Chegando no meio da temporada, minha preocupação com esse revival só aumenta. Ainda que os primeiros episódios tenham sido competentes o suficiente para me deixar interessado, nada até agora justificou a necessidade para essa série. Não que toda produção precise de um motivo para existir, mas se você traz algo tão icônico quanto Além de Imaginação de volta, não é uma boa notícia quando outras séries em formato antológico inspiradas na sua acabam sendo mais relevantes. Tirando o sucesso de Black Mirror, ainda temos Eletric Dreams, que adapta as obras literárias de Philip K. Dick para uma série no mesmo molde e conseguiu ter uma identidade própria. É uma pena ver o potencial desperdiçado até agora. Eu considerei o episódio passado, A Traveler, o episódio mais fraco até o momento, e foi, mas só por uma semana, porque infelizmente The Wunderkind não brinca em serviço e acaba sendo ainda pior.
Raff Hanks (John Cho) é um gerente de campanha que afoga as mágoas depois de perder o que considerava ser uma eleição garantida. Para se levantar novamente, decide apoiar Oliver Foley (Jacob Tremblay), uma criança que está fazendo um sucesso com seus vídeos na internet e diz estar pronto para concorrer como presidente dos Estados Unidos. Sua atitude positiva e despretensiosa conquista o público e ele se torna um forte candidato. Hanks talvez tenha ido longe demais com a sua ideia, mas talvez também seja tarde demais para resolver isso.
A proposta do episódio é simples, mas a forma de lidar com o tema é um desastre. The Wunderkind é um claro comentário sobre o poder da mídia e a manipulação da massa através de sua insatisfação com o governo. Essa é uma sátira que pode ser abordada de maneira inteligente e aproveitar cada elemento para construir uma narrativa única, mas nada disso acontece. Além de ficarmos com uma trama fraca e repetitiva, o episódio não consegue sequer estabelecer um tom apropriado, oscilando entre humor e drama, sem se destacar em qualquer um dos dois. Se por um lado podemos rir do pequeno presidente pegando um telefone e brincando sobre bombardear a Rússia, do outro temos um bando de adultos questionando sua decisão. Estamos falando de uma série onde o absurdo é a regra, mas o desespero por fazer um paralelo com a administração de Donald Trump faz com que a série caia em sua própria armadilha, achando que está sendo mais esperta do que é. Um exemplo disso é a grande reviravolta final, que pode ser facilmente prevista através dos diálogos mal escritos e as sequências desnecessárias do protagonista em um futuro próximo. Há maneiras mais inteligentes de construir uma narrativa, e nenhuma delas pode ser vista aqui.
Mais uma vez a série desperdiça um elenco muito bom. John Cho, capaz de interpretações muito mais contidas e convincentes, aqui é um personagem caricato e sem carisma. O pior de tudo é que isso é o oposto da proposta do episódio, que tenta o estabelecer como alguém tentando convencer as pessoas com seus argumentos e influência. Jacob Trembley escapa dessa e consegue uma performance mais solta e cativante, indo de criança alegre e inocente para um líder mimado e intimidador. Ele funciona, mas o mundo em volta não é bem construído ou divertido o suficiente para que ele possa ser bem explorado, então compartilhamos a sensação de insatisfação do personagem. É tudo uma grande analogia sobre o atual governo dos EUA, mas é apenas isso, sem explorar ou desenvolver a trama para que não pareça uma das milhares de paródias feitas por outras séries. Além da Imaginação perde totalmente sua identidade aqui, e não é por ser um episódio político (a série sempre abordou isso) mas por não usar seu formato para se diferenciar. Se assistirmos episódios como The Waldo Moment, de Black Mirror, encontra-se muito mais coragem e originalidade na abordagem de todos os temas de The Wunderkind, sem contar um equilíbrio bem melhor entre comédia e drama.
Espero ansioso para o verdadeiro retorno triunfal de Além da Imaginação. Este último episódio não só me decepcionou por conta de todas as oportunidades perdidas mas por esquecer que o público não precisa que todos os pensamentos dos personagens sejam verbalizados ou repetidos constantemente para que entendamos. É uma pena ver um série como essa virar uma paródia de si mesma, sem saber aonde ir e tentando demais ser moderna e corajosa, mas sem atitude alguma. Pelo menos a música da campanha de Oliver é chiclete o suficiente para ser a única coisa na sua cabeça sobre esse episódio depois de um tempo.
Além da Imaginação (The Twilight Zone) – 1X05: The Wunderkind (EUA, 25 de Abril de 2019)
Direção: Richard Shepard
Roteiro: Andrew Guest
Elenco: John Cho, Jacob Tremblay, Allison Tolman, Michael Patrick Denis, Shawn Ahmed, Jordan Peele
Duração: 40 min.