- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Leio muito poucas críticas de terceiros fora do Plano Crítico, mas uma das coisas que não suporto nessa área são textos que se dizem críticas, mas que, na verdade, não passam de elogios ou xingamentos de fãs. Em diversas situações, é perfeitamente possível ouvir os gritinhos de felicidade do redator ou imaginar sua raiva escorrendo pelo canto da boca, resultando em comentários que são mais devaneios de uma noite de verão do que qualquer coisa que se assemelhe a uma crítica. Dito isso, nem mesmo críticos que tentam se levar a sério – e eu tento, juro! – têm coração de pedra a todo momento. Digo isso porque o 13º capítulo da saga de Mando não é exatamente um episódio, mas sim, na verdade, um extenuante teste que desafia o crítico a trancafiar seu fanboyzismo em algum lugar escuro de sua mente para manter algum semblante de objetividade.
E eu não passei no teste. Falhei miseravelmente, na verdade. Pior ainda que não foi a primeira vez, como essa crítica aqui prova.
O mais engraçado é que, lá pela temporada inaugural da série, eu sequer queria ver Jedi ou sabres de luz, pois eles já são figurinhas fáceis na franquia que precisava de novos ares. Mais ainda, não sou especialmente fã de Ahsoka Tano ou da mitologia por trás da personagem. Só que não teve jeito. Dave Filoni, que escreveu o roteiro e dirigiu o episódio, retornando à dupla função que assumiu em The Gunslinger, entregou um capítulo irretocável, do beskar mais puro, na saga de Mando e de seu protegido, o pequeno Bebê Yoda que não, eu não chamarei pelo nome que aprendemos aqui e ponto final.
Se a série parecia ter alcançado seu ponto mais alto no episódio anterior, expandido a trama e oferecendo ação clássica para ninguém botar defeito, Filoni mostra que a altura que parecia máxima era apenas ilusão e que The Mandalorian sabe desafiar todos os limites. Afinal, fugindo da estrutura clássica que começa com Mando e parte daí, o espectador é diretamente brindado com um magistral preâmbulo à la filmes de 007 em que, sem perder um segundo, a Ahsoka Tano de Rosario Dawson, perfeitamente caracterizada, vale destacar, é apresentada em carne e osso pela primeira vez como uma invencível é ágil Jedi que, empunhando seus dois sabres de lâmina branca, dizima como um fantasma uma tropa de soldados comandada por uma magistrada de cara amarrada em uma ambientação opressiva, esfumaçada e claustrofóbica que imediatamente diz tudo o que precisamos saber sobre o lugar. O diretor e roteirista conseguiu imersão em sua narrativa tão instantaneamente que, confesso, a entrada repentina do título do episódio na tela serviu como um balde de água fria que me deixou cabreiro.
Mas isso foi só por um momento, pois a chegada de Mando à Calodan, no uma vez verdejante planeta Corvus, não demorou a estabelecer o mesmo tipo de imersão, mas, agora, com aquela sensação sempre gostosa de apreensão pelo que está por vir. O design de produção novamente mostra esmero absoluto na ambientação na cidade fortificada, reunindo simplicidade e eficiência que é igual à linha reta que Mando faz dos portões até o quartel-general da malévola líder local vivida por Diana Lee Inosanto que lhe faz uma proposta: uma lança de puro metal mandaloriano pela cabeça da Jedi.
E tudo o que segue daí é digno de nota. Seja a breve luta entre Mando e Ahsoka em que aprendemos que o beskar é ainda mais poderoso que imaginávamos, seja a conversa telepática que ela tem com o Bebê Yoda que permite que aprendamos alguma coisa sobre ele, ou ainda, o teste que ela faz com o pequeno ser verde que, mais do que estabelecer seu poder, revela a conexão profunda que ele tem com seu protetor, algo que imediatamente traz aquele sorriso ao espectador e a certeza mais do que absoluta que os dois continuarão juntos ainda por muito tempo, cada segundo do episódio é muito bem utilizado, sem permitir espaços que revelem gordura e também sem acelerar a narrativa mais do que o cirurgicamente necessário para apreciarmos a nova situação e o caminho mais sereno dos Jedi.
Quando, então, o mandaloriano finalmente faz dupla com a guerreira Jedi para libertar os oprimidos de Calodan, o show chega a seu ponto alto (ou melhor, continua seu constante nível alto), com tudo aquilo que esperamos dos estilos tão diferentes de cada um deles. Se Mando é literalmente o pistoleiro sem nome (e sem rosto) pronto para sacar mais rápido dos spaghetti westerns, Ahsoka é a honrada e mortal samurai com uma missão. Novamente, a simplicidade é chave. Uma cidade labiríntica, golpes rápidos e certeiros, segundos de tensão com resultado 100% esperado, mas mesmo assim extremamente divertindo entre Mando e Lang (Michael Biehn) e, claro, um duelo que inteligentemente é tão visto como apenas ouvido entre a Jedi e a magistrada, também com resultado mais do que esperado. O que não era esperado e vem como mais uma ótima surpresa é a menção ao Grão Almirante Thrawn como sendo a missão de Ahsoka. Mais uma vez, o universo é expandido e mais uma vez fica aquela impressão que The Mandalorian é, potencialmente, apenas a proverbial ponta do iceberg televisivo live-action do universo Star Wars.
Se existe um problema em sermos brindados com dois episódios seguidos com esse nível absurdo de qualidade é fazer-nos esperar a mesma coisa dos próximos, desapontando-nos se eles não alcançarem esse patamar. Mas isso faz parte do processo, ainda que o trabalho de Jon Favreau, até agora, não dê qualquer pista de que nos frustrará. O fanboy enlouquecido em mim que se libertou momentaneamente de suas correntes tem a mais absoluta certeza de que isso não ocorrerá, aliás…
The Mandalorian – Chapter 13: The Jedi (EUA, 27 de novembro de 2020)
Showrunner: Jon Favreau
Direção: Dave Filoni
Roteiro: Dave Filoni
Elenco: Pedro Pascal, Rosario Dawson, Diana Lee Inosanto, Michael Biehn, Wing Tao Chao
Duração: 47 min.