dos heróis que conhecemos ao passo que tentam evitar seus erros, especialmente os mais moralmente ambíguos. No antigo Universo Ultimate, quase todos os personagens eram mais babacas e cínicos, então esse tipo de perspectiva pode gerar arcos interessantes para essas versões dos heróis, possivelmente caminhando entre o heroísmo e a revolução, entre algo familiar e algo totalmente diferente. Penso que é um bom equilíbrio para o tipo de proposta densa dessa linha alternativa, algo que vemos bem trabalhado visualmente na arte de Juan Frigeri e cores de Federico Blee, priorizando uma diagramação mais realista e em menor escala, e tons escuros e frios (principalmente azul e cinza), em uma equipe que parece mais S.H.I.E.L.D. do que Vingadores, se me entendem.

Minha grande crítica à edição é sobre o roteiro protocolar de Deniz Camp. Inicialmente, até li a edição com Jonathan Hickman em mente, inclusive achando estranho a falta dos ótimos painéis explicativos do autor, mas depois me dei conta de que na verdade é o novato Camp o encarregado pela história. Obviamente que é notável o dedo de Hickman no desenvolvimento narrativo, uma vez que ele é o arquiteto da nova linha Ultimate, mas Camp não tem a mesma engenhosidade do autor, montando uma edição expositiva, de certa forma confusa em suas diversas explicações temporais e focada demais em diálogos entre Stark e Reed.

Entendo o caráter introdutório da obra e a tarefa de Camp em expandir o que vimos em Ultimate Homem-Aranha (2024) e outras séries da nova linha, mas falta um pouco de entusiasmo em uma edição explicativa além da conta e que até nos poucos momentos de agitação (temos uma batalha com um Capitão Britânia do mal) não impressiona. Talvez a falta da presença de um bom antagonista tenha impactado a edição negativamente, o que certamente irá mudar quando o Criador aparecer, de longe um dos melhores vilões modernos da Marvel. Mesmo com as críticas, mantenho um certo otimismo para futuras edições. A premissa é boa, as ideias narrativas também, e agora a apresentação e o contexto foram delineados. Que venham os Vingadores revolucionários!

The Ultimates #1 – EUA, 2024
Roteiro: Deniz Camp
Arte: Juan Frigeri
Cores: Federico Blee
Letras: Travis Lanham
Editora: Marvel Comics
Data original de publicação: 05 de junho de 2024
Páginas: 44

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