- Há SPOILERS destes episódios e da série. Leia aqui as críticas dos outros episódios.
Após um breve período de férias (porque crítico de The Flash também é filho de Deus), estamos de volta para acompanhar os desdobramentos da sexta temporada do Velocista Escarlate.
Desta vez, trazemos as críticas de três episódios mornos que até conseguem evitar algumas armadilhas típicas da produção, ao mesmo tempo em que mergulham de cabeça em outras tantas, nos deixando sem saber muito bem o que esperar desse sexto ano da produção, que inaugura uma nova fase sob a batuta de um showrunner novinho em folha.
Semana que vem alcançamos a transmissão da série, a tempo de acompanhar passo a passo a aguardada versão CW da Crise nas Infinitas Terras! Vai ser um Natal antecipado ou não vai?
6X02: A Flash of the Lightning
Este segundo episódio vem dar os contornos mais precisos do que a gente pode esperar desse período “pré-Crise” da temporada. Infelizmente, embora traga lá sua cota notável de acertos, a produção volta a escorregar nos seus erros tradicionais. O elenco de apoio é explorado de forma mais interessante do que o habitual, porém esse sucesso acaba não brilhando tanto contra o pano de fundo de um roteiro “inchado” e mal alinhado.
Mais especificamente, o equilíbrio ruim entre o enredo mais amplo da temporada e as subtramas episódicas acaba passando a rasteira em alguns elementos com potencial. A narrativa quase consegue trazer uma continuidade à altura do que foi prometido ao final do capítulo anterior, nos envolvendo com a vindoura Crise e a morte anunciada de Barry (Grant Gustin) pelo Monitor (LaMonica Garret). No entanto, isso acaba perdido em meio a um episódio que, no restante, faz de tudo para não romper com a rotina.
Como alguém que sempre reclama do tratamento ruim dado à Caitlin (Danielle Panabaker) pelos roteiristas, posso dizer que gostei bastante do encaminhamento da personagem nessa sua nova fase de conciliação com seu lado Nevasca. Os toques de humor descontraído com Cisco (Carlos Valdes), Kamilla (Victoria Park) e Ralph (Hartley Sawyer) convencem com algumas sacadas bem bacanas, sem cair na forçação que às vezes caracterizam esses momentos. A subtrama de Cecile (Danielle Nicolet) age com boa intenção ao tentar reforçar organicamente o elenco de apoio para fora do S.T.A.R. Labs, mas simplesmente não encontra espaço ou clima para soar convincente.
Porém, no contexto do anúncio da Crise e com uma visita de Barry ao próprio Jay Garrick (John Wesley Shipp) em busca de respostas cruciais, o tempo investido com o elenco de apoio nessas tramas “menores” acaba custando caro. Senti falta tanto de mais tempo de tela para a viagem de Barry para a Terra-3 (lembra quando uma visita a uma terra paralela era motivo para um episódio inteiro de construção de mundo — por mais galhofeira e baixo orçamento que fosse?) quanto de um roteiro mais trabalhado em termos de contextualizar a relação de Garrick com o cataclisma da Crise.
A ideia de introduzir na mistura uma doppelgänger da mãe de Barry em si não é um problema, mas a exploração preguiçosa da premissa não faz valer a participação especial de Michelle Harrison no episódio, e a aparição dos pais de Barry acaba resumida a fracos diálogos expositivos e um draminha bastante previsível. Fanservice sem muita inspiração, que poderia ter deixado o lugar para uma aparição mais significativa dos personagens mais adiante. Como resultado final, tivemos um episódio mediano que tentou fazer muita coisa de uma só vez, e investiu pouco nos pontos em que mais tinha potencial.
The Flash – 6×02: A Flash of the Lightning — EUA, 15 de outubro de 2019
Direção: Chris Peppe
Roteiro: Sam Chalsen, Jeff Hersh
Elenco: Grant Gustin, Candice Patton, Carlos Valdes, Danielle Panabaker, Hartley Sawyer, Jesse L. Martin, Danielle Nicolet, Victoria Park, Sendhil Ramamurthy, Michelle Harrison, John Wesley Shipp, Kayla Compton, Alexa Barajas, LaMonica Garrett
Duração: 43 min.
