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Crítica | The Mandalorian – 3X07: The Spies

Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não.

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

The Spies será facilmente visto por muita gente como o melhor episódio da terceira temporada de The Mandalorian e, por alguns tantos, talvez até um dos melhores da série inteira até agora. E o episódio realmente tem tudo para agradar, seja uma variedade de novas armaduras para serem imediatamente transformadas em figuras de ação, seja muito tiro, seja um sacrifício trágico, seja uma revelação “chocante” sobre Bo-Katan, seja o retorno do malvadão Moff Gideon, sejam as conexões com o universo mais amplo da franquia, com direito até mesmo à menções ao Grão Almirante Thrawn. Há de tudo um pouco, portanto.

E eu tentei gostar como muitos certamente gostaram. Tentei de verdade. Afinal, na minha última crítica uns dois leitores da categoria “eu sei tudo porque sou um verdadeiro fã e você não sabe nada porque é um crítico metido” me esculacharam por não “entender” o que Jon Favreau estava tentando fazer com a temporada, que ela era de transição, que ela servia para criar pontas para o desenvolvimento de uma história maior. Chega a ser engraçado alguém realmente concluir que o plano de Favreau é tão complexo que é possível não captá-lo se o espectador tiver mais do que seis anos de idade… No entanto, o que muita gente não leva em consideração é que não interessa o plano macro quando sua execução é uma mixórdia. 

Vejam: as duas primeiras temporadas entregaram um faroeste espacial de primeira com começo meio e fim que poderia ter continuado na mesma esteira ou ter abordado justamente a mitologia dos mandalorianos, mas o que Favreau fez, com a temporada 2.5 foi desfazer o arco completo que ele próprio havia construído tão bem unicamente para reunir Din Djarin com Grogu novamente. Isso fez com que o personagem evoluísse e ele nunca se recuperou dessa queda, e não ajudou o fato que a temporada atual atira para todos os lados, sem saber muito bem o que fazer para organicamente colocar peças para lidar com o macro – a tal construção de universo que “eu não compreendi” – e o micro, que é a jornada do protagonista e até mesmo dos demais mandalorianos, especialmente Bo-Katan, resultando em um Frankenstein narrativo que é totalmente perdido e com lógica falha do começo do ao fim e que, ainda por cima, é incapaz de erigir uma mitologia mandaloriana realmente engajante para quem estiver procurando mais do que o básico.

Querem ver como Favreau se perde completamente em sua tentativa de expandir esse universo? Peguem como exemplo a sequência pré-título de The Spies que é composto de duas conversas holográficas, uma de Elia Kane com Moff Gideon e outra de Gideon com o Gabinete das Sombras. Essas sequências são, lá no fundo, remendos narrativos que o roteiro co-escrito por Favreau e o queridinho Dave Filoni marreta no episódio para criar aquela aparência de coesão, aquela ideia de uma bem construída preparação da chegada do Grão Almirante Thrawn e o quanto os oficiais remanescentes do Império batem cabeça, cada um com seu próprio plano maligno. É disso que eu falo. O problema não está no plano de Favreau, mas sim na forma como ele coloca esse plano em movimento, pois todo esse preâmbulo poderia ser trabalhado de maneira muito mais cuidadosa ao longo da temporada e não servindo de momento expositivo para fã dar gritinhos e soltar lágrimas no sofá da sala porque ouviu o nome de seu personagem favorito do Universo Expandido. Confesso que eu ri em incredulidade desse início canhestro.

Mas nada, absolutamente nada poderia me preparar para o que viria depois do título da série, que foi a transformação de Grogu em um piloto de mecha. Ver o sapinho verde pilotando IG-12 e clicando nos botões de “não” e “sim” transformaram as cenas com Jack Black e Lizzo em algo comparativamente tão denso quanto Succession ou, para ficar no mesmo universo, Andor. E eu sei que Star Wars é, em essência, uma franquia infanto-juvenil e eu acho que esse é o caminho mesmo, mas a IGeização de Grogu pareceu-me uma patética e desesperada tentativa de fazer o personagem ter alguma função na história, mesmo que, no frigir dos ovos, ele acabe não tendo nenhuma no episódio para além de apartar uma briga que, conforme Bo-Katan um segundo antes disse, não deveria ser apartada. 

