O que falar do terceiro livro de bastidores de Star Wars escrito por J.W. Rinzler que eu já não tenha escrito nas críticas do primeiro e do segundo? Essa trilogia de livros simplesmente precisa figurar orgulhosamente na estante de fãs da saga espacial de George Lucas, mas não apenas como enfeite e sim para leitura e apreciação da gigantesca quantidade de imagens interessantíssimas pesquisadas e recolhidas por Rinzler nos cofres da LucasFilm. É o mais próximo que alguém pode chegar de ter a sensação de “ter vivido” essas fantásticas produções que mudaram o cenário da ficção-científica/fantasia e do Cinema como um todo.
Sem dúvida alguma, o que temos em todos os livros – e em The Making of the Return of the Jedi não é diferente – é uma visão unilateral e fundamentalmente benigna de todo o mundo de bastidores desses blockbusters. Afinal, Rinzler nem mesmo é um autor externo contratado pela LucasFilm, mas sim funcionário da empresa. Assim, não há que se esperar polêmicas sendo levantadas, pelo menos não diretamente. Mas, mesmo sem comentários apimentados, qualquer um pode absorver inestimáveis detalhes de cada um desses livros e aprender muito do processo demorado de criação desses filmes (e de obras cinematográficas como um todo) desde a ideia até a distribuição.
Friamente, se compararmos o terceiro livro com os outros dois, uma diferença é claramente visível: as entrevistas usadas por Rinzler como base para suas outras obras inexistem aqui. Mas o próprio autor explica isso no começo, informando que, apesar de O Retorno de Jedi ser o filme mais “recente”, há surpreendentemente poucas entrevistas com elenco, diretor e equipe técnica feitas na época da produção. Com isso, porém, o problema de “desorganização” que detectei em The Making of The Empire Strikes Back praticamente desapareceu nessa edição, já que as entrevistas eram fatores predominante para essa aparência confusa.
No entanto, se alguém acha que as entrevistas fazem falta no livro, é porque não fazem ideia da capacidade de Rinzler de fuçar profundamente os arquivos da empresa em que trabalha. O autor parte de pequenos memorandos internos, de mensagens trocadas (bilhetes, basicamente, pois, lembrem-se, e-mail era coisa de ficção científica em 1983), atas de reunião e elementos menores dessa natureza para montar um cenário coeso do que estava acontecendo na produção de O Retorno de Jedi. Seu trabalho detetivesco dá frutos e, se lermos nas entrelinhas, repararemos como o terceiro filme foi conturbado. Rinzler não afirma isso, nem levanta a bola diretamente, mas, em seu texto objetivo e conciso, ele deixa entrever problemas e confusões geradas por constantes alterações no roteiro, interferências de George Lucas, relacionamento ruim entre Richard Marquand com o elenco e equipe técnica e as diversas re-montagens por que o filme passou antes do corte final.
Esses aspectos, aliás, dão o verdadeiro sabor a esse livro, especialmente a compreensão do quanto Marquand aparentemente não tinha exata ideia do que estava fazendo, exigindo que Lucas participasse ativamente não só das filmagens, como da montagem depois que o primeiro corte (ou corte de Marquand) ficou pronto e basicamente desagradou todo mundo. Apenas para exemplificar, a presença de Lucas no set de O Império Contra-Ataca foi bastante reduzida, pois a condução de Irvin Kerschner foi exemplar (e, não por coincidência, acabou gerando o filme mais adorado da Trilogia Original). Com Lucas micro-gerenciando o trabalho de Marquand, as idas e vindas foram extensas e, ainda que não tenham ameaçado o término do filme, inevitavelmente geraram rusgas, especialmente quando o diretor foi quase que completamente alijado do processo de re-montagem e das filmagens extras necessárias, como a da pira em que o corpo de Darth Vader, digo, Anakin Skywalker é queimado, feita no jardim do Skywalker Ranch.
Mas há também muita informação preciosa sobre o filme que poderia ter sido, com ideias que chegaram a ser aventadas, mas, por uma razão ou outra, nunca foram para as telonas. Em uma delas, as participações de Yoda e de Obi-Wan Kenobi, teriam sido bem mais significativas, com os dois inclusive voltando à vida magicamente ao final (sério!). E, do lado pessoal, ainda que, claro, Rinzler não aborde a questão diretamente, lemos sobre o divórcio de George Lucas e Marcia Griffin, montadora da fita. De certa forma, entendemos um pouco como isso viria a afetar Lucas, especialmente durante a pós-produção.
Em termos de riqueza fotográfica, The Making of Return of the Jedi é tudo que nos acostumamos a esperar de Rinzler. Há abundância de fotos de bastidores, de arte conceitual (muita coisa de Ralph McQuarrie e Joe Johnston) e de detalhes das maquetes usadas na produção. Apenas por elas, o livro já valeria cada centavo.
The Making of Return of the Jedi é imperdível. Um livro para ler, admirar e deixar em destaque na biblioteca de qualquer fã de Star Wars em particular e de Cinema em geral.
The Making of Return of the Jedi (Idem, EUA – 2013)
Autor: J.W. Rinzler
Editora (original): LucasBooks (ainda não publicado no Brasil)
Páginas: 372