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Crítica | The Tax Collector

por Ritter Fan
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Quando um filme encerra sua produção em 2018 e só encontra distribuição dois anos depois unicamente em vídeo sob demanda e, mesmo assim, em meio a uma pandemia, o espectador já tem todos os sinais necessários para precaver-se. Afinal, se nem os produtores de Hollywood, acostumados com bombas, mexeram-se para colocar o longa no cinema, a notícia simplesmente não pode ser boa.

Esse é exatamente o caso de The Tax Collector, a mais nova tentativa – extremamente falha – de David Ayer de mostrar que ainda consegue dirigir bons filmes, algo que, claro, deveria começar com um bom roteiro, algo que ele também escreveu e, novamente, errou feio. O longa, porém, tem uma grande vantagem sobre atrocidades semelhantes como The Last Days of American Crime: sua duração é modesta, fazendo-nos perder apenas 95 minutos da vida, mesmo que esses 95 minutos pareçam levar 195 para passar…

A principal razão para essa sensação de lerdeza é que Ayer passa quase a metade de seu filme ensinando detalhes da operação capitaneada por David (Bobby Soto) e seu braço direito e guarda-costas Creeper (Shia LaBeouf) como se houvesse alguma coisa complicada ou particularmente diferente nela. A dupla simplesmente coleta dinheiro de “proteção” de todos os negócios – legais e ilegais – de seu território em Los Angeles, algo que mesmo os mais inexperientes cinéfilos já viram dezenas e dezenas de vezes. E o mais divertido – uso o adjetivo de forma sarcástica, só para deixar claro – é que Ayer acha que está ao mesmo tempo construindo e desenvolvendo seus personagens, enquanto que tudo o que ele consegue fazer, e mesmo assim com algum esforço, é sacramentar estereótipos rasteiros e arriscar diálogos que, na cabeça dele, deveriam ser marcantes.

Como determina todo clichê de filme de gângster, Bobby é o “bandido bonzinho”, religioso e dedicado à sua família e Creeper é o durão estranho que só é minimamente interessante porque é vivido por LaBeouf de cavanhaque, terno, óculos escuros e cara de mau. A rotina dos dois vai por água abaixo quando Conejo (Jose Conejo Martin), um mafioso mexicano, entra na vida deles querendo tomar o território, resultando na violência sanguinária usual. Aliás, minto. Não é nada usual, pois “usual” significa no mínimo algo divertido, mesmo que rasteiro. O que Ayer entrega é, na verdade, completamente sem graça, com tiroteios que são borrões na tela, torturas com câmera tremida e uma ação climática que é tão facilmente executada pelo protagonista que ela termina por demolir toda a pretensa construção do bandido como o cara mais invencível do mundo, o que significa passar por rituais satânicos com direito a sacrifícios humanos e, claro, aquele banho de sangue refrescante.

Mas o amontoado de clichês e estereótipos poderia resultar em algo até passável (bom seria pedir demais), pois a mera existência deles em um filme, como não me canso de dizer, não é uma sentença condenatória. A questão é que Ayer não consegue fazer nada verdadeiramente bem. De seus atores não extrai nada que não sejam carrancas que não permitem qualquer variação emocional que diferencie raiva de amor ou tristeza, algo que é particularmente evidente na atuação de Soto. Sua direção é, nos seus melhores momentos, burocrática, com uma decupagem paupérrima que leva a outro problema grave: a montagem. Diferente de outros filmes de ação, a questão não é nem de longe cortes de milissegundos ou o frenesi ininteligível de um Michael Bay da vida. Em The Tax Collector, a montagem de Geoffrey O’Brien é um curioso personagem com vida própria que jamais consegue manter coesa a estrutura de uma sequência com uma boa quantidade de cortes.

Os melhores exemplo disso são justamente as cenas em que os personagens estão apenas conversando. Repare na convocação de Bobby e Creeper para uma conversa com Conejo como cada corte desobedece a lógica direcional dos olhares dos personagens. Muitos dirão que isso é bobagem, outros que é estilo, mas tenho para mim que é a boa e velha incompetência manifestando-se de maneira assustadora nesse filme que realmente deveria ter ficado em algum porão escuro da produtora, sem nunca ver a luz do dia.

O que fica, ao final de 95 minutos, é aquela sensação vazia e frustrante de que só dava mesmo para ser pior se a duração dessa bobagem fosse maior. David Ayer precisa urgentemente ou se aposentar ou voltar à faculdade de cinema para relembrar o que um dia, mesmo que muito brevemente, conseguiu ser, a não ser que sua intenção com The Tax Collector tenha sido fazer um apanhado daquilo que não se deve fazer em um longa-metragem.

The Tax Collector (EUA – 07 de agosto de 2020)
Direção: David Ayer
Roteiro: David Ayer
Elenco: Bobby Soto, Shia LaBeouf, Cinthya Carmona, George Lopez, Jay Reeves, Lana Parrilla, Chelsea Rendon, Gabriela Flores, Elpidia Carrillo, Jose Conejo Martin, Brian Ortega, Brendan Schaub, Jimmy Smits
Duração: 95 min.

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