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Crítica | The Titan (2018)

por Luiz Santiago
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A pré-produção de The Titan começou em meados de 2015, com algumas substituições de estúdios e distribuidoras ao longo do processo, levando as filmagens a começarem apenas em janeiro de 2016. A obra nos traz, essencialmente, uma história de amor que se passa no já alertado futuro do planeta Terra, com recursos naturais esgotados, poluição tendo destruído boa parte da natureza, superpopulação incrementando a miséria e a proliferação de doenças e, no topo de tudo, guerras, armas químicas e contaminação radioativa cumprindo o seu papel na extinção do homem, tudo agindo como o “Lado B” do “progresso da Civilização humana” e como resposta natural aos grupos negacionistas em relação ao aceleramento da degradação do planeta pelas mãos do homem.

Mas o texto apresenta uma alternativa. Tom Wilkinson vive o Professor Martin Collingwood, que dirige um programa cujo objetivo é preparar humanos com bastante resistência a situações extremas para serem “adaptados e melhorados”. Isso possibilitaria a colonização de Titã, o maior satélite natural de Saturno e o segundo maior de todo o Sistema Solar. Em pouco tempo, o espectador entende a força de discussão bioética, de gigantescos avanços da medicina e sua pesquisa em humanos, tudo para “o bem da humanidade”, claro. Em dado momento da história, as experiências nazistas pautadas por tamanha desumanidade são citadas, e não é à toa que isso acontece. Há bastante espaço para discutir essa questão, assim como um bom início do roteiro ao apresentar um ponto de vista no mínimo curioso sobre a colonização de um lugar fora da Terra.

Mas é com o avanço dos testes nos personagens que percebemos algo estranho. E os mesmos motivos dramáticos interessantes do início do filme simplesmente desaparecem e dão lugar a uma abordagem gore de pouco ou nenhum sentido para a história. E este é um dos grandes incômodos do roteiro de Max Hurwitz e Arash Amel. Há muita coisa séria nas entrelinhas, há um potencial enorme para dois lados distintos de possibilidade dramática (a pesquisa e experiência em humanos e a ficção científica relacionada à colonização de Titã), mas o texto vai constantemente trocando de núcleo e de tom, assim como de proposta científica, que é o que faz a obra realmente descarrilar. De nada adiantam, portanto, as boas cenas de efeitos de transformação, a boa maquiagem e as máscaras.

Para um espectador que lida bem com justificativas absurdas que podem ser eficientemente usadas em prol de todo um projeto fílmico, a questão do “melhoramento humano” apresentada pelo roteiro, na primeira parte, não será um problema. Isso, em essência — embora não nessa escala — vem sido feito com a nossa espécie ao longo de todo o século XX, não sendo exatamente uma novidade, vide o aumento de nossa expectativa de vida ao longo dos anos. Mas uma coisa é você melhorar um humano. Outra coisa é fazer uma espécie surgir do nada… em poucas semanas.

Essa transformação e o destino final que o filme dá aos transformados é muito difícil de engolir. Parece que a proposta inteira da obra, junto com as exigências de suspensão da descrença, transformam-se a cada porção de cenas, sobrando de bom apenas a relação entre Rick (Sam Worthington), sua esposa Abi (Taylor Schilling) e o filho Lucas (Noah Jupe), talvez a única parte consistente de todo o roteiro. E o problema principal, ao contrário do que disseram alguns críticos americanos, não é o elenco. O elenco não está abaixo do que a obra exige deles. O roteiro é básico. Não existem profundos mergulhos dramatúrgicos no processo, logo, o que vemos de cada um está adequado aos seus personagens e ao enredo do qual fazem parte.

O problema mesmo é que não há foco para esses indivíduos e as poucas cenas de estabelecimento de um bom drama são cortadas abruptamente para darem lugar a algo menos interessante, a ponto de chegarmos ao final com uma tensão épica, a estranha colocação do tal Homo Titanus em seu habitat e… fim. Notem que mesmo nesse processo, o roteiro resolve coisas demais em elipse, a montagem paralela simplesmente não funciona e a trilha sonora dá um recado que o filme não sustentava já há muito tempo. A cereja mal colocada do bolo vem com o tal “voo” do Titanus no final, não dando nada para o espetador além de um riso de vergonha e um profundo ar de indiferença. Difícil aceitar tudo isso. Como já dizia Mc Loma, e com razão, escama… só de peixe.

The Titan (Reuni Unido, Espanha, EUA, 2018)
Direção: Lennart Ruff
Roteiro: Max Hurwitz, Arash Amel
Elenco: Sam Worthington, Taylor Schilling, Tom Wilkinson, Agyness Deyn, Nathalie Emmanuel, Corey Johnson, Aleksandar Jovanovic, Aaron Heffernan, Nathalie Poza, Steven Cree, Diego Boneta, Alex Lanipekun, Noah Jupe, Naomi Battrick, Ben Aldridge
Duração: 97 min.

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