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Crítica | The Morning Show – 2X02: It’s Like The Flu

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as demais críticas da série.

Apesar de ainda não conseguir enxergar como o advento da pandemia combinará com a história principal de The Morning Show sem que o “assunto do momento” atropele o filé mignon da série, It’s Like The Flu foi um grande alívio depois daquele começo errático, marcado por saltos temporais perdidos, que foi My Least Favorite Year. Sim, o início da pandemia está bem presente no episódio, mas isso é algo secundário, ainda que Daniel voando para Wuhan, ao final, já indique o assunto deverá engrenar de verdade muito em breve.

Seja como for, o segundo episódio da 2ª temporada acerta o tom e mantem central dois assuntos, a dança das cadeiras do programa matinal, com Cory tentando fazer com que Bradley compreenda sua estratégia por trás do retorno de Alex, sem ainda muito sucesso e o foco no #metoo em duas frentes, a ação milionária movida pela família de Hannah contra a UBA e a volta de Mitch Kessler à série em uma jogada interessante e que rende o momento mais corajoso e que mais dá pano para a manga para discussões interessantes. E é justamente por Mitch, agora morando em sua suntuosa e paradisíaca propriedade em algum belíssimo lugar da Itália, que começarei de verdade a presente crítica, já desde logo lembrando que a escolha do país em formato de bota é obviamente proposital em vista de ele ter sido o epicentro europeu no começo da pandemia, o que certamente será usado, de uma forma ou de outra, na narrativa.

Afinal, quando digo que a atenção dada a Mitch no episódio foi corajosa, foi porque ela realmente foi e “desempacotar” a cena em que ele é confrontado por uma jovem ativista turista em uma gelateria e, ato contínuo, defendido por uma italiana mais velha é o que há de mais importante no capítulo. Isso porque poucas vezes eu me deparei com uma cena razoavelmente econômica, mas tão simbólica e repleta de questões cruciais a serem levantadas e pensadas por aqueles que conseguirem pensar antes de reagir. Não tenho dúvida alguma que o reflexo da grande maioria das pessoas é ficar ao lado da turista, até porque Paola Lambruschini (Valeria Golino) canta Giovinezza, o hino fascista da Itália de Mussolini a plenos pulmões.

Mas Paola e a turista são, basicamente a mesma pessoa e defendem os mesmos ideais. Saber a Giovinezza de cor é tão fascista quando é comunista saber assoviar A Internacional (eu sei, acho inclusive bonita, e sem tem uma coisa que eu não sou é de esquerda), pelo que fica evidente que o que Paola estava fazendo era, basicamente, enfrentando a jovem – que a chamou de fascista, veja bem – com zombaria, às vezes o melhor remédio. As duas são feministas, uma da velha guarda e outra da nova guarda, uma ativista de rede social, por assim dizer e ambas fizeram o que fizeram não exatamente por defenderem seus ideais ferrenhamente, mas sim por quererem algo de Mitch. Paola usou a oportunidade como porta de entrada no mundo midiático e a turista queria seus 15 minutos de fama com algum vídeo viral pela internet.

O que eu quero salientar com isso é que, no cenário colocado – e que nem é tão incomum assim – o ponto central da questão, o assédio sexual perpetrado por Mitch, passou a ser um detalhe, um degrau de uma escada que não tinha a intenção de levar a nenhum lugar relacionado com esse gravíssimo assunto, mas sim, basicamente, à elevação egos, das vaidades e até das oportunidades profissionais que as duas “interventoras” poderiam/podem ter. Em outras palavras, a turista estava tão incomodada com a presença de Mitch ali quanto Paola queria realmente defendê-lo em público. E o mais interessante – e perturbado da coisa toda – é que a direção de Mimi Leder (uma mulher, lembrem-se) propositalmente trabalhou o mis-en-scène de maneira a manobrar o espectador a se compadecer por Mitch, algo em que ela é bem sucedida, nem que por alguns segundos.

Mas atravessando o oceano e retornando à Nova York, temos o também fascinante jogo de xadrez de Cory para atrair Alex ao mesmo tempo que tentando minimizar a reação de Bradley. A forma como o “jantar íntimo” é construído e acaba sendo um mega-jantar com todas as figurinhas importantes da produção do TMS é uma belíssima bola de neve que o próprio Cory culpa o fato de “ninguém mais poder ser ofendido hoje em dia”, o que é a mais pura verdade no jogo corporativo e, se formos francos, também no jogo do nosso cotidiano nos mais diferentes níveis sociais. O enfrentamento de Bradley e Alex no hall dos elevadores que resulta do jantar é a promessa de que muita coisa boa pode vir daí, especialmente considerando que Alex não é tão querida no TMS quando poderíamos imaginar, que Bradley agora está em pé de guerra com ela (depois de ter sua cabeça pedida por Cybil Richards a Cory ao telefone) e que Alex joga sua cartada de mestre ao convidar Chip (hipócrita até a raiz do cabelo!) de volta ao seu time.

E, em meio a isso tudo, Cory mostra-se ao mesmo tempo um mestre manipulador e um ser humano de princípios se considerarmos a sequência em que ele imediatamente demite o advogado da UBA que fala uma barbaridade sobre Hannah em uma reunião privada, em petit comité. A forma como o roteiro de Torrey Speer e Kristen Layden molda a personalidade do executivo, retirando-lhe daquele clichê básico do homem sem escrúpulos, capaz de qualquer coisa, é muito bem-vinda, com Billy Crudup continuando seu mais do que convincente trabalho na série.

It’s Like The Flu é The Morning Show como eu lembrava que a série era e, para todos os efeitos – pelo menos para mim – o verdadeiro começo da temporada. Claro que ainda fica o temor sobre como a pandemia afetará as linhas narrativas principais, mas ele certamente, agora, foi arrefecido por uma correção de rumo de qualidade que parece apontar para uma temporada com potencial.

The Morning Show – 2X02: It’s Like The Flu (EUA – 24 de setembro de 2021)
Criação: Jay Carson (baseado em obra de Brian Stelter)
Desenvolvimento: Kerry Ehrin
Direção: Mimi Leder
Roteiro: Torrey Speer, Kristen Layden
Elenco: Jennifer Aniston, Reese Witherspoon, Billy Crudup, Mark Duplass, Néstor Carbonell, Karen Pittman, Greta Lee, Desean Terry, Hasan Minhaj, Steve Carell, Valeria Golino, Holland Taylor, Tom Irwin, Will Arnett, Patrick Fabian
Duração: 53 min.

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