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Crítica | The Last Kingdom – 5ª Temporada

Tudo converge para a fortaleza de Bamburgo.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas das demais temporadas. 

Claro que, apesar de a quinta ser a última temporada de The Last Kingdom e ela levar Uhtred Ragnarson ou Uhtred de Bamburgo ao comando de sua fortaleza ancestral à qual ele jurou retornar, ainda não chegamos ao final das aventuras do protagonista. Ao que tudo indica, isto vira na forma de um ou mais longas-metragens, o que é uma pena considerando o ponto em que chegamos e o material literário de Bernard Cornwell que ainda há para a frente e que provavelmente será comprimido para caber no formato de filme. Mas o bom – o ótimo! – é que, independente de como a jornada de Uhtred continuará, a última temporada da série pode ser vista como um excelente encerramento do macro arco do protagonista, provavelmente o maior sofredor de toda a História da TV considerando o tanto que ele perdeu desde que nasceu.

A temporada foi muito, mas muito bem feita. Seu problema é unicamente a conveniência dos roteiros com as distâncias, algo que é padrão na série e que, aqui, não é nem de longe curada. Distâncias enormes são cobertas ao bel prazer do que exige a história, ora de maneira instantânea, ora lentamente, sem a menor preocupação com algum semblante de lógica interna. E não é que as distâncias precisem ser vistas e sentidas para eles existirem, pois não é isso que uma série ou um filme deve fazer, mas sim trabalhar a montagem de forma que o espectador não se sinta ludibriado, não enxergue tão facilmente as conveniências. Claro que isso é detalhe, especialmente depois de cinco temporadas em quase sete anos desde que a série começou, mas fica aqui, o que é, muito sinceramente, o único aspecto que me impediu de dar a nota máxima.

The Last Kingdom vinha em um crescendo. As e temporadas, ainda sob o guarda-chuva da BBC, conseguiram mostrar seu valor apesar de orçamentos sensivelmente baixos para a escala exigida. Quando a série foi comprada pelo Netflix, a 3ª temporada imediatamente mostrou mais polimento e mais qualidade no geral, com a 4ª temporada seguindo esse mesmo ritmo. E eis que, então, vem a derradeira temporada para finalmente levar Uhtred à Bamburgo, mas não fazendo um caminho em linha reta, mas sim primeiro estabelecendo um considerável salto temporal, talvez o maior entre temporadas, não estou certo, que coloca Uhtred (Alexander Dreymon) e seus leais soldados, o que inclui o agora crescido Æthelstan (Harry Gilby), filho bastardo do Rei Eduardo (Timothy Innes) que ficou sob seus cuidados no final da temporada anterior, em um entreposto comercial na fronteira entre os Reinos de Mércia e Nortúmbria, à serviço da agora Rainha Æthelflaed (Millie Brady), com o agora Rei Sigtryggr (Eysteinn Sigurðarson) governando ao lado de sua rainha Stiorra (Ruby Hartley), filha de Uhtred, em Jórvík.

A situação aparentemente consolidada dos reinos logo sofre um solavanco pesado com o retorno da vingativa Brida (Emily Cox), com sua filha feiticeira Vibeke (Emili Akhchina) e um exército de daneses furiosos que ela reuniu ao longo dos anos na Islândia – mostrados em uma sequência fenomenal de sacrifício na areia vulcânica da ilha – como um culto aos deuses de sua religião. Claro que o objetivo aparente da guerreira é abrir espaço na saxônia para os daneses, mas o que ela quer mesmo é a cabeça de Uhtred, algo que ela começa fazendo ao castrar seu filho Uhtred (Finn Elliott) e ao tomar Jórvík. São uns três ou quatro primeiros episódios da temporada que pintam um quadro extremamente sombrio para o protagonista, algo que é agravado pela doença mortal de sua amada Æthelflaed que lhe recusa ajuda em razão disso, mas sem revelar seu câncer e pela cada vez mais insidiosa – e odiosa – presença de Æthelhelm (Adrian Schiller, de longe o melhor ator da série) que tem como único objetivo garantir que sua linhagem, representada por seu neto Ælfweard (Ewan Horrocks), prevaleça.

