- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série.
Mortality Paradox é um belo exemplo de como o formato episódico em séries é tão interessante quanto inconsistente. Depois do genérico Shadow Realms da semana passada, seria fácil a trajetória da temporada se perder, mas como não estamos acompanhando uma narrativa sequencial no sentido mais comum do termo, casos como este acontecem, onde temos uma ótima história sete dias após um capítulo medíocre. Na aventura da vez, a tripulação do Orville decide investigar uma atividade incomum de Kaylon após informações detectadas por Keyali em suas férias. Quando os personagens encontram sinais de uma civilização avançada em um planeta estéril, Mercer, Grayson, Malloy, Bortus e Keyali decidem averiguar a situação em terra firme, levando-os para situações estranhas.
Como habitual, temos inspirações de Star Trek na história, com uma espécie alienígena avançada fazendo a humanidade passar por testes e julgamentos, à la os embates entre Q e Picard, mas sem a mesma, digamos, vilania. No entanto, existe muita dúvida e mistério percorrendo a aventura, com a produção jogando diversos cenários bizarros em direção aos tripulantes, lembrando episódios de outra famosa obra da ficção científica: Twilight Zone. Os segmentos têm uma repetição meio chatinha com os personagens sofrendo uma espécie de “vazio mental” durante experiências de quase-morte, mas Mortality Paradox é pura criatividade.
John Cassar se diverte bastante com a pegada fora da caixinha do episódio, produzindo momentos com toques de horror, como a sequência com a criatura aquática que parece ter saído da mitologia lovecraftiana ou então a cena das escadarias que é puro surrealismo, e também com uma linguagem que beira elementos cômicos, como o período escolar com Malloy sofrendo bullying e enfrentando um valentão monstruoso. O cineasta é acompanhado por uma trilha sonora eficientemente sinistra para ditar a atmosfera enigmática da história, e também por ótimos efeitos especiais e direção de arte, especialmente na belíssima sequência da praia.
Em suma, tanto nos conceitos visuais engenhosos quanto no roteiro incógnito, Mortality Paradox se mostra uma produção bem clássica de ficção científica, afinal, poucas coisas são tão irresistíveis no gênero quanto mistério. Além da composição de cenários, o texto também é inteligente no uso de reviravoltas e pequenas pistas para manter o espectador curioso pela resposta dos acontecimentos em tela. A solução acaba sendo seu típico Deus Ex Machina um tantinho insatisfatório, mas o momento traz camadas filosóficas, metafísicas e espirituais bem interessantes de se refletir e discutir, todas envoltas por temas como mortalidade e evolução.
O desfecho na mesa, porém, quebra um pouco a experiência para mim, com o capitão Mercer verbalizando as discussões da história sem nenhuma necessidade – odeio textos óbvios e expositivos que duvidam da inteligência interpretativa do público. Mas, no cômputo geral, Mortality Paradox é um mix bem bacana de drama e filosofia num cenário de ficção científica misteriosa. É notável que MacFarlane está apostando em aventuras dramáticas, por mais que as cenas escolares tenham um pouquinho de humor. É interessante que a paródia tenha se tornado escanteada no seriado, o que, para bem ou para mal, rende ótimos episódios como este, e outros genéricos como Shadow Realms, que se beneficiaria da comédia satírica do showrunner. Eu acredito que MacFarlane poderia prezar mais pelo equilíbrio, mas, bem, vejamos como New Horizons se desenvolve.
The Orville – 3X03: Mortality Paradox — EUA, 16 de junho de 2022
Direção: John Cassar
Roteiro: Cherry Chevapravatdumrong
Elenco: Seth MacFarlane, Adrianne Palicki, Penny Johnson Jerald, Scott Grimes, Peter Macon, J. Lee, Mark Jackson, Chad L. Coleman, Will Sasso, Mike Henry, Chris Johnson, Anne Winters
Duração: 65 min.
