- Há SPOILERS do episódio e da série. Leia aqui as críticas dos outros episódios.
E neste terceiro episódio disponibilizado logo na semana de sua 3ª Temporada, temos um cenário bastante sólido, eu diria, do que será este ano de The Handmaid’s Tale. Mesmo sabendo que decepções, tristezas e horrores estão nos esperando nas esquinas dos capítulos seguintes — e não é como se não tivéssemos experimentado um pouco deles aqui também –, está muito claro que o show mudou. E mudou para um estágio de enfrentamento que nos coloca para pensar sobre o futuro da série, nos trazendo duas possibilidades, uma positiva e outra negativa. A positiva (embora triste) seria o futuro encerramento do programa, nesta ou na próxima temporada, após a vitória da [possível?] revolução que agora se planeja. A negativa seria a enrolação pura e simples, com os showrunners estendo ao máximo a trama quando na verdade nada mais há para se tirar dela.
Eu quero crer que um time de produção tão bom como o desta série não irá se deixar levar pelo absurdo da segunda opção e preferirá encerrar o show em alta, mas nunca sabe. Por hora, é seguro falar das coisas apresentadas até aqui. Neste Useful, por exemplo, delineou-se ainda mais o papel de June neste novo grande movimento, e de uma maneira ainda mais interessante: ao lado do Comandante Joseph Lawrence. É impossível não aproveitar cada segundo de Bradley Whitford em cena. Seu alinhamento moral parece se tornar mais difícil de ler a cada vez que o vemos, e suas ações no presente episódio acenam para algo realmente perigoso e interessante. Vamos teorizar.
Ele parece ser a grande mente por trás do funcionamento de Gilead, e já foi dito que é um dos chefes de sua economia (e criador das Colônias, ou seja, o trabalho nas terras radioativas). Pela maneira como ele tem se comportado e pelas poucas frases ditas diretamente a June em meio a uma discussão, me parece que ele realmente está interessado em construir “um novo mundo“. Mas sendo uma pessoa infame, ele não se importou em aceitar um período de transição neste tipo de ditadura que é Gilead para criar as condições necessárias que permitissem ao seu “mundo modelo” vir à tona. Uma coisa é certa: ele tem uma pauta ideológica e política bastante definida e está jogando um jogo do qual tem total controle. Minha curiosidade é como os roteiros vão trabalhar isso no futuro. Um excelente material para trabalhar os escritores já têm.
A direção de Amma Asante nesse episódio deixa um pouco a contemplação de lado e parte para um acompanhamento mais ativo e flertando diretamente com o suspense. Isso nós já tínhamos observado em Mary and Martha e agora essa marca parece vir de maneira oficial para os enredos. A impressão de que algo horrível irá acontecer a qualquer minuto é uma sensação que torna a experiência ainda mais instigante e nos faz perguntar: em que momento uma peça do plano de ataque a Gilead irá sair do controle e punições e mais mortes virão para as inocentes? Vejam que aqui June precisou fazer uma escolha moral pesada e esta é uma indicação de que esta relação com o sistema, por dentro, pode fazer com que ela ou suas atitudes possam se tornar, a longo prazo, “alinhadas demais” aos valores de Gilead, como se fosse possível jogar tranquilamente por dentro para conseguir algo maior no futuro. Uma premissa maquiavélica que é interessante como drama, mas pode trazer uma curiosa mudança de valores para a personagem.
As possibilidades de mudança na trama geral desta série ganhou um novo fôlego nessa temporada, algo ainda melhor do que no ano anterior, simplesmente porque divide a opressão com um pouco mais de vitórias e paz. Isso já acalanta um pouco o nosso coração e mostra todo o trabalho dramático com essas mulheres dando frutos. Se o que vier a seguir estiver nessa linha de mudanças, excelente fotografia, direção e dramaturgia destes três episódios iniciais, então teremos mais uma grande temporada em mãos. Que o Senhor Possa Abri-la.
The Handmaid’s Tale – 3X03: Useful (5 de junho de 2019)
Direção: Amma Asante
Roteiro: Yahlin Chang
Elenco: Elisabeth Moss, Joseph Fiennes, Yvonne Strahovski, Sandra Battaglini, Madeline Brewer, Amanda Brugel, Cyndy Day, Carson Manning, Jason Martorino, Max Minghella, Kathleen Pollard, Bradley Whitford
Duração: 53 min.