Último capítulo desta temporada de The Handmaid’s Tale, Safe estabelece uma situação inusitada para a temporada final. Quero começar falando do impacto da fuga de June e da preparação para esse tipo de cenário no Canadá. É verdade que os episódios do meio dessa temporada para frente se preocuparam em mostrar o crescimento de um sentimento xenofóbico no país de exílio dos americanos, e eu constantemente chamei a atenção para o fato de que esses rompantes preconceituosos clamavam por mais contexto e mais organicidade dos roteiros. O fato é que a série falhou em construir um forte e relevante sentimento de contrariedade em relação aos americanos, de um chauvinismo cada vez mais intenso e de um extremismo conservador ligado às pautas de pânico moral e fanatismo religioso vindos de Gilead. Cenário havia de sobra para isso, se fosse explorado desde o início da temporada. Mas não aconteceu de verdade.
É por esse motivo que, apesar de ter achado ótimo o episódio e gostado muito do desenvolvimento das questões gerais, vi como sendo pouco orgânica a onda de ódio contra os americanos vinda dos canadenses (ao menos nessa intensidade), a ponto de termos uma migração em massa, no fim do capítulo. Me pareceu uma escolha bastante forte e com pouca preparação para que fosse aceita como algo “normal” de um contexto em polvorosa. Mas como disse mais acima, eu gostei das emendas feitas ao problema e de como lograram um bom resultado dramático no final de tudo, especialmente no destino dos personagens: Luke e Nick presos; June e Serena no trem do exílio e Janine levada para algum lugar de tortura em Gilead, após falar as verdades necessárias para Naomi.
Para mim, um outro problema contornado pelo roteiro foi o da exposição do pensamento e sentimentos de Janine ao longo dessa temporada. A personagem deveria ter tido um melhor desenvolvimento no ano, isso ninguém nega, e o que tivemos aqui no final foi basicamente um despertar tardio dela. Basicamente, vimos que acordou para a realidade, sofrendo na pele os problemas de Gilead, trazendo ainda mais dor para Tia Lydia que, assim como Lawrence, é alguém extremamente dúbio em pensamentos e ações e, por isso mesmo, personagens verdadeiramente incríveis. Eu não tinha certeza como Janine reagiria ao ouvir a notícia sobre June, porque a última vez que a série mostrou algum tipo de relação entre elas, Janine estava em estado de choque e brava, achando que June a tinha “abandonado“. Pelo que vimos aqui — ou seja, ao que tudo indica — esse pensamento se dissipou. O que será feito com ela? Haverá alguma conexão com June?
A relação da migração em massa dos americanos com os judeus da Alemanha nazista é a grande marca visual que Elisabeth Moss, diretora do episódio, dá ao final. Aliás, achei esse capítulo melhor dirigido do que os outros que ela assinou no começo da temporada, e gosto especialmente do trabalho de movimentação de câmera dela, utilizando alguns truques visuais aplaudíveis. A fotografia das cenas finais me incomodou um pouco, mas pelo menos dessa vez, uma menor quantidade de luz e um certo monocromatismo fizeram sentido para aquele momento representado na tela. Minha sensação de “não fazer ideia do que acontecerá” segue mais forte, porém. Confesso que tenho medo em relação ao final da série, dado esse caminho super aberto da penúltima temporada, mas torço para haver um encerramento que faça jus a essa impactante série.
The Handmaid’s Tale – 5X10: Safe (EUA, 9 de novembro de 2022)
Direção: Elisabeth Moss
Roteiro: Bruce Miller
Elenco: Elisabeth Moss, Yvonne Strahovski, Madeline Brewer, Amanda Brugel, Ann Dowd, O-T Fagbenle, Sam Jaeger, Max Minghella, Samira Wiley, Bradley Whitford, Ever Carradine, Jason Butler Harner, Carey Cox, Edie Inksetter, Jonathan Watton, Ed Pinker
Duração: 52 minutos