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Crítica | The Morning Show – 2X03: Laura

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as demais críticas da série.

A estratégia de marketing de Cory Ellison para comunicar ao público o retorno de Alex Levy ao The Morning Show começa a caminhar a passos largos em Laura, episódio que revela o segredo ao mundo e que nos apresenta à lendária âncora de notícias da UBA Laura Peterson, vivida muito bem por Julianna Margulies, que tem como missão entrevistar tanto Alex quanto Bradley em preparação ao grande dia em que as duas estarão novamente apresentando o TMS. E toda a tensão narrativa é inteligentemente construída ao redor dessa temática específica, mas por razões bem diferentes, dependendo da abordagem que Laura adota.

Alex teme Laura com todas as suas forças. Não só por uma clara pontada de inveja pela jornalista mais velha ter alcançado um patamar acima dela, mas também por sua reputação de ser uma mulher inteligente e dura em sua abordagem dos mais variados temas, mesmo que pertencente à mesma organização. Esse medo é materializado na forma da entrevista em si que, contrastando com a posterior de Bradley – ocorre em ambiente mais asséptico, frio e, sob todos os aspectos, controlado, ainda que Laura não se submeta a qualquer tipo de script prévio, não perdendo a oportunidade de, em uma tacada só, dizer que teve acesso a trechos do vindouro livro não autorizado sobre o TMS, e insinuar que Alex teve um caso com Mitch.

Esse temor de Alex, agora concretizado, é passado para Bradley que, porém, ganha uma entrevista na rua, em tom bem mais alegre, enquanto cobre a Convenção Política (ou caucus) americana no começo de 2020. As duas profissionais, talvez não imediatamente, mas quase, estabelecem uma conexão interessante que é vista pela forma como Laura articula as perguntas e comentários e pela maneira mais espontânea com que Bradley oferece as respostas. O contraste com a rigidez quase imóvel da entrevista com Alex é mais do que evidente, algo que é também amplificado pela paleta de cores de cada evento, uma fria, em tons azuis e cinzas e outra quente, em tons marrons e vermelhos.

Mas a conexão entre as duas vai além. Considerando que Laura é um tanto quanto didaticamente introduzida como membro da comunidade LGBT por Cory no segundo em que eles se falam antes da entrevista com Alex, essa “arma de Tchekhov” teria que ser usada mais cedo ou mais tarde – ou deveria ser usada, pois apenas dizer que determinado personagem é isso ou aquilo é absolutamente ridículo -, ainda que eu não esperasse que fosse neste mesmo episódio. E, quando o momento acontece, depois da entrevista, com as duas na limusine, logo depois de Laura fazer, ainda que informalmente, a pergunta que não quer calar para Bradley, há uma certa atmosfera de estranhamento no que se refere à personagem de Reese Witherspoon, não por ela não ter sido “classificada” como lésbica antes, mas sim por ser talvez repentino demais.

Ainda que relacionamentos que começam dessa forma, no calor do momento, sejam perfeitamente possíveis, tenho minhas dúvidas sobre a sinceridade de sentimentos no mínimo por Bradley. The Morning Show é uma série – pelo menos em sua primeira temporada – esperta demais para trabalhar apenas na superfície e eu não me surpreenderia nada se Bradley tivesse feito isso para manipular, de sua maneira, a jornalista veterana, da mesma forma que eu não me surpreenderia nada que Laura tenha apenas entrado nesse jogo por suas próprias razões convenientes, nem que seja a simples atração sexual que parece sentir por Bradley. Afinal, duas coisas foram muito claramente pontuadas no almoço entre Alex e Bradley que antecedeu as entrevistas: as duas estão em franca competição “amigável” (se é que isso verdadeiramente existe) e Laura é potencialmente insidiosa e manipuladora. Só o tempo dirá exatamente o que está acontecendo, mas as possibilidades são muitas e interessantíssimas, sem dúvida.

Mas o episódio, apesar de focar em Laura como linha narrativa central, ainda tem tempo para abordar Mitch na Itália, primeiro dispensando qualquer aliança com Frank, o que já relativiza o personagem e mostra o que parece ser seu verdadeiro arrependimento pelo que fez e causou, e, depois, trabalhando sua conexão com a insistente Paola que o quer na produção de um documentário sobre uma decisão judicial polêmica em seu país, algo que ele reluta, mas acaba aceitando. Não consigo ainda ver o ponto em que essa história quer chegar, mas é sem dúvida corajoso da série lidar com um potencial retorno de um assediador sexual.

Por último, temos o pano de fundo do começo da pandemia perpassando todo o episódio, com Daniel fugindo de Wuhan, ficando em quarentena em Pequim e tendo sua história ignorada pela produção do TMS, exatamente como aconteceu na vida real lá no começo do ano passado, como certamente todo mundo se lembra. Novamente, tenho minhas sinceras dúvidas de como a pandemia será inserida na série e se o assunto não vai sufocar o restante, mas confesso que tenho gostado da pegada na base do conta-gotas que os roteiros tem emprestado ao assunto. Veremos como tudo vai convergir e fica a torcida para que a série não se torne apenas um veículo de assunto corrente que sequer ainda acabou…

The Morning Show continua intrigante em sua premissa do retorno de Alex e também de Mitch, ainda que não no mesmo nível do começo da temporada inaugural. Falta ainda a unicidade narrativa macro capaz de cativar sem reservas o espectador, mas, ao que tudo indica, estamos caminhando nessa direção.

The Morning Show – 2X03: Laura (EUA – 1º de outubro de 2021)
Criação: Jay Carson (baseado em obra de Brian Stelter)
Desenvolvimento: Kerry Ehrin
Direção: Lesli Linka Glatter
Roteiro: Brian Chamberlayne, Jeff Augustin
Elenco: Jennifer Aniston, Reese Witherspoon, Billy Crudup, Mark Duplass, Néstor Carbonell, Karen Pittman, Greta Lee, Desean Terry, Hasan Minhaj, Steve Carell, Valeria Golino, Holland Taylor, Tom Irwin, Will Arnett, Patrick Fabian, Julianna Margulies
Duração: 53 min.

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