Atenção: A crítica a seguir só deve ser lida por quem vem acompanhando as publicações do Homem-Aranha nos Estados Unidos ou não se importa com SPOILERS dos acontecimentos anteriores, ainda não publicados no Brasil.
Estava preparado para vir aqui e escrever que os fãs do Homem-Aranha que torceram o nariz para a mais recente transformação na vida de Peter Parker e não param de reclamar em blogs e sites pelo mundo cibernético são uns chatos de galochas que deveriam tentar apreciar as histórias por sua narrativa e desenhos e não por jogadas de marketing para atrair novos leitores e sacudir o status quo. Juro que queria isso, mas Dan Slott, responsável por fazer com que a mente de Otto Octavius (o Dr. Octopus) fosse transportada do corpo moribundo do vilão para o corpo de Peter Parker e subsequentemente fazendo com que ele tomasse a identidade heróica do Aranha, não me deixou.
O cara simplesmente chutou o balde no primeiro número de The Superior Spider-Man e cria uma história absolutamente patética que tenta fazer mímica das narrativas mais simplistas do Aranha, mas sem o menor charme e misturando elementos que já foram mais do que explorados na persona do herói. Para começar, temos o título: “Herói ou Ameaça?”. Ha, ha. Fazendo troça com os tempos que em que J. Jonah Jameson enchia a paciência do Aranha, não é Dan Slott? Ah, e o primeiro grupo de vilões que o mudado herói enfrenta é uma versão completamente alterada do Sexteto Sinistro. Legal, não é?
Não, não é. De jeito nenhum. Nem de longe. Mesmo.
Não me entendam mal. Eu comecei aqui dizendo que esperava fazer troça dos fãs que se descabelam por mais um mudança radical na vida do aracnídeo amigo da vizinha. Afinal, todo mundo sabe que o Aranha não será Otto Octavius para sempre, não é mesmo? Se ninguém morre de verdade no universo Marvel (com exceção do Tio Ben), é mais do que óbvio que tudo voltará a ser como antes rapidinho, antes que consigamos dizer em voz alta “Dan Slott não sabe mais escrever”. Assim, não havia espaço para ficar choramigando. Ao contrário, a mudança para um Peter Parker mais sacana, grosso e violento poderia muito bem ser trabalhado de maneira interessante e criativa e isso renderia talvez um ano de histórias divertidas.
Só que, se nada mudar, teremos um ano de histórias bossais. E o problema é que Slott escreve o novo Aranha da mesma maneira que o antigo Aranha. Ele continua fazendo piadinhas infames quando luta. Continua apanhando primeiro e depois vencendo. A única diferença – e que vai cansar em breve – é que Octavius começa a armar o Aranha com gadgets para ter vantagem nas lutas e levar menos pancada (e nem isso é original, convenhamos!).
E o novo Sexteto Sinistro? Com raras e honrosas exceções (Dr. Octopus, Duende Verde, Kraven, Venom e talvez o Lagarto), a galeria de vilões do Aranha sempre foi meio idiota. Mas o adjetivo ganha outro significado sob a caneta de Slott: vira sinônimo de ridículo, patético, além de dar vergonha alheia. Vemos sujeitos nulos como Bumerangue, Shocker, Overdrive, Cérebro Vivo, uma versão feminina do Besouro e Speed Demon formando uma pálida versão do que um dia foi o Sexteto Sinistro original. Octavius tem vergonha deles. Eu tive vergonha deles. Mais comentários são completamente desnecessários.
A trama? Uau, inteligentíssima! O Sexteto Palha… digo, Sinistro está roubando peças para montar alguma coisa não revelada e o Aranha tem que impedir. No primeiro encontro ele leva um sacode, mas, no segundo, Octavius está mais do que preparado para eles. Aliás, bota preparado nisso. Chega a ser engraçado o exagero.
E o finalzinho, minha gente? Bem, esse eu não vou contar, mas devo dizer que, já no primeiro número, Slott reconhece a sandice do que fez e torna tudo mais, humm, vamos ver… espiritual. Sim, essa é a palavra certa!
A arte de Ryan Stegman agrada, com traços mais rústicos e belos movimentos nas cenas de ação, além de uma teia que é cópia da clássica teia de Todd McFarlane, mais grossa e com nós. Além disso, o uniforme vermelho e preto do Aranha funciona muito bem, graças as cores mudas de Edgar Delgado. No entanto, infelizmente, a narrativa primária de Dan Slott tira todo o brilho da arte.
O próximo número será bom? Tenho certeza que não.
Alguém bem que podia trocar o cérebro de Slott pelo do Bendis…