- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série.
Se Electric Sheep abre a temporada dando conclusão a conflitos da temporada passada, o segundo episódio deste ano, Shadow Realms, efetivamente dita o tom dos novos horizontes da produção. Na primeira missão da recente empreitada, a tripulação está indo negociar com a espécie alienígena dos Krill para que a União possa atravessar livremente o território espacial dos antigos inimigos, dando à Orville a chance de explorar sistemas e planetas desconhecidos. Para mediar o acordo, o Almirante Paul Christie está a bordo da nave, também animado com a aventura, além de se conectar com sua antiga paixão: a doutora Claire Finn. No entanto, nem tudo são flores, pois Mercer e companhia decidem explorar uma região espacial que os Krill consideram perigosa, inclusive alertando a tripulação de “demônios sugadores de alma”. Como esperado, as coisas dão errado.
Eu realmente gosto do conceito por trás de Shadow Realms. Temos um cenário de exploração do desconhecido, sempre uma experiência tão perigosa quanto curiosa, situando-nos da pegada de descoberta espacial que o subtítulo da temporada insinua. Poucas coisas são tão divertidas quanto aventuras de ficção científica, dando a oportunidade para os roteiristas da série mergulharem no gênero e na mitologia do universo de The Orville. Novamente, o tom do episódio se distancia da sátira e da comédia, aproximando-se de elementos dramáticos e um contexto sombrio.
A história é mais uma vez inspirada em titãs sci-fis, passando pela franquia Alien e chegando em Jornada nas Estrelas: A Nova Geração (inclusive com participação de Brannon Braga, roteirista responsável por muitas histórias da série de ST). A ideia é misturar um pouco de horror visto nos filmes dos Xenomorfos com situações clássicas do universo de Roddenberry, como um inimigo dentro da nave, um vírus se espalhando pela tripulação e conflitos humanos no meio disso, com destaque dramático para o antigo romance entre Claire e Paul. Parece a receita para um bom episódio, certo?
Bem, nem tanto. Apesar de conceitualmente bacana, o episódio em si não tem boa execução, seja do texto ou da direção. Os problemas começam com algumas escolhas estúpidas para estabelecer o contágio do inimigo, com uma equipe entrando numa nave desconhecida sem qualquer tipo de proteção e, logo depois, deixando de monitorar um membro infectado em plena transformação. Suspensão de descrença é sempre necessária, mas as circunstâncias que levam à contaminação são simplesmente preguiçosas, algo também visto na estranha postura e liderança de Mercer em todo o episódio.
Outro fator problemático está em Claire e seus dramas familiares terem o protagonismo da história por duas semanas seguidas. Com tantos personagens, já é meio estranho termos a doutora novamente à frente da aventura, e, bem, antes de qualquer coisa, nunca achei a Claire tão interessante, mas, por exemplo, a personagem funciona muito bem em Electric Sheep. Aqui, o empecilho principal está no limite do que o romance aguado entre ela e Paul pode oferecer num cenário sobre monstros matando tripulantes. É um quadro narrativo mais sobre tensão e perigo, algo que seria melhor aproveitado com personagens como Mercer, Bortus, Keyali ou LaMarr à frente da ação.
A direção de Jon Cassar também não ajuda. O cineasta tem uma dificuldade enorme para criar atmosfera no episódio, com cenas convencionais de corredores escuros e crianças gritando de medo. Em cima disso, temos membros sem rostos da Orville sendo infectados e transformados, o que não colabora para criar qualquer tipo de ameaça durante o episódio. Aliás, os personagens contaminados são tão desimportantes que nem os personagens principais parecem ligar para sua “morte” e partida da nave, num desfecho anticlimático sem efeitos dramáticos ou impacto emocional.
Numa nota positiva, o conceito do episódio e do próprio tom de New Horizons me agrada e me dá esperança de melhores aventuras nos horizontes de regiões espaciais desconhecidas, mas são histórias que precisarão de melhores roteiros e criatividade da direção. Por mais que goste da proposta dramática que McFarlane tem priorizado em The Orville, um pouco do seu humor ácido e satírico faria bem a Shadow Realms, um episódio derivativo demais.
The Orville – 3X02: Shadow Realms — EUA, 09 de junho de 2022
Direção: John Cassar
Roteiro: Brannon Braga
Elenco: Seth MacFarlane, Adrianne Palicki, Penny Johnson Jerald, Scott Grimes, Peter Macon, J. Lee, Mark Jackson, Chad L. Coleman, Will Sasso, Mike Henry, Chris Johnson, Anne Winters
Duração: 65 min.