- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos episódios da série.
Depois do trágico acontecimento com Henry e Sam no episódio anterior, Kin acompanha Joel e Ellie procurando Tommy em meio a belíssimas montanhas cobertas de neve. Não sou exatamente fã do salto temporal de três meses, pois gostaria de ter visto mais da reação imediata dos personagens e dessas partes da jornada, além de que grande parte do relacionamento dos protagonistas ser desenvolvido em elipse não me agrada totalmente, mas o sexto episódio continua e desenvolve a ótima abordagem íntima do bloco inicial de Please Hold to My Hand com foco em momentos ordinários sobre os protagonistas se aproximando.
Eu gosto dessa pegada em The Last of Us. Apesar de entender possíveis reclamações de ritmo (mais disso à frente), a narrativa do seriado floresce quando deixa o espectador conhecer Joel e Ellie enquanto eles se conhecem. A escolha da produção pela sensível diretora Jasmila Zbanic (Quo Vadis, Aida?) para capitanear este episódio foi acertada, com encenações delicadas, como a sequência dos personagens se unindo enquanto Ellie visualiza a aurora boreal, e também muitos planos vastos em locações de encher os olhos, com destaque para a fotografia do capítulo.
Kin também tem um foco interessante na falibilidade e nas inseguranças de Joel, assim como nos medos de abandono de Ellie. Ainda acho que falta um certo impacto dramático para solidificar os personagens em determinados momentos, mas a cena do quarto começa a encorpar a relação deles com certas camadas de atrito e dependência que eram necessárias para desviar das carismáticas piadinhas da adolescente sarcástica e o crescente carinho da figura paterna.
A adição de Tommy e a pausa narrativa no vilarejo de Jackson são importantes para desenvolver esse envolvimento emocional com os personagens, até porque Joel e seu irmão têm uma relação conturbada e cheia de traumas que proporciona bons diálogos, cutuca algumas feridas e atinge a vulnerabilidade do protagonista durão. A cena de Joel declarando seus limites e sucumbindo às suas emoções é bastante comovente, sendo necessário destacar a performance de Pedro Pascal, finalmente conseguindo trabalhar seu personagem com mais latitude dramática.
Noto, porém, algumas dificuldades pontuais do roteiro em criar situações que capturam nossa atenção e mantenham um ritmo mais gostoso de acompanhar a história, mesmo em seus eventos mais “banais”. Por exemplo, temos alguns momentos clichês e batidos, como a sequência de Ellie aprendendo a atirar, assim como algumas cenas divertidas, como a ótima sequência inicial com o cômico casal de “reféns”, mas são poucos os momentos que deixam alguma impressão mais forte que não seja o apelo visual (realmente bonito, como já pontuei).
Existe, novamente, o problema da falta de tensão, com os personagens perambulando por longas áreas sem topar com nenhuma ameaça, mas até no ótimo bloco de Jackson penso que a direção desperdiçou algumas oportunidades, como o bloco do cinema que poderia ter sido melhor utilizado, principalmente da perspectiva de Ellie. A construção de mundo em termos de design de produção daquela locação é fantástica, mas a narrativa explora bem pouco esse ponto da jornada dos protagonistas, principalmente quando pensamos que eles ficam apenas um dia no lugar.
Não me entendam mal, acredito que Kin tem uma abordagem pessoal que é necessária, além de ser compactada com muitos embates dramáticos potentes, especialmente entre Joel e Tommy, mas com destaque para a briga de Ellie e Joel na noite anterior de pegarem a estrada de novo. No entanto, a jornada em si pode ser melhor, algo que fica claro no fraquíssimo ato final da Universidade, com uma direção ausente de aflição, uma luta rápida, uma fuga atrapalhada e um bloco importante que acaba sendo corrido e compactado nos minutos finais do episódio para termos um cliffhanger.
Com exceção do desfecho atabalhoado e irritantemente rápido, tivemos mais um episódio acima da média do seriado. Não assumam que estou reclamando de “falta de ação”, até porque aprecio Kin por ser efetivamente uma pausa narrativa depois de alguns obstáculos difíceis para nossos protagonistas, mas ficou faltando um toque de perigo na história e um roteiro com mais situações criativas para Joel e Ellie em sua road trip. Passando pelos problemas, há muito o que se apreciar em um episódio que desenvolve seus personagens com muita vulnerabilidade, atrito e afeição. No fim, Joel realmente é falho, como deveria ser.
The Last of Us – 1X06: Kin (EUA – 19 de fevereiro de 2023)
Criação: Craig Mazin, Neil Druckmann
Direção: Jasmila Zbanic
Roteiro: Craig Mazin, Neil Druckmann
Elenco: Pedro Pascal, Bella Ramsey, Gabriel Luna
Duração: 57 min.