– Contém spoilers. Leiam, aqui, as nossas críticas dos outros episódios.
Difícil esconder certo estranhamento quando, em Into the Fold, descobrimos que a doutora Claire Finn tem dois filhos ainda pequenos. Isso, porém, não ocorre em razão de algum defeito da série e sim pelo fato de sentirmos que conhecemos a fundo grande parte da tripulação da Orville, o que não chega ser bem a verdade. Por mais que suas personalidades tenham sido bem apresentadas, desconhecemos a vida pessoal de muitos deles e a doutora é um desses exemplos. O capítulo em questão, pois, aparece para preencher esse buraco, contemplando dois personagens que, em geral, permanecem em segundo plano.
Sem perder tempo, o roteiro de Brannon Braga e André Bormanis já nos apresenta sua premissa inicial: a Orville está passando por alguns upgrades e, nesse meio tempo, Claire tira alguns dias de folga a fim de passar um tempo com seus dois meninos em um planeta próximo dali, com Isaac encarregado de pilotar o transporte da família. Esses planos vão para os ares, contudo, quando, no meio do trajeto, eles se deparam com uma dobra no espaço, que os suga e leva para 1000 anos-luz da Orville. Sem qualquer opção, os quatro precisam aterrissar em um planeta próximo e aguardar o resgate.
Into the Fold é um daqueles episódios que nos pega totalmente de surpresa – se me perguntassem há uma semana atrás, jamais esperaria ver um capítulo focado quase que exclusivamente em Claire e Isaac, ponto que influenciou no meu receio quando percebi sobre o que seria o episódio. Felizmente, esse temor foi se dissipando, conforme o roteiro passou a apresentar mais sobre esses dois personagens, especialmente Isaac, que, em geral, permanecia oferecendo informações pontuais nas semanas anteriores. Sua relação com os dois garotos é, no mínimo, hilária e não tive como conter altas gargalhadas quando ele pega o celular de um, joga para o alto e atira nele, traduzindo a vontade de praticamente qualquer adulto que tem de lidar com os filhos enfurnados nos dispositivos eletrônicos.
É importante notar, também, como o capítulo funciona a fim de construir a relação entre a doutora e a forma de vida artificial, tudo enquanto percebemos o robô (ou androide?) como algo mais que um ser frio e calculista – doses de “humanidade” são inseridas aqui e ali, tudo enquanto percebemos seu cuidado com as duas crianças, como se efetivamente se importasse com eles; ponto que é resgatado ao término do episódio. Naturalmente que Claire acaba ganhando mais profundidade, ao passo que entendemos mais sua linha de raciocínio durante a exibição do capítulo.
Um grande deslize do texto, porém, é a forma como esse planeta distante é construído. Sabemos pouquíssimas coisas sobre ele, além do fato de que passou por uma guerra química. Tudo permanece no raso, sem a possibilidade de enxergarmos tal local como mera desculpa a fim de construir a relação dos dois personagens centrais do episódio. Seria preferível que, ao invés de certas sequências de ação, ou interação entre Isaac e as crianças, tivéssemos mais diálogos entre a doutora e seu sequestrador, ponto que favoreceria a profundidade da trama.
Tal ponto, no entanto, não é o suficiente para prejudicar nosso aproveitamento de Into the Fold, que revela ser mais um bom capítulo de The Orville, por mais que permaneça bastante aquém de tudo que a série pode nos apresentar. Com a relação de Claire e Isaac desenvolvida, aprendemos mais sobre esses dois personagens e, agora, podemos dizer que nosso conhecimento sobre eles não permanece apenas na superfície.
The Orville – 1X08: Into the Fold — EUA, 2 de novembro de 2017
Showrunner: Seth MacFarlane
Direção: Brannon Braga
Roteiro: Brannon Braga, André Bormanis
Elenco: Seth MacFarlane, Adrianne Palicki, Penny Johnson Jerald, Scott Grimes, Peter Macon, Halston Sage, J. Lee, Mark Jackson, Jeffrey Tambor, Holland Taylor, Chad L. Coleman
Duração: 44 min.