6X03: Dead Man Running
Será possível que nem mesmo com uma Crise cataclísmica no horizonte a Família Flash é capaz de abrir mão da rotina de sempre? A obsessão da produção em ticar certos itens de sua checklist de elementos favoritos é prejudicial a ponto de obscurecer um ponto forte que tenho observado nesse início de temporada. Sim, um ponto forte!
Por trás da repetição mecânica de elementos batidos, os roteiros tem agraciado os personagens do elenco de apoio com vozes próprias de uma forma que há muito não se via na série. Caitlin e Cecille são provavelmente os melhores exemplos disso: antes encarregadas de servir de carreto para as necessidades de curto prazo dos roteiros, as personagens têm apresentado boas linhas de diálogo e momentos mais autênticos que conseguem vender bem até mesmo os elementos dramáticos requentados que teimam em pipocar pelo episódio. Algo semelhante acontece com Iris (Candice Patton), que finalmente ensaia ter seu próprio núcleo narrativo saindo da sombra de seu Marido Escarlate pela primeira vez em anos.
No entanto, o esforço parece descoordenado em relação ao restante do que se passa na produção. Quem já está habituado com as mancadas do programa (ou seja, provavelmente qualquer um que esteja lendo isso) certamente já visualiza que esses núcleos dificilmente vão contribuir muito para o andamento geral da trama. Com o cataclisma anunciado da Crise no horizonte, o quanto faz sentido nos ocuparmos com a mudança de carreira de Cecile, os direitos jurídicos dos meta-humanos e a nova personagem Allegra (Kayla Compton), que já se sentiu em casa no seriado e mandou uma DR com a chefe Iris já em sua segunda aparição? Não seria mais negócio focar as coisas em torno do Flash, pelo menos na preparação para um evento que tem sido anunciado desde o primeiro episódio da série?
O grande destaque, no fim das contas, é outra subtrama mais-ou-menos paralela: o vilanesco Ramsey Rosso, que sob a interpretação gloriosa de Sendhil Ramamurthy consegue dar vida à divertidíssima trama de sci-fi/terror B que envolve sua transformação em vilão. Trata-se de um ramo ainda pouco explorado pelo seriado, e que rende ótimos momentos envolvendo Flash e Nevasca, além de amarrar bem a temática de morte e fé que tem embalado essa sequência inicial da temporada. Por sua vez, a chegada de Nash Wells (Tom Cavanagh) complementa um núcleo narrativo muito interessante, que nos deixa empolgados sobre os desdobramentos futuros do arco. O que seria dessa série sem Cavanagh?
No diametral oposto temos a subtrama de um dos meus personagens favoritos, Ralph Dibny (Hartley Sawyer), que se arrasta por cenas intermináveis em um enredo sonífero e sem ponto algum envolvendo sua mãe e seu passado amoroso nebuloso. Essa versão do personagem conseguiu me agradar mesmo nos momentos menos nobres da série, mas ainda assim há de se reconhecer que tudo tem limite. Justamente por curtir todo o seu lance sentimentalista (com seus livros de literal auto-ajuda e tudo mais), esse uso sem inspiração só faz gastar esses aspectos para momentos com potencial dramático real. Além de um tanto bobinha, a trama com a senhora Dibny ainda por cima quebra um pouco da graça das piadas de Ralph a respeito de sua excêntrica vida particular — o tipo de coisa que é sempre mais engraçada quando aludida apenas indiretamente.
The Flash – 6×03: Dead Man Running — EUA, 22 de outubro de 2019
Direção: Sarah Boyd
Roteiro: Lauren Barnett, Thomas Pound
Elenco: Grant Gustin, Candice Patton, Carlos Valdes, Danielle Panabaker, Hartley Sawyer, Jesse L. Martin, Danielle Nicolet, Tom Cavanagh, Victoria Park, Sendhil Ramamurthy, Kayla Compton, Amy Pietz, Mark Sweatman, Shawn Stewart
Duração: 43 min.
6X04: There Will Be Blood
A ameaça de Ramsey Rosso enfim vem à tona em um episódio que, a princípio, tinha tudo para amarrar tematicamente as duas pontas até então um tanto distantes do nosso arco. Em torno do medo da morte e da potencial crise de fé de Barry e de Rosso, a pegada de terror B do nosso vilão recorrente continua a mostrar a que veio, provando que não deve ser mera coincidência que Ramamurthy tenha sido escalado para encarnar um pastiche de A Mosca em uma série super-heroica pela segunda vez.
