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Crítica | The Mandalorian – Chapter 16: The Rescue

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Quando notei que Boba Fett não participaria da ação principal de The Rescue, fiz cara feia e biquinho, pois teria sido lindo vê-lo, ao lado dos demais, moendo Stormtroopers no cruzador de Moff Gideon. No entanto, a cena pós-crédito, em que ele retorna a seu “ponto de origem”, por assim dizer, destrona um agora volumoso Bib Fortuna (voz de Matthew Wood que fez o mesmo personagem e também o General Grievous na Trilogia Prelúdio e outras obras da franquia) e se autodeclara chefão do submundo de Tatooine, tendo Fennec Shand como aliada, com direito ao que parece ser uma série ou minissérie própria – The Book of Boba Fett – anunciada para o final de 2021, uma bela surpresinha extra depois das duas dúzias de anúncios da Disney, foi mais do que suficiente para me fazer abrir aquele sorriso de fanboy bobalhão que não acha que existe algo como séries e filmes demais de Star Wars, especialmente considerando que esse anúncio vem quase que como uma homenagem a Jeremy Bulloch, o primeiro ator a viver o personagem em versão live-action, que faleceu no dia anterior à liberação do episódio. Tudo bem que esse título pode também ser o “nome” da própria 3ª temporada de The Mandalorian, mas quero crer que não mesmo considerando a coincidência do mês de lançamento.

Feito esse prelúdio, The Rescue foi, mais uma vez, um episódio exemplar com um roteiro, escrito novamente pelo próprio showrunner, que não se perde em detalhes e, já no início, faz o que tem que fazer: estabelece como a localização de Moff Gideon é obtida e reúne a equipe necessária para o resgate. E o melhor é que Jon Favreau ainda tem o requinte de não simplesmente sair correndo com essas duas questões, pois não perder tempo é diferente de fazer de qualquer jeito. Há sofisticação na forma como o co-piloto do transporte Imperial (Thomas E. Sullivan, mais um ator de Agents of S.H.I.E.L.D. dando as caras) usa o Dr. Pershing como refém e provoca Cara Dune com a destruição de Alderaan (“eu estava na Estrela da Morte” é uma afirmação poderosa, mas da maneira mais errada possível) e há cuidado para que o encontro de Mandalorianos não seja apenas uma reunião de velhos amigos, com mágoas, preconceitos e uma breve luta para rechear a narrativa.

E o que segue é o tipo de ação que já vimos antes na série – notadamente em The Heiress, The Siege e The Tragedy – só que de maneira mais… digamos… completa, com direito a dog fight, muitos Stormtroopers errando seus alvos e sendo alvejados no processo, duelo de saber de luz ou, mais especificamente, darksaber contra lança de Beskar e, claro, a triunfal chegada de Luke Skywalker rejuvenescido por meio da tecnologia digital que a Disney adora usar e que, aqui, é a que menos invoca o chamado vale da estranheza dentre todas as obras Star Wars (muito melhor que a Leia e algo melhor do que o Grão Moff Tarkin de Rogue One). Não sou o maior fã dos Darktroopers por eles serem meros droids turbinados com aparência ameaçadora (reparem como é muito mais “satisfatória” a cena em que Mando usa sua lança para enforcar um Stormtrooper, do que outra em que ele a enfia em um mero androide sem vida), mas mesmo nesse aspecto a ação é boa, pois justamente permite que Luke mostre toda sua destreza pós-O Retorno de Jedi.

Ah, vale dizer também que não sou o maior fã do mundo do uso de Luke aqui. Aliás, minto. Eu não era. Mas a grande verdade é que eu tenho que dar o braço a torcer e dizer com todas as letras que ele era o único personagem que fazia sentido para que o arco do Baby Yoda fosse encerrado de maneira lógica e digna. Querendo ou não, ele é o Jedi mais poderoso desse momento temporal da franquia e, querendo ou não, ele tentará reconstruir a Ordem Jedi e o pequeno ser e seu grande controle da Força é um pupilo de valor inestimável. Se um dia o veremos novamente, só o tempo dirá (minha suspeita é que sim, ele voltará alguma hora), mas o que realmente interessa é que Favreau soube, com toda sua simplicidade, dar fim ao arco temático das duas temporadas da série até agora, com direito até mesmo à melhor manifestação de humanidade de Mando, quando ele retira o capacete desta vez não em razão de um ferimento ou de um bioscanner sem sentido tirado da cartola do roteirista, mas sim de um verdadeiro momento em que um pai dá adeus a seu filho. Emocionante, mas sem ser piegas ou gratuito.

E, como se isso não bastasse, há espaço para que o vislumbre do próximo arco seja no mínimo delineado. Os contornos ainda não estão completamente claros, mas, considerando na equação os spin-offs de Cara Dune (Rangers of the New Republic – e eu sei que ela não foi oficialmente anunciada, mas é apenas uma suposição razoável), de Ahsoka Tano (Ahsoka) e de Boba Fett, resta mesmo a narrativa que lida com Bo-Katan e seu desejo de reconstruir Mandalore e de, mais do que isso, tornar-se líder dos Mandalorianos. Toda a questão sobre quem pode manejar o darksaber e o que ele representa, algo que o episódio investe tempo para explicar, não estando lá de graça e o encerramento de The Rescue sem vislumbre de resolução para isso indica que The Mandalorian deve, agora, mergulhar de cabeça na mitologia dos Mandalorianos, o que sem dúvida é uma boa notícia e empresta um caráter próprio à série que, convenhamos, já fez o que devia fazer para servir de motor de arranque para novas séries, podendo seguir seu caminho próprio agora.

Peyton Reed, que retorna à direção da série depois de The Passenger, abandona sua usual pegada mais cômica e, sem se fazer de rogado, mostra que realmente sabe lidar com ação, convertendo o roteiro repleto de sequências variadas, de uma mera briga de bar até um épico momento com um Jedi destroçando androides, em uma excelente lição de decupagem, ritmo e emprego de violência limítrofe na linha do que Robert Rodriguez fizera. As coreografias das lutas também merecem destaque, especialmente a de Mando contra o Darktrooper com direito àqueles socos diretamente em seu capacete e, claro, contra Moff Gideon, com uma espécie de crueza de movimentos de ambos os lados, sem aquele “balé” usual – e que eu abomino – quando vemos lutas de espada no audiovisual, sejam elas comuns ou de luz.

The Rescue encerra com chave de ouro uma temporada realmente fora de série que, mesmo tendo apelado para o fan service ou servido de trampolim para novas séries, soube manter sua identidade e unicidade, fechando uma história e começando outra. Jon Favreau, equipe e elenco estão de parabéns por terem conseguido melhorar o que já era bom e entregar um verdadeiro baú de tesouros nesta inesgotável galáxia muito muito distante.

The Mandalorian – Chapter 16: The Rescue (EUA, 18 de dezembro de 2020)
Showrunner: Jon Favreau
Direção: Peyton Reed
Roteiro: Jon Favreau
Elenco: Pedro Pascal, Temuera Morrison, Ming-Na Wen, Gina Carano, Giancarlo Esposito, Omid Abtahi, Sasha Banks (Mercedes Varnado), Matthew Wood, Katy M. O’Brian, Luke Baines, Thomas E. Sullivan, Mark Hamill
Duração: 47 min.

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