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Crítica | The Mosquito Coast – 1ª Temporada

por Ritter Fan
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O aspecto mais curioso desta nova adaptação de A Costa do Mosquito, obra literária de fina ironia do romancista americano Paul Theroux, publicada originalmente em 1981, e que ganhou uma versão cinematográfica por Peter Weir cinco anos depois, é que ela é protagonizada por Justin Theroux (The Leftovers), sobrinho do autor. Digo isso porque, de resto, não há nada verdadeiramente notável nesta série criada por Neil Cross e desenvolvida por ele e Tom Bissell, pelo menos não na temporada inicial que parece ser uma versão cansada, repetitiva e, sinceramente, desagradável, de O Fugitivo (a série sessentista ou o filme noventista, podem escolher) que é, toda ela, aparentemente, um gigantesco filler preambular para o verdadeiro coração do romance em que foi baseada.

Isso se a intenção não for, claro, terminar de ignorar completamente a base da narrativa de Theroux (o Paul) para privilegiar a ação e a perseguição, pois isso é tudo que os sete episódios de The Mosquito Coast oferecem, mas sem abraçar com vontade essa estrutura, já que vez ou outra lá vem o risível verniz intelectual que o roteiro tenta passar. Aliás, minto. A série oferece outras coisas também, mas todas elas fracas, a começar pela família Fox, cujos quatro membros formam o grupo protagonista mais antipático e mais difícil de se criar empatia – a mínima que seja – que eu me deparei nos últimos vários anos, com o campeão sendo Allie Fox (Theroux, mas o Justin) como um completo maluco que arrasta sua esposa Margot (Melissa George) e seus filhos Dina (Logan Polish) e Charlie (Gabriel Bateman) em uma fuga desabalada e traumatizante dos EUA até o México sem oferecer sequer uma vírgula de explicação.

Sim, Allie continua sendo caracterizado como o hippie anarquista que se incomoda com o consumismo exacerbado e que tenta viver uma vida reclusa e autossustentável com invenções como uma máquina de fazer gelo a partir do fogo e proibições como ter celular ou televisão, construção essa que ocupa algo como a primeira meia hora do primeiro episódio e que, em seguida, é completamente abandonada em termos narrativos para focar na fuga, com ele usando suas habilidades de MacGyver para sair de enrascadas pouco imaginativas, enquanto enfrenta sua filha Dina que não se conforma em largar sua vida por algo difuso e ditatorial como um “porque sim”, que é tudo que ela recebe do pai e também da mãe, que se mostra submissa, mas não completamente, já que ela permanece o tempo todo fazendo beicinho e cara de enfezada, mas sem efetivamente arregaçar as mangas para fazer alguma coisa para mudar a situação do grupo.

Ah, claro, há um segredo enorme que Allie e Margot escondem a sete chaves, segredo esse que, aparentemente, Cross e Bissell acham suficiente para sustentar o mistério por toda uma temporada, sem sequer dar uma pista sólida do que é, mais ou menos como esse monte de autor de livros para jovens adultos publicados em série costumam fazer, soltando explicações a conta-gotas só para justificar um último volume com mil páginas. Por isso é que eu disse que essa primeira temporada é uma gigantesca partícula expletiva em termos narrativos, pois os roteiros simplesmente se fiam nesse segredo para servir de gatilho para a fuga, sem se preocupar em desenvolver os personagens, até porque, para desenvolvê-los, seria necessário criar contexto justamente revelando o segredo, ou parte dele.

Para não dizer que não há nada interessante na temporada, vale destacar um diálogo específico que o coiote Chuy (Scotty Tovar) tem com Allie em que o primeiro desanca o segundo como o exato representante do que é os Estados Unidos, um país que só enxerga seu próprio umbigo e que pouco liga para aqueles que precisam de ajuda. E, de fato, essa é a perfeita caracterização de Allie, o que o transforma mais em um vilão do que em um protagonista e não da maneira positiva como é o mesmo papel por Harrison Ford no longa de Weir. Além disso, a introdução do sempre ótimo Ian Hart (The Last Kingdom) como o assassino de aluguel Bill Lee é muito interessante, especialmente quando ele, encarregado de localizar Allie e companhia na Cidade do México, usa uma sensacional rede de crianças espalhadas pela cidade que lembra muito a que Sherlock Holmes usa em suas aventuras.

No final das contas, apesar de contar com uma boa fotografia e oferecer um punhado de momentos com alguma tensão, The Mosquito Coast mostra-se, nesta primeira temporada, uma série vazia. Vazia de propósito. Vazia de desenvolvimento de personagens. Vazia de mensagem. Vazia de qualquer característica que realmente mostre seu valor para além de entretenimento raso que nem isso consegue realmente ser considerando a insuportavelmente detestável quadra protagonista. Confesso que não tenho esperanças de que a série encontre seu norte na já autorizada segunda temporada, mas, claro, sei que acabarei dando uma chance…

The Mosquito Coast (EUA, 30 de abril a 04 de junho de 2021)
Desenvolvimento: Neil Cross e Tom Bissell (baseado em romance de Paul Theroux)
Direção: Rupert Wyatt, Jeremy Podeswa, Natalia Beristain, Tinge Krishnan, Clare Kilner
Roteiro: Neil Cross, Tom Bissell, Ian Scott McCullough, Michael D. Fuller, Anya Leta, Emmy Grinwis, Gideon Yago
Elenco: Justin Theroux, Melissa George, Logan Polish, Gabriel Bateman, Kimberly Elise, James LeGros, Ian Hart, Paterson Joseph, Ofelia Medina, Kevin Dunn, Kate Burton, Scotty Tovar
Duração: 359 min. (sete episódios)

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