O encadeamento de eventos é complexo – não difícil, há uma diferença – e não vejo razão para abordar as minúcias. O importante, para fins da presente crítica, é notar como os roteiros, mais do que nas temporadas anteriores, apresentam textos muito bem amarrados uns com os outros que, ao mesmo passo em que ampliam os horizontes da série com a introdução, por exemplo, do imponente Rei Constantino da Escócia (Rod Hallett), criam uma história una que vai fluida e tensamente de Brida atacando Uhtred e Sigtryggr, até Uhtred e Stiorra salvando o Rei Eduardo da morte certa e tomando Bamburgo. Aliás, tensão é a palavra para caracterizar a temporada. Considerando o notório sofrimento por que Uhtred passa basicamente a cada episódio desde 2015, é interessante ver como a equipe de roteiristas constrói em cima de expectativas, criando novos caminhos para fazer do protagonista um campeão do virar a outra face para apanhar mais, só que ao mesmo tempo criando sequências emocionantes como seu embate final com Brida e, mais ainda, quando ele finalmente enfrenta Eduardo e todos – inclusive a mãe do rei – ficam ao seu lado.

Juntamente com uma boa quantidade de cenários variados que se concentram, curiosamente, na parte norte do Reino de Mércia, e não mais na capital de lá ou em Wessex, o que oferece novas oportunidades para a direção de arte e para a fotografia trabalhar novas regiões, temos algo importante para a unicidade narrativa, que é mostrar muito claramente que cada passo da jornada de Uhtred realmente importa. Seu retorno a Bamburgo, claro, é o ponto principal, mas o importante é notar como exatamente ele retorna ao seu lar ancestral. Não se trata apenas de um desejo e um juramento dele ainda muito jovem, mas sim parte de algo mais importante que beneficia daneses e saxões simultaneamente – e, de quebra, os escoceses, não podemos esquecer – e que ouvimos Uhtred falar um mihão de vezes ao longo de toda a série: destino. Então sim, ele retorna, mas não retorna por egoísmo, mas sim porque sua volta e tomada de Bamburgo, naquele momento, faz pleno sentido estratégico para todos os envolvidos, ajudando muito que os roteiros dos dois últimos episódios são primores de tensão e de bom uso de personagens sempre interessantes, alguns completamente esquecidos, como Haesten (Jeppe Beck Laursen), que finalmente ganha sua redenção, Hild (Eva Birthistle), a sensacional freira-guerreira que mostra ainda saber manejar uma espada e, claro, o jovem Osbert (Olly Rhodes), outro filho de Uhtred que há tempos sequer ouvíamos falar.

Em outras palavras, há uma perfeita sensação de movimento circular neste temporada final que coloca Uhtred naturalmente em seu lugar na costa da Nortúmbria, como líder tanto de daneses como saxões e ao lado de sua família sobrevivente completa, mas sem deixar as portas abertas para a continuidade da história se assim desejarem e da forma que for possível. Quando comecei a ver The Last Kingdom, jamais imaginei que a série chegaria tão longe e com tanta qualidade, mesmo que Dreymon continue fraquíssimo como ator, algo que já me acostumei e nem ligo mais (mentira, ligo sim…). Não me importaria em ver mais temporadas serem produzidas, mas aceito um ou mais filmes no lugar se não tiver jeito…

The Last Kingdom – 5ª Temporada (Reino Unido, 09 de março de 2022)
Direção: Andy Hay, Alexander Dreymon, Paul Wilmshurst, Anthony Philipson, Jon East
Roteiro: Martha Hillier, Laura Grace, James Smythe, Alex Straker, Alex Steward (baseado em romances de Bernard Cornwell)
Elenco: Alexander Dreymon, Emily Cox, Eliza Butterworth, Mark Rowley, Cavan Clerkin, Jeppe Beck Laursen, Millie Brady, James Northcote, Ewan Mitchell, Timothy Innes, Adrian Schiller, Stefanie Martini, Finn Elliott, Ruby Hartley, Richard Dillane, Dorian Lough, Steffan Rhodri, Eysteinn Sigurðarson, Amelia Clarkson, Harry Gilby, Patrick Robinson, Phia Saban, Micki Stoltt, Harry Anton, Sonya Cassidy, Ryan Quarmby, Jaakko Ohtonen, Ossian Perret, Ewan Horrocks, Rod Hallett, Emili Akhchina, Ilona Chevakova, Klara Tolnai, Lara Steward, Eva Birthistle, Olly Rhodes
Duração: 547 min. (10 episódios)

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