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Crítica | The Handmaid’s Tale – 4X10: The Wilderness

por Luiz Santiago
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  • SPOILERS! Confira as críticas para os outros episódios da série e para o Universo criado por Margaret Atwood  aqui.

Até onde eu consigo pensar, existem dois tipos de grande satisfação quando falamos da recepção a um grande evento, a um grande acontecimento com alguém ou com alguma coisa. A primeira delas é a satisfação pura, marcada por uma beleza que, aqui em The Handmaid’s Tale, nós conhecemos de Mayday, por exemplo. A outra satisfação é a vingativa. Esta normalmente vem acompanhada por uma eticamente complexa noção de justiça através do sofrimento ou da morte daqueles que fizeram outras pessoas sofrerem ou morrerem. E para ser muito sincero, por mais que a primeira satisfação seja uma das coisas mais humanas e bonitas que a gente possa ter, não existe nada que se compara à satisfação de vingança plena contra quem cometeu muitos males. É catarse em estado bruto.

E esta é a satisfação que temos aqui em The Wilderness, nesse sentido, o episódio mais satisfatório da série, que traz a merecida e refinadamente degustada morte de Fred Waterford, o odiável personagem de Joseph Fiennes. O ator criou, ao longo desses quatro anos de show, um personagem que dentro de sua enervante calma, guiava uma sociedade brutal, assassina, que em nome de Deus matava pessoas, estuprava mulheres e as mantinha num regime de escravismo sexual. Sendo um dos grandes líderes de Gilead, Fred representava a essência dessa nação podre, assentada em nome de um cristianismo violento, excludente, assassino e hipócrita. Sua morte acaba tendo um grande peso para a série como um todo, porque representa um primeiro grande golpe de real queda para Gilead.

Desde os primeiros minutos ficou muito claro que June não iria deixar que Fred escapasse, e o roteiro toma essa linha de visão pessoal para criar situações que serão trabalhadas na temporada seguinte, e uma das mais importantes é como fica agora a relação de June com Luke. Ela claramente diz que vai sair de casa e a reação de Luke mostra que ele definitivamente não vai lidar com o fato de June ter cometido assassinato. Aqui, a gente vê a personagem entrando oficialmente para o lado negro da força, assumindo as rédeas de anti-heroína que cabem como uma perfeita luva à June dessa nova fase: livre de Gilead mas não pronta para deixar Gilead ver-se livre dela. E assim como muitas mulheres à sua volta, nós sabemos que June quer vingança.

Elisabeth Moss assume uma postura mais reservada, maquiavélica, cheia de desfaçatez. Após a explosão de ódio no final de Progress, a personagem jogou o jogo da megera domada e com isso conseguiu muito mais do que queria, inclusive com requintes de detalhes e (bem-vinda, devo dizer) crueldade. Vejam que até a carta para Serena ela mandou, o que é um toque maravilhoso para se pensar nessa situação. O medo, que ela disse querer infligir a Fred, foi conseguido em seu grau máximo, e agora será direcionado a Serena, que verá as coisas ruírem ao seu redor. Perceberam como ela já estava fazendo exigências, dominado toda a situação ao utilizar a abertura democrática e as liberdades individuais do Canadá? É por isso que eu digo: tudo e todos deveriam ser severa e fervorosamente intolerante contra qualquer tipo de intolerância ou anti-democracia e ciência. Isso porque, dar espaço e voz, à guisa “ouvir o outro lado” de fascista, reacionário e de teóricos da conspiração, é um caminho sem volta para que a própria liberdade seja paulatinamente comida, até que encontre o seu fim em muitas ou em todas as áreas.

Com os eventos nesse novo patamar, com June sendo anti-heroína e Serena no ciclo de pavor, a série realmente aponta para um lado revolucionário, onde a principal mente por trás de muitas vitórias conseguidas contra Gilead vestiu por completo a sua carapuça de ética e moral divergentes. O que nos espera é chumbo grosso. E não vejo a hora desse palácio de podridão ruir causando o máximo de dores possíveis a todos os que destruíram milhões de vidas. Se não podemos fazer isso na nossa realidade, pelo menos que nos regozijemos com o mesmo processo feito na ficção. E se os rumores de que a adaptação de Os Testamentos pode começar na 5ª Temporada, então realmente a série irá contar com mais um ano extremamente intenso e dinâmico. Para a alegria de todos nós. Bendito seja!

The Handmaid’s Tale – 4X10: The Wilderness (EUA, 16 de junho de 2021)
Direção: Liz Garbus
Roteiro: Bruce Miller
Elenco: Elisabeth Moss, Joseph Fiennes, Yvonne Strahovski, Alexis Bledel, Amanda Brugel, O-T Fagbenle, Sam Jaeger, Max Minghella, Samira Wiley, Bradley Whitford, Charlie Zeltzer, Timothy Ng, Sophia Walker, Li Chen, Percy Harris
Duração: 55 minutos

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