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Crítica | The Morning Show – 3ª Temporada

O show da manhã retorna com um bilionário.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as demais críticas da série.

The Morning Show é o tipo de série que confirma a desnecessidade de várias temporadas num show e de como muitas produções televisivas se beneficiariam de menos episódios. Depois de um ano de estreia absolutamente estelar, a série ficou progressivamente pior e menos interessante, chegando a uma terceira temporada completamente indiferente que nos faz questionar porque o show não terminou com a exposição das más condutas da UBA quando Alex (Jennifer Aniston) e Bradley (Reese Witherspoon) decidiram revelar os segredos sujos da emissora no programa ao vivo. Em retrospecto, seria um cliffhanger que nos deixaria malucos caso a série terminasse ali, mas, bem, o gostinho de quero mais é normalmente melhor do que a morte lenta que estamos vendo. Então, com essa nota positiva, vamos falar do terceiro ano da obra.

Depois de uma segunda temporada que, de uma maneira estranha, apresentou o Covid-19 como pano de fundo para apenas abordá-lo no finalzinho da temporada, começamos a história da nova temporada com um salto temporal para o final da pandemia. Isso, então, responde o questionamento que meu colega Ritter Fan (que vergonhosamente abandonou a série…) deixou ao final de sua crítica de Fever, qual seja: “… será que a showrunner Kerry Ehrin promoverá outro salto temporal, agora para o final da pandemia, o que tornaria a elipse da temporada atual completamente inútil?”.

Pois bem, a elipse não só foi inútil, como a temporada inteira só referencia a pandemia para contexto e piadinhas em diálogos rápidos, sem lidar de forma alguma com os efeitos do vírus e do isolamento durante ou pós pandemia, no que me parece ser uma escolha deliberada no seguinte sentido: essa notícia é passado, vamos esquecer. Honestamente, é assim que a temporada parece abordar todos os seus temas e eventos ficcionalizados, passando rapidamente pela Invasão do Capitólio, a Guerra da Ucrânia, o caso Roe contra Wade que trata de políticas anti-aborto, Black Lives Matter e até o movimento #metoo, que tornou a série célebre, mas que nesta temporada ganha um tratamento quase que de inconveniência, como se a mobilização fosse uma pedra no sapato de todo mundo.

Talvez essa falta de aprofundamento seja fruto de termos 10 episódios escritos por 10 roteiristas diferentes, sem uma mão firme dos criadores/showrunners para guiar a história central ou pelo menos o tema principal da temporada, no que termina sendo uma temporada de colcha de retalhos. Podemos tentar forçar a barra e enxergar nisso uma crítica para a maneira que as notícias ganham apenas alguns minutos de atenção antes de serem esquecidas, no estilo clickbait que nosso jornalismo aderiu, mas tudo me parece só um problema grave de narrativa mesmo.

O personagem Yanko Flores (Nestor Carbonell) tem uma subtrama sobre racismo que tem atenção em dois minutos de dois episódios; Christina Hunter (Nicole Beharie) é adicionada à série apenas para que Black Lives Matter receba holofotes rápidos em um único episódio bastante expositivo sobre o tema; temos a participação de um fotógrafo na Ucrânia para a série não deixar a guerra passar em branco; Bradley quer fazer um artigo sobre a política anti-aborto que nos apresenta uma mulher passando por esse problema da qual a situação é resolvida em elipse; e por aí vai. Nada ganha desenvolvimento na temporada, tudo é apenas citado.

O que ganha um pouco mais de aprofundamento na temporada são a cultura de cancelamento e a obsessão moderna com bilionários. Na primeira, até que a série traz boas cutucadas, sem medo de representar as hipocrisias de Alex, símbolo do feminismo neste universo, no tipo de ambiguidade e de debate moralmente tênue que a obra sempre foi capaz de produzir, dialogando com os excessos do cancelamento de pessoas, muitas das vezes por comentários infelizes ou erros longe de serem monstruosos. Infelizmente, assim como foi na morte de Mitch Kessler, os roteiristas continuam apresentando cenários complexos, mas sem se aprofundar nos mesmos, deixando tudo numa superfície rasa com críticas óbvias.

Já sobre os bilionários, somos apresentados ao magnata Paul Marks (Jon Hamm, extremamente carismático no papel), um excêntrico ricaço que projeta foguetes – paralelos para Elon Musk não são meras coincidências – e que quer comprar a UBA. Grande parte da narrativa aborda a venda da emissora, com momentos interessantes sobre brigas de poder e o jogo político em torna da compra, inclusive alguns momentos aterrorizantes sobre a invasão de privacidade de empresas tecnológicas, e outros não tão interessantes com Cory (Billy Crudup) novamente servindo de bobo da corte sem direção dramática e com toda a situação sendo resolvida através de traições amorosas e revelações tiradas da cartola. Isso me leva ao principal problema da temporada: melodrama.

Em uma história com um cardápio tão grande de temas, eventos e cenários que podem ser abordados, a maneira como a série se resigna a dramalhões familiares (principalmente com Bradley), romances casuais desinteressantes (com Mia, Alex, Bradley, Laura, etc) e muitas tramas sobre portais de fofocas, como se esses jornalistas fossem perseguidos pela mídia como super estrelas de Hollywood, é de decepcionar a audiência. Ainda assim, a representação de um Sucession pobre na luta para assumir a emissora tem seus momentos levemente cativantes no meio de muito sexo e discussões novelescas que não agregam valor à produção.

Tem uma sequência que encapsula meus problemas com a terceira temporada de The Morning Show. Se lembram da cena de Mitchell estuprando Hannah? A forma aterrorizante, nojenta e absolutamente brilhante que a direção capta aquele momento essencial para a discussão temática e dramática da história? Então, aqui no terceiro ano temos uma longa sequência à la Cinquenta Tons de Cinza de Alex transando com um bilionário. É mais ou menos por aí que notamos que o interesse da série está no lugar errado e como a produção se perdeu completamente, abordando muitos temas importantes, mas sem a qualidade, a sutileza e o aprofundamento necessário para nos presentear com a excelência narrativa que vimos na temporada de estreia.

The Morning Show – 3ª Temporada | EUA, 2023
Criação: Jay Carson (baseado em obra de Brian Stelter)
Desenvolvimento: Kerry Ehrin
Direção: Mimi Leder, Thomas Carter, Mark T. Gates III, Stacie Passon, Jennifer Getzinger, Millicent Shelton
Roteiro: Charlotte Stoudt, Michelle Denise Jackson, Joshua Allen, Kimi Howl Lee, Zander Lehmann, Micah Schraft, Bill Kennedy, Selina Fillinger, Laura Wexler, Anya Leta
Elenco: Jennifer Aniston, Reese Witherspoon, Billy Crudup, Mark Duplass, Néstor Carbonell, Karen Pittman, Greta Lee, Desean Terry, Nicole Beharie, Valeria Golino, Holland Taylor, Tom Irwin, Will Arnett, Jon Hamm, Julianna Margulies, Joe Tippett
Duração: 10 episódios de aprox. 60 min. cada

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