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Crítica | The Handmaid’s Tale – 6X04: Promotion

Morno.

por Luiz Santiago
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Não posso dizer que a brusca desaceleração em Promotion, quase no meio da última temporada de The Handmaid’s Tale, me pegou desprevenido. Não é exatamente novidade que a série já tenha optado por inserir um episódio mais lento em meio a uma narrativa intensa, o que sempre me irritou. No entanto, fillers — ou algo parecido — são uma constante na televisão, e nós, espectadores, conseguimos identificá-los de longe, muitas vezes tentando compreender por que estão ali e o que sinalizam sobre a trajetória da temporada. No caso deste episódio, escrito por Aly Monroe, a única explicação plausível aponta para um problema maior: o planejamento falho da temporada, algo que, para uma série desse calibre, está longe de ser um bom sinal. Ainda assim, é o que temos: um capítulo morno em todos os sentidos, que, apesar de carregar uma camada emocional capaz de sensibilizar alguns, não justifica o grande recuo que a produção escolheu dar nesse momento do show.

Temos, em resumo, 40 minutos de ações periféricas que poderiam ser resumidas em textos mais precisos e bem trabalhados nos episódios posteriores, aqueles realmente focados em impulsionar a narrativa. Há quem insista em defender esse tropeço, como sempre acontece, mas qualquer um com uma percepção nítida da realidade sabe que a temporada final de uma série precisa deslizar como um rio em correnteza firme, entrelaçando cada elemento de forma coesa, significativa e indispensável para o conjunto da obra. Já não cabe mais o capricho de um enredo preguiçoso, do tipo “nada acontece, feijoada”, que se arrasta sem propósito. Os ensaios do plano de bombardeio, a promoção de Lawrence e os demais eventos mostrados aqui não conseguem elevar o episódio além de uma passagem de tempo insípida, quase desperdiçada. Para salvar, há um momento que se destaca, brilhando não apenas por sua execução, mas também no contexto do que a série vinha construindo: a conversa final entre Luke e June, muitíssimo bem dirigida e com atuações aplaudíveis de Elisabeth Moss e O-T Fagbenle, carregando uma interessantíssima intensidade emocional.

Tentei enxergar, neste episódio, uma transição mais clara para a passagem de tempo entre a ação de Luke em Devotion e os eventos seguintes, mas não a encontrei. Culpo a montagem descuidada, que deixou a percepção do tempo confusa, correndo o risco de causar estranhamento narrativo. No caso de Luke, essa falha compromete silenciosamente o seu bloco, especialmente porque, ao que parece, a obsessão de seu sogro por Serena está ofuscando qualquer possibilidade de investigação ou cobrança sobre suas ausências, atrasos e decisões impulsivas, que simplesmente “passam batido”. Para ser honesto, esse detalhe não é crucial, mas gera um incômodo que pesa na avaliação geral de qualidade da temporada. Num episódio já morno, escrito com certa displicência, excesso de didatismo e supervalorização de elementos que, num arco maior, poderiam ser resumidos em poucos segundos, esses tropeços ganham um impacto desproporcional. No cerne da trama, porém, segue-se o plano de bombardeio contra Gilead e o dilema ético e emocional que surge quando Moira e June descobrem que Janine está trabalhando na Casa de Jezebel.

Pelo menos toda a enrolação possível foi condensada em um único episódio. As preparações, embora apáticas, para uma ação contínua — que, insisto, deveria ser o coração de toda a temporada, por razões evidentes — estão a postos, e percebo a série começando a delinear rumos claros para seus diferentes desfechos. Há teorias circulando sobre possíveis “regressões” de alguns personagens, mas, caso isso se confirme, espero (e torço fervorosamente) que não mergulhem no pântano da lentidão narrativa. A palavra de ordem desta temporada é revolução, uma promessa explícita que a série vem martelando há dois anos. Não há como escapar disso. O verdadeiro enigma, no fundo, está na conclusão dos arcos dos personagens centrais em meio a esse turbilhão. Mas o horizonte sinaliza: as coisas estão, enfim, prestes a mudar de verdade.

The Handmaid’s Tale – 6X04: Promotion (EUA, 15 de abril de 2025)
Direção: Natalia Leite
Roteiro: Aly Monroe
Elenco: Elisabeth Moss, Yvonne Strahovski, Sam Jaeger, Max Minghella, Samira Wiley, Josh Charles, Amanda Brugel, Ever Carradine, O-T Fagbenle, Bradley Whitford, Madeline Brewer, Ann Dowd, Timothy Simons, Athena Karkanis, Linette Doherty, Jonathan Watton, Tim Campbell, Matthew Worku, Kwaku Adu-Poku, Charlotte Cattell, Avaah Blackwell, Tyra Chichester, Laila Kharouba, Emmerly Tinglin
Duração: 42 min.

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