Longe de ser um divisor de águas para o subgênero ou qualquer coisa do tipo, esse encaminhamento ao menos tinha o potencial de manter o bom ritmo do episódio anterior em um desenvolvimento menos forçado da trama principal, garantindo de lambuja os toques de dramalhão que são requisito imprescindível nos contratos de trabalho da CW com sua equipe criativa.
No entanto, os vícios antigos teimam em dar as caras. Que tal pegar toda essa tapeçaria narrativa e degenerá-la na mais nova revisitação de alguém do Team Flash está guardando segredos na tentativa de fazer o melhor para o outro, mas ironicamente isso gera muita tristeza, beicinho e lágrimas para todas as partes envolvidas®? É um clássico, deve ter algum motivo, certo?
Não bastasse a safadeza desse requentado no núcleo de Barry e Cisco, toda e qualquer semelhança do roteiro com um sci-fi minimamente decente vai pelos ares com a forçação de barra que é feita em torno do soro milagroso apresentado por Nash. “Soro 2 em 1: cura câncer e previne contra os efeitos da Crise”? Por favor, né!? Eu sei que é uma série de super-heroi e tudo mais, mas convenhamos!
A ideia de nosso herói optar por passar o que podem ser seus últimos dias de vida tentando ajudar alguém que pensa ser inocente, mas que secretamente se encaminha para se tornar um supervilão, é um clichê dos quadrinhos que é muito bem colocado aqui. É o tipo de atitude e conflito que se espera ver em uma boa representação de Barry Allen. Mas qual era a real necessidade de se fazer com que o soro em si representasse o antídoto para os problemas (bastante diferentes) de ambos os personagens? Daí em diante, a premissa acaba sendo trabalhada da forma mais boba o possível (a geladeirinha do Cisco servindo de prova dramática contra sua mentira foi um misto entre o Batman do Adam West e uma novela da Televisa — no pior sentido possível), e tudo acaba se resumindo em mais um episódio cansado do bromance Barry & Cisco.
Por sua vez, Ralph e Iris são pareados em mais uma subtrama totalmente descartável (os atores já tinham sido pagos, fazer o quê?), que reforça a mão pesada no dramalhão e nos discursos explícitos sobre a morte anunciada de Barry. Depois de dois episódios com vida própria, Iris volta a servir de garota de recados para as necessidades do roteiro, pajeando um Ralph repentinamente deprimido que desiste de investigar o desaparecimento de sua futura esposa (a própria série faz piada com a falta de sutileza do roteiro para introduzir Sue) porque o Barry vai morrer, ou algo do gênero. Tanto faz, a gente sabe que é tudo pretexto para os discursos motivacionais de sempre!
Já a cena entre Barry e Joe (Jesse L. Martin) foi provavelmente uma das melhores interações “pai e filho” da dupla, ótimas linhas de diálogo entregues em uma rara boa atuação de Gustin. No entanto, afogado em meio a outros tantos discursinhos genéricos, o valor dramático da cena acaba diluído. Ao menos a sequência do hospital garantiu as cenas de ação mais legais desde o primeiro episódio da temporada, com uma nova parceria inspirada entre Flash e Nevasca. Esses momentos positivos acabam fazendo a balança pender levemente a favor do episódio, que pelo menos traz um senso de progresso para além do show visual.
Ao menos se a produção não insistisse em pausar a narrativa para martelar seu conteúdo temático de forma agressiva (o público é capaz de entender, gente…) ou de abrir parênteses o tempo todo para explicar como os personagens estão se sentindo, poderíamos ter tido um belo payoff para esse capítulo inicial de nossa nova fase. Vejamos o que o futuro nos trará!
The Flash – 6×04: There Will Be Blood — EUA, 29 de outubro de 2019
Direção: Marcus Stokes
Roteiro: Lauren Certo, Sterling Gates
Elenco: Grant Gustin, Candice Patton, Carlos Valdes, Danielle Panabaker, Hartley Sawyer, Jesse L. Martin, Danielle Nicolet, Tom Cavanagh, Victoria Park, Sendhil Ramamurthy, Kayla Compton, Meera Simhan
Duração: 43 min.