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Crítica | The Handmaid’s Tale – 4X07: Home

por Luiz Santiago
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  • SPOILERS! Confira as críticas para os outros episódios da série e para o Universo criado por Margaret Atwood  aqui.

Uma coisa podemos dizer: nunca houve, em The Handmaid’s Tale, um episódio como Home, e digo isso em muitos sentidos. Aqui, muito mais do que em Vows, o texto e a direção investiram o máximo possível em emoções, com a adição de uma abordagem visual clássica da série, estruturada em espaços muito bem escolhidos, com direção de fotografia escura ou mais acinzentada e planos que destacam o máximo do trauma de June, aliado ao seu sentimento de culpa por ter deixado a filha e a amiga em Gilead. Tudo isso se une para mostrar June em suas primeiras ações no Canadá, indo desde uma satisfatória e brutal sequência dela com Serena até o momento em que ela estupra Luke.

Eu e qualquer pessoa que tem um pouquinho de entendimento de progressão dramática já sabíamos duas coisas: o casamento de June e Luke jamais seria o mesmo e o salvamento de June iria desencadear um outro lado de sua personalidade, à medida que o trauma causado pelos sofrimentos que lhe infligiram em Gilead viriam se manifestar, cobrar o seu preço psicológico. Eu só não imaginei que isso fosse revelado de forma tão potente e tão cedo na série. Mas foi. E foi tremendamente incômodo, real e forte ver tudo isso na tela.

A série já tinha trabalhado o trauma e as questões psicológicas de pessoas resgatadas de Gilead quatro vezes antes; três delas com mulheres adultas (Moira, Emily e Rita) e uma vez com um garoto. Cada um desses indivíduos lidaram com o choque cultural, os traumas e os complexos de forma bem distinta nos capítulos após o retorno; mas como não são protagonistas, não vimos detalhadamente como esses sentimentos acabaram ganhando espaço e foram tratados, adequados à nova realidade. Não é o caso de June. Por conta de seu protagonismo, o público tem agora a oportunidade de ver como alguém que sofreu o tanto que ela sofreu pode manifestar sensações agonizantes, como aquela que ela teve no mercado, até agir de maneira criminosa, desprezível e condenável, tal qual os homens que agiram da mesma forma com ela, quando força o sexo ao próprio esposo. Uma cena chocante e que certamente abala o caráter geral da personagem, adicionando-lhe mais uma camada.

Ficção boa é ficção com personagens tridimensionais, e essa temporada de THT está fazendo isso com todo mundo. Agora que chegou a vez de June ganhar a sua maior exploração, temos um imenso impacto e ficamos cada vez mais curiosos para ver como tudo se desenrolará a partir daqui. Ela jamais deixará Serena e Fred escaparem sem um forte impacto legal; ela jamais deixará de buscar um caminho para derrubar Gilead; e parece que a série está para explorar o lado vilanesco de June no meio disso tudo, tendo o sentimento de vingança como amparo. A cena final é absolutamente brilhante ao nos indicar isso, tanto pela montagem entre o discurso dela para Tuello com cortes para Serena “entregando-se” a Fred a fim de salvar a própria pele (e está 100% claro que é só por isso mesmo), quanto pela maneira como o monólogo foi escrito, deixando a linha de ambiguidade e a aproximação comportamental entre essas duas mulheres.

Eu tenho certeza que muita gente vai ficar bravinha com os produtores porque fizeram June estuprar o marido ou porque estão fazendo o trauma dela dominar negativamente suas ações. De minha parte, estou simplesmente aberto a essas mudanças. Quem quer heróis sacrossantos deve buscar exílio nas séries da CW. Se souberem fazer de maneira lógica e contextualizada esse tipo de desconstrução/problematização da personagem (vejam o quanto isso difere da descaracterização que fizeram dela no miolo da temporada passada — aquele sim era o jeito errado de acrescentar camadas negativas a alguém do lado dos “mocinhos”) então teremos um profundo drama humano individual pela frente. E com atores e atrizes excelentes como os que temos aqui — o que foi a performance de Elisabeth Moss nesse episódio, minha gente, pelo amor de Deus! –, isso deverá ser ainda mais instigante. Que surpresa, senhoras e senhores! Que surpresa!

The Handmaid’s Tale – 4X07: Home (EUA, 26 de maio de 2021)
Direção: Richard Shepard
Roteiro: Yahlin Chang
Elenco: Elisabeth Moss, Joseph Fiennes, Yvonne Strahovski, Alexis Bledel, Madeline Brewer, Amanda Brugel, Ann Dowd, O-T Fagbenle, Sam Jaeger, Samira Wiley, Zawe Ashton, Krista Morin, Charlie Zeltzer, Alicia Di Monte
Duração: 47 minutos

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