Gilead realmente caminha para uma mudança. Considerando o fim do show na próxima temporada, comecei a especular — e tenho certeza que muitos de vocês também — sobre como o plano de derrubada dessa nação teocrática e fundamentalista se daria. Mas eu não imaginei que, à beira de uma crise, Gilead passaria por uma reforma interna. O plano de Lawrence para um certo renovo nos rituais e políticas nacionais (especialmente em relação às aias e aos estupros) me parecia apenas uma daquelas sugestões que passam batido e que não querem dizer muita coisa, apenas pretendem colocar um pouco mais de lenha na fogueira. Mas depois do que ocorreu aqui, com o julgamento relâmpago e a morte (muito bem-vinda, por sinal) do Comandante Putnam, talvez Lawrence tenha mais prestígio, consiga passar o plano e Gilead passe por uma reforma que a colocará num outro patamar em relação aos olhares internacionais.
Venho falando constantemente sobre isso, porque a série acenou pouco para políticas externas até o momento, uma vez que não tinha maiores aspirações de expandir o Universo ou mudar algo, contando com uma ajuda de fora. Agora, porém, os produtores estão mostrando as muitas possibilidades do governo de Gilead espalhar essa ideologia, exportar o fundamentalismo para outras nações. No Canadá, isso começou com aquele maldito centro cultural, que provavelmente irá mesmo se transformar em um centro de fertilidade, atraindo cada vez mais pessoas. A demonstração de uma suposta “humanidade” em Gilead é uma motivação que a luta para a derrocada do sistema (ainda não sabemos de fato como isso irá se organizar) deverá assumir em paralelo. Basta saber quando os roteiros vão começar a colocar esses blocos em ação.
Em Together, descobrimos exatamente quem capturou Luke e June na “Terra de Ninguém”, ao fim do episódio passado, e isso nos leva a consequências inesperadas na trama. Primeiro, vemos como Serena está cada vez mais submetida a um tratamento de prisioneira na casa dos Wheeler. Depois, notamos como ela tenta utilizar todas as ferramentas possíveis de convencimento para ir até June, imaginando que aquela seria a sua última chance de escapar. É muito curioso ver como Serena está o tempo inteiro colocada em jogos de opressão, e como ela, em quase todos esses momentos, acaba fazendo coisas que, de alguma forma, reforça essa condição opressiva. Agora, sequestrando June, me parece que os escritores irão trabalhar um aspecto levemente diferente, mostrando-a numa situação de fragilidade (e digo “situação de fragilidade” porque me parece que o bebê está para nascer, o que coloca a mãe com dores recorrentes e com movimentação bem limitada, além do risco de perder a criança). A questão é: para onde elas vão?
Ficar na “Terra de Ninguém” parece ser uma estratégia do programa para avançar com a tensão, enquanto tenta emplacar algumas coisas em Gilead, que estão relativamente lentas no grande plano; mas parecem dar passos largos nos micro dramas isolados, como o já analisado evento com o Comandante assassinado por Nick. A cena, aliás, tem uma daquelas brincadeiras sacanas dos diretores da série, e Eva Vives não perdeu a oportunidade de deixar o homem caído, ensanguentado, em um chão com um desenho de asas. Como um anjo caído. Considerando que já estamos na segunda metade da temporada (faltam apenas 4 semanas para acabar) parece que os produtores vão deixar as histórias mais amplamente impactantes para o final. De todo modo, com o que tivemos no encerramento deste episódio, já dá para brincar um pouco de morrer de ansiedade. June e Serena fugindo dos fascistas teocráticos. Quem diria, hein?
The Handmaid’s Tale – 5X06: Together (EUA, 12 de outubro de 2022)
Direção: Eva Vives
Roteiro: Katherine Collins
Elenco: Elisabeth Moss, Yvonne Strahovski, Ann Dowd, Madeline Brewer, O-T Fagbenle, Max Minghella, Bradley Whitford, Mckenna Grace, Ever Carradine, Stephen Kunken, Genevieve Angelson, Lucas Neff, Jeremy Shamos, Carey Cox, Rossif Sutherland, Jonathan Watton, Sean Sullivan, Shawn Devlin, Daryl Patchett, Adam Maros
Duração: 52 minutos