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Crítica | The Orville – 2X10: Blood of Patriots

por Giba Hoffmann
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  • Contém spoilers. Leiam, aqui, as nossas críticas dos outros episódios.

Se a nossa suposição após Identity Part 1 & Part 2 foi a de que The Orville passou por um momento de amadurecimento criativo importante, o episódio da semana certamente não decepciona em manter o alto nível da sequência de episódios. Carregando muito do momentum da saga anterior, Blood of Patriots aproveita os resultados da inusitada aliança entre a União Planetária e os Krills para entregar um drama em menor escala, porém carregando ainda muito do peso dramático da história anterior.

Com uma trama intimista que finalmente concede o centro do palco ao Tenente Gordon Malloy (Scott Grimes), o episódio explora os temas relativos ao ciclo potencialmente infindável de violência em situações de guerra a partir da perspectiva de um ex-prisioneiro, Orrin Channing (Mackenzie Astin), que pede asilo à Orville em pleno momento crucial de negociações de um pré-tratado de paz com os Krills. Trazendo as batidas de roteiro das boas tramas políticas do subgênero, o episódio ainda adiciona à mistura um aspecto de mistério ao lançar dúvida sobre as versões conflitantes dos eventos apresentadas pelos refugiado e por seus antigos captores.

Não que a produção deixe muito espaço para a dúvida realmente aterrissar: Orrin desde o início traz pistas posturais e de comportamento que acenam na direção de que há algo errado a seu respeito. Parear um prisioneiro de guerra fugitivo com Malloy — cuja especialidade certamente é ser o alívio cômico entre uma tripulação repleta de figuras comédicas — pode não parecer algo que funcionaria com facilidade, mas é justamente isso que a série consegue aqui.

Bem interpretado por Astin, Orrin convence como um ex-oficial à serviço da União justamente pelo seu caráter ordinário e prosaico. Não é difícil imaginá-lo como parte da tripulação da Orville, assim como intuitivamente percebemos que o apego emocional de Gordon o impede de ver que há algo totalmente errado a respeito do cara. Um dos momentos mais interessantes é o rompante de discurso agressivo de Orrin após um breve desentendimento com Gordon. Todo extremismo ganha força ao ressoar no íntimo das pessoas, principalmente ao dar sentido a uma existência repleta de tragédias imponderáveis.

Não chegamos a sentir por Orrin porque não o conhecemos o suficiente (e, convenhamos, o cara mandou super mal já logo de cara!), mas através do sempre sentimental e prosaico Malloy conseguimos acompanhar bem esse efeito que é ver o ato político violento nascendo em meio ao cotidiano comum. Seu ódio pelos Krill é de certa forma justificado — imaginável, se não compreensível — e o argumento utilitarista a respeito do potencial que possuiria um tratado de paz às custas de extraditar um único humano suspeito (capturado injustamente para começo de conversa) não aterrissa sem levantar questionamentos arespeito disso. Mesmo suspeitando de Orrin, a questão que fica é justamente a de dar o voto de confiança àquele que até então foi seu inegavelmente seu inimigo.

Assim é que crise na nave é armada de forma interessante, e faz um excelente uso tanto de Mercer (Seth MacFarlane) e Grayson (Adrianne Palicki) quanto de nossa nova chefe de segurança Talla (Jessica Szohr), que em pouco tempo já se estabeleceu como uma personagem bastante diferente de Alara. A caracterização da tripulação continua a servir muito bem à série, e atua aqui segurando as pontas onde o roteiro de MacFarlane ainda pisa um tanto em falso.

A revelação final acaba intercalando exposições de forma um tanto caótica: inúmeros cenários passaram pela minha cabeça, sendo um deles até mais interessante (embora provavelmente insustentável) do que o obtivemos. Cogitei que Leyna sofresse do mutismo (e provavelmente de outras sequelas) por conta de estar sendo utilizada para esconder armamentos no próprio corpo (o que seria ainda mais chocante se se tratasse mesmo da filha de Orrin), e que o ataque suicida contra os Krill seria justamente a explosão da USS Orville, usando a jovem como gatilho (o que faria do convite à Malloy de sair com a shuttle uma tentativa de salvar o amigo do ataque).

A revelação a respeito do sangue explosivo tem um efeito misto: apesar de trazer uma simbologia muito interessante e ser uma possibilidade bastante original (e imprevisível), é difícil não notar nesse ponto uma certa conveniência do roteiro. Além disso, permanecemos quase no escuro a respeito das motivações de Leyna. Isso tudo já haviam se tornado detalhes, no entanto, na altura em que acompanhamos a fuga de Malloy da shuttle condenada: uma cena absolutamente fantástica em todos os sentidos, garantindo ao piloto um momento definitivo de heroísmo e protagonismo merecidos.

O interessante é a forma como a série consegue transitar nessa zona de moralidade cinza sem recair em uma figura pedregosa. Seria fácil recair em uma resposta “toque de realidade” aos roteiros de futurismo utópico que pontuaram o subgênero nos anos 60, mas a solução de The Orville é mais criativa e interessante. Ao invés de se ocupar com a manifestação política explícita, o foco torna novamente aos personagens em seu íntimo e em sua cotidianidade: uma conversa entre Ed e Gordon sobre seus sentimentos a respeito da perda do amigo pontuam a crise de forma inusitada e efetiva. Explorando bem a antiquíssima interface entre a tragédia e a comédia, Blood of Patriots é mais um excelente roteiro de Orville, vertido em uma produção que continua a manter seu alto nível.

The Orville – 2X10: Blood of Patriots — EUA, 7 de março de 2019
Direção: Rebecca Rodriguez
Roteiro: Seth MacFarlane
Elenco: Seth MacFarlane, Adrianne Palicki, Penny Johnson Jerald, Scott Grimes, Peter Macon, J. Lee, Mark Jackson, Chad L. Coleman, Jessica Szohr, Mackenzie Astin
Duração: 44 min.

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