E esses dois grandes momentos que tomaram quase metade do episódio acabaram soterrando, para mim, o que ele teve de bom, que é justamente o “secos e molhados” da série pós-faroeste espacial focado em Din Djarin. Em outras palavras, quando finalmente chegamos no “vamos ver”, com os mandalorianos juntos retornando à Mandalore, encontrando os mandalorianos que nunca saíram de lá e, ao final, sendo emboscados por Moff Gideon, eu já não estava mais levando o episódio a sério. Eu simplesmente não consegui, mesmo vendo valor razoável no que Favreau e Filoni tentaram fazer.

Usei a expressão “valor razoável”, pois é isso mesmo. Ao perder tempo com imbecilidades, o episódio teve que correr com três linhas narrativas que simplesmente precisavam ganhar mais tempo para serem desenvolvidas. A primeira delas é a dos mandalorianos que nunca deixaram mandalore e, pelo visto, “navegam” pelo planeta sem anotar no caderninho deles onde ficam as criaturas perigosas capazes de destruir o barco deles com uma patada. O conceito desses mandalorianos é interessante, mas tudo é simplesmente arremessado na tela para, novamente, vender bonequinhos e fazer fã babar com qualquer coisa. A segunda linha narrativa desperdiçada é a do passado de Bo-Katan e a revelação de que ela se rendera para Moff Gideon que, ato contínuo, a traiu. Havia muito para se falar ali, muitas consequências para serem discutidas, mas o roteiro preferiu não parar a velocidade supersônica, tornando tudo raso e vazio. 

Finalmente, a terceira linha narrativa que ficou extremamente acanhada é justamente o plano de Moff Gideon que, ao que tudo indica, construiu uma mega-base imperial nas barbas dos mandalorianos que nunca abandonaram o planeta, mandalorianos esses que sabiam exatamente onde estava a Grande Forja. Quer dizer então que o estratagema de Gideon é criar Dark Troopers feitos de Beskar? Sério que é algo tão simplório assim? Troopers em quantidade boçal nunca foi o problema do Império ou da Nova Ordem. Essas buchas de canhão precisam ser à prova de bala para ele ganhar a briga contra a Nova República? Confesso que esperava mais de Gus Fring, mas, pelo visto, resolveram transformá-lo no “louco varrido” de forma que Thrawn possa ressurgir ainda mais triunfalmente. 

Ah, sim, claro, o título. Sim, gente sabichona. Percebi o plural e percebi também que se a primeira espiã era óbvia (eu mesmo já havia cantado essa pedra lá atrás), a segunda – a Armeira – era menos óbvia, mas a saída estratégica dela bem na hora da emboscada já me leva a crer que ela está longe de ser quem ela diz que é, até porque suas ações é que tornado possível essa armadilha que todos caem. Certamente é uma armadilha repleta de uma infinidade improvável de peças móveis, mas fazer o que? Resta entender o porquê e o como, ainda que eu não tenha esperança alguma de que haverá uma lógica perfeita no que Favreau apresentará no último episódio. Isso se minha suspeita se concretizar, claro. 

E, se eu não falei quase nada das cenas de ação e da morte de Paz Viszla é porque, para mim, tudo foi decepcionante se o objetivo era me fazer desviar a atenção dos problemas deste episódio e da temporada como um todo. Eu adoro tiroteio, mochilas voadoras e armaduras reluzentes como qualquer um e eu mesmo ainda compro os tais bonequinhos que tanto cito de maneira jocosa, mas daí a elogiar a pancadaria e glosar os evidentes problemas narrativos é um salto grande demais que eu não estou disposto a dar. The Spies é como um feijão aguado com arroz grudento que o cozinheiro tem a pachorra de vender como iguaria fina. 

Obs: Não adianta, Grogu continua sem função mesmo tendo se transformado em piloto de robô quebrado.   

The Mandalorian – 3X07: The Spies (EUA, 12 de abril de 2023)
Showrunner: Jon Favreau
Direção: Rick Famuyiwa
Roteiro: Jon Favreau, Dave Filoni
Elenco: Pedro Pascal, Katee Sackhoff, Emily Swallow, Carl Weathers, Katy M. O’Brian, Simon Kassianides, Mercedes Varnado, Tait Fletcher, Giancarlo Esposito, Brendan Wayne, Lateef Crowder
Duração: 53 min.

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