- Há SPOILERS deste episódio e da série. Leia aqui as críticas dos outros episódios.
Eu poderia me poupar alguns minutos da madrugada e simplesmente seguir a linha infantiloide que o episódio fez questão de palmilhar milimetricamente, dando por ‘crítica pronta’ um comentário que diria tudo o que Heart of the Matter, Part 2 verdadeiramente foi: feio, bobo e chato. Mas por respeito a vocês que vêm acompanhando a série aqui comigo, eu vou seguir mais algumas linhas falando da vergonha alheia que tivemos aqui, à guisa de finale. Vamos lá?
A guerra civil dos Godspeed despedaçou por completo as coisas boas que o restante da 7ª Temporada de The Flash poderia oferecer. O que deveríamos esperar de uma trama que surgiu do nada, teve um princípio misterioso de explicação no penúltimo capítulo e se encaminhou para uma resolução sem maior peso sequer para si mesma? Pois é, não dava para esperar nada. E foi bom ser pessimista a esse respeito, porque ainda foi possível tirar migalhas de algum divertimento no princípio das lutas, mas só isso mesmo, e por alguns poucos segundos. O que tivemos dentro desse arco foi uma desculpa aparentemente criada de emergência para trazer o Impulso para a série, terminando a temporada sem uma verdadeira (e necessária!) definição para o papel que ele pode ou não ter no show daqui para frente. Uma temporada sem indicações notáveis para o futuro e sem fazer jus à história que se dispôs a contar no presente.
“Ah, Luiz, chatérrimo, mas e Eobard Thawne?“, pergunta o meu caro amigo passa-pano de plantão. Ao que eu respondo: Eobard Thawne, ou Tom Cavanagh, para todos os efeitos, é o tapa-buraco oficial da série, e se você ainda conta a aparição dele e a “promessa de retorno em algum momento” como um grande evento em The Flash, eu tenho uma coisa pra te dizer: você estava em coma e acabou de acordar. As más notícias são: estamos em 2021 e não em 2014, viu? Bem-vindo ao inferno!
Agora sério: trazer Cavanagh nesse finale, revivendo o icônico Flash Reverso serviu para que propósito dentro do esquema geral da temporada? O plano desesperado no final, em vez de simplificar a ação para explicar melhor o contexto de aquilo tudo existir, acabou entrando para o ralo da maior complexidade! A ideia era confundir mais o espectador para que ele tentasse entender o que estava acontecendo e se esquecesse do quão horríveis foram cada linha de diálogo, cada luta (o que foi aquele show de horrores à la Star Wars?), cada plano, cara pseudo-explicação, cada ida e vinda da Força de Aceleração? Porque se foi, então o enredo de Lauren Barnett e Eric Wallace conseguiu exatamente o que queria.
O incômodo, para mim, foi ver um potencial bom encerramento de temporada virar 45 minutos que mais pareceram 5 horas, onde pouco ou quase nada fez sentido! Nem a montagem facilitou a compreensão do que estava acontecendo no mesmo bloco e a direção de Marcus Stokes forçou sequências de planos de conjunto, no melhor estilo de diretor insistindo em fazer algo que não consegue fazer bem. O episódio é tão mal dirigido, que a edição lançou mão das piores transições em fades já vistas dentro da série (a sequência do menino Impulso catando é a campeão nisso) e a angulação de passagens em todo o episódio é tragicamente engraçada. Se puderem, revejam a sequência em que todo mundo se reúne para discutir pela primeira vez se daria ou não a velocidade orgânica para August Heart. Não há sequer uma preocupação de harmonia de distanciamento dentro do quadro!
A ideia de trabalhar a família em dois diferentes arcos terminou por levar The Flash à renovação dos votos entre Barry e Iris, como se a série tivesse precisando de mais algum elemento de vergonha alheia. As falas de Cisco na cerimônia são vergonhosas, os votos são estranhamente melosos e batidos, e a maneira como a pós-produção inventou de tratar aquela rodada da câmera no momento do beijo, fechou o episódio com chave de lama.
Fazia muito tempo que eu não sentia genuína vergonha por alguns profissionais dentro de uma série de TV como eu senti nesse episódio. E só para constar: fizeram todo aquele auê para o arco de Kramer para, no final, largarem a personagem e inventarem uma “mímica de poderes” dos outros + um tchauzinho maroto. Tempo e talento de dois bons atores jogados no lixo. Se tem algo que me conforta é o seguinte: quem vai escrever as críticas de The Flash na próxima temporada é o meu colega Davi Lima. E com essa informação, me despeço — acho que pela terceira vez — das críticas desse programa. Espero não ter que voltar a escrever sobre uma temporada dele, daqui a uns 3 ou 4 anos. Será que cancelam a série até lá? Pelo andar da carruagem, seria um favor que fariam a eles mesmos. Ou quem sabe tudo se renova no próximo ano e há fôlego para seguir ainda mais adiante. Alguém aqui espera algo nesse sentido?
The Flash – 7X18: Heart of the Matter, Part 2 — EUA, 20 de julho de 2021
Direção: Marcus Stokes
Roteiro: Lauren Barnett, Eric Wallace
Elenco: Grant Gustin, Candice Patton, Danielle Panabaker, Carlos Valdes, Danielle Nicolet, Kayla Compton, Brandon McKnight, Jesse L. Martin, Jessica Parker Kennedy, Jordan Fisher, Michelle Harrison, Carmen Moore, Karan Oberoi, John Wesley Shipp, Tom Cavanagh, Rick D. Wasserman
Duração: 43 min.