Reta final de temporada, e temos aqui um episódio mais tranquilo, um tanto mais fraco que os anteriores (na verdade, o mais fraco da temporada, até aqui), mas ainda assim, muito bom. Uma trama que estabelece algumas peças no tabuleiro desse penúltimo ano da série e nos prepara para algo intenso no Finale; algo que a gente ainda não sabe, porque toda semana há uma surpresa e, até aqui, essa estratégia dos roteiristas tem funcionado bastante. Resta saber como devem deixar as coisas prontas para que The Handmaid’s Tale se encerre definitivamente com chave de ouro.
O plano da New Bethlehem saiu do papel e está procurando atrair os americanos refugiados no Canadá. Uma das coisas que me deixou “meio assim” com o episódio foi os grupos xenofóbicos aparecerem justamente no momento em que a mudança de país é um tema discutido do lado dos vilões da série. Até então os protestos eram de fanáticos religiosos, amantes de Gilead. Agora temos pessoas que demonstram ódio aos americanos, ordenando que saiam do Canadá. É conveniência demais para um momento só, vocês não acham? É verdade que a coisa toda funciona em termos de escolha orgânica (faz sentido isso aparecer num episódio com esse tema), mas é apresentado como algo novo, de modo que não cai bem ao conjunto geral da temporada.
Lawrence vai pessoalmente ao Canadá conversar com June, convencê-la de que a Nova Belém é o lugar certo para ela e sua família. E como já era de se esperar, Hannah é utilizada como uma moeda de troca, como isca, como prêmio para June. É uma jogada absolutamente genial dos fundamentalistas, especialmente porque June representa o movimento de separação de Gilead. Se ela voltar, é como se desse um aval para que outras pessoas fizessem o mesmo. O episódio levanta um dilema que é ao mesmo tempo moral, político e sentimental, de modo que não há resposta fácil para esse tipo de pergunta. O que vocês fariam no lugar de June? Esperariam a decisão de uma divisão do governo de seu país (ou o que sobrou dele) ou enfrentariam os fascistas para estar ao lado de sua filha?
O encerramento do capítulo tem uma cara anticlimática disfarçada de épica (acompanhada de trilha sonora e tudo). Com a ligação de Tuello, o peso saiu das costas de June e renasceu a esperança de que Hannah seja retirada de Gilead. E segundo uma fala do próprio Tuello, o governo americano está preparando alguma espécie de ataque àquela nação. Eu não sei como isso será feito, se é algo que um único país ou de um conjunto deles, mas com Lawrence no posto de comando da ditadura religiosa, circunstâncias atenuantes podem aparecer, inclusive no campo político. Notem como o roteiro consegue humanizar diversas situações e pessoas aqui. Serena vira oficialmente uma aia dos Wheeler (vocês sentiram algum tipo de dó dela ou festejaram essa prova do próprio veneno?) e Lawrence, o chamado “arquiteto de Gilead“, é mostrado sob um outro ponto de vista: o dele próprio. Talvez esse jogo de dilemas pessoais seja a tônica dos capítulos das próximas duas semanas. Quem disse que o final da penúltima temporada da série seria fácil?
The Handmaid’s Tale – 5X08: Motherland (EUA, 26 de outubro de 2022)
Direção: Natalia Leite
Roteiro: Yahlin Chang
Elenco: Elisabeth Moss, Yvonne Strahovski, Amanda Brugel, O-T Fagbenle, Sam Jaeger, Max Minghella, Samira Wiley, Bradley Whitford, Genevieve Angelson, Lucas Neff, Jordana Blake, Jonathan Watton, Michael Rhoades, Mark Samuels, Dean Buchanan
Duração: 52 minutos