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Crítica | The Morning Show – 2X09: Testimony

Autossabotagem como catarse.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as demais críticas da série.

Mesmo que Testimony, penúltimo episódio da segunda temporada de The Morning Show, tenha, em seus segundos finais, retirado a pandemia da categoria de pano bem de fundo e a trazido para primeiro plano, ainda não estou convencido de que essa foi a melhor decisão para a série que, com isso, forçou um salto temporal que impediu que diversas linhas narrativas interessantes fossem trabalhadas. Por outro lado, este é o segundo episódio seguido em que a morte de Mitch Kessler é explorada com coragem e inteligência, o que é literalmente dois episódios a mais do que eu esperava que isso fosse acontecer. Portanto, é por esse aspecto que começarei a crítica.

Não existe uma solução fácil para o dilema posto na série sobre Mitch, mas eu tenho certeza que ela não será encontrada em radicalismos, seja do lado que acha um absurdo que alguém sequer pense em ir ao memorial do falecido, seja do lado que o defende com unhas e dentes em um solilóquio agressivo e bêbado. Parear Mitch com o pior ou com o melhor dos homens é, em uma única palavra, estúpido e, em duas, completamente estúpido. Há que haver gradações e há que haver espaço para que o ofensor possa se mostrar arrependido, mesmo que isso não seja o suficiente. Acima disso tudo, há que haver o reconhecimento de que alguém pode crescer, possa melhorar, possa se desenvolver, caso contrário é melhor condenar logo à morte todos os assassinos, ladrões e espancadores.

Esse é o espírito do discurso de Alex Levy no memorial de Mitch, discurso esse que ela não precisava fazer e, ao fazer, expôs-se de maneira tão grave que minou todo o esforço bem-sucedido de Bradley para derrubar as acusações contidas no livro de Maggie. Alex defende Mitch. Não o Mitch de outrora. Não o Mitch estuprador, abusador e indiretamente assassino. Ela sequer defende o Mitch que existia ao redor desses seus atos absolutamente condenáveis. O que ela faz muito bem é dizer que o Mitch que ela encontrou na Itália é um Mitch que estava começando a perceber a gravidade do que fez e que queria aprender e, sim, mudar. É muito, muito fácil condenar alguém e eu nem digo que essa postura esteja incorreta. Mas perdoar exige muito mais força, muito mais caráter e muito menos leitura de redes sociais para concluir o que de antemão se quer concluir com base em “vapor”.

Por outro lado, e aí é que a proverbial porca realmente começa a torcer o rabo, Alex muito provavelmente não teria feito seu discurso se ela soubesse, de antemão, que ele significaria seu “cancelamento”. Alex não é tão altruísta assim e sua ida ao memorial era muito mais uma espécie de catarse de alguém com um pé no cadafalso, do que a vontade pura de falar bem do ex-amante. Há um interessante jogo de cabo de guerra moral no episódio que Jennifer Aniston lida muito bem, realmente merecendo o destaque que tem aqui. Seu nervosismo sendo apaziguado pela entrevista de Maggie por Bradley deu gosto de ver, da mesma forma que o retorno de seus temores de madrugada mostrou excelente flexibilidade de uma atriz que, até The Morning Show, nunca realmente havia mostrado a que veio (nem mesmo em Friends, não adianta espernear!).

No entanto, curiosamente, não sei se a série, agora, se colocou em uma sinuca de bico, já que, mesmo que seja muito improvável que Alex venha a falecer em razão da Covid, não sei como, em uma abordagem realista, seu “cancelamento” pelo tribunal da opinião pública que usa como “provas” manchetes de jornal e disse-me-disse será revertido de forma que ela possa continuar como âncora do TMS e, portanto, personagem da série. Não vejo como Cory possa manipular a mídia para evitar o pior agora. E há um possível agravante aí, já que Testimony fez das tripas coração para evidenciar que Laura não só realmente está apaixonada por Bradley – e vice-versa – como tem alguma condição coronária e que, por isso, vai se recolher em sua casa isolada em Montana durante a pandemia. Toda essa contextualização um tantinho quanto expositiva parece indicar que Alex, que fez o programa com ela no dia anterior, inadvertidamente transmitiu o coronavírus para Laura e ela falecerá. Será que Bradley culpará Alex? Será que Alex se recuperará de mais essa morte se ela realmente ocorrer?

Falando em Bradley, mais uma vez não gostei da forma como seu drama familiar com o irmão foi abordado. Essa linha narrativa parece pertencer a alguma outra série que não The Morning Show – ou a alguma outra temporada pelo menos – tamanha sua artificialidade e, diria até, a forma rasa como o vício de Hal vem sendo tratado. A impressão que dá é que toda essa história paralela desde que ele ressurgiu na temporada existiu única e exclusivamente para que todas as circunstâncias pudessem ser criadas para que Alex e Laura apresentassem o TMS juntas para que a hipótese que levantei no parágrafo anterior fique mais evidente. Esse tipo de desfoque narrativo tem sido um problema recorrente na temporada, como, aliás, já mencionei antes algumas vezes.

E, com isso, retornamos à Covid, que parece mais uma maneira de a produção da série mostrar-se antenada com o momento atual, mas sem que o assunto seja realmente tratado para além de seu uso pontual como agora, com a infecção de Alex. Como é bem fácil “cancelar” alguém, não creio que fosse necessário usar a pandemia como catalisador, até porque a mera presença da âncora no memorial de Mitch já seria mais do que suficiente. Mas veremos. The Morning Show ainda é uma série muito interessante e muito sólida que, mesmo cambaleando na segunda temporada, vem mostrando vontade de cutucar feridas e levantar discussões corajosas. Precisamos de mais TV assim!

The Morning Show – 2X09: Testimony (EUA – 12 de novembro de 2021)
Criação: Jay Carson (baseado em obra de Brian Stelter)
Desenvolvimento: Kerry Ehrin
Direção: Miguel Arteta
Roteiro: Scott Troy, Justin Matthews
Elenco: Jennifer Aniston, Reese Witherspoon, Billy Crudup, Mark Duplass, Néstor Carbonell, Karen Pittman, Greta Lee, Desean Terry, Hasan Minhaj, Valeria Golino, Holland Taylor, Tom Irwin, Will Arnett, Patrick Fabian, Julianna Margulies, Joe Tippett
Duração: 59 min.

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