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Crítica | The Flash – 5X15: King Shark vs. Gorilla Grodd

por Giba Hoffmann
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– Há spoilers. Leiam as críticas dos demais episódios de The Flash, aqui.

Os leitores que acompanham minhas críticas de The Flash já a algum tempo talvez se lembrem que eu sou particularmente favorável aos nossos kaiju(zinhos) residentes da série, Gorila Grodd e Tubarão Rei – mesmo que suas aparições nesta versão televisiva tenham, em sua maioria, deixado a desejar, a ideia de tê-los de volta na série sempre me parece digna de reconsideração. Dito isso, creio que não há amor ao besteirol televisivo sincero grande o bastante para convencer que, no panorama atual da série, King Shark vs. Gorila Grodd pudesse ser uma boa ideia. Com um arco de temporada já praticamente sem fôlego e com uma boa cota de tramas episódicas fracas em nossa memória recente, o conceito sugerido pelo título denota forçação de barra e estupidez a níveis ainda mais elevados do que estamos acostumados a ver nas derrapadas da série. Bem, por sorte eu estava enganado!

Apesar de não elevar o patamar atual do seriado ou algo do tipo, o episódio consegue trabalhar bem sua premissa, oferecendo um lastro narrativo envolvente para sustentar o inevitável conflito épico em CG que nos é prometido pelo título. Astutamente, a história se foca no retornado Shay Lamden/Tubarão Rei (Dan Payne) da Terra-2 e na cientista Tanya Lamden (Zibby Allen), esposa da contraparte da Terra-1 de Shay, morto na explosão do acelerador de partículas.

Ao introduzir a curiosa relação entre os dois e nos dar a primeira pista a respeito do romance, esperei pelo pior. “Lá vamos nós ver essa doutora fazer besteira achando que é o melhor pro cara, para depois acompanharmos um chororô todo a respeito de suas motivações e dramas pessoais e blábláblá…”. Por sorte, estava errado de novo – por incrível que pareça, The Flash conseguiu me convencer a respeito de um romance entre uma personagem secundária e um tubarão que na verdade é a contraparte de seu marido na Terra-2. Pois é.

Trabalhando muito bem a trama super-heróica principal, o roteiro coloca todo o besteirol pseudocientífico a serviço de um encadeamento interessante de eventos. Não só a ideia de se testar a cura meta-humana no Tubarão é bem bolada (e dá um respiro de inteligência a um Team Flash já há alguns episódios bastante catatônico), mas também a ligação entre as duas ameaças animalescas é bem traçada e convence bastante, inclusive resgatando pontualmente elementos de continuidade de forma interessante. A escapada de Grodd é bem explicada e seu ataque chega de forma (relativamente) imprevisível e empolga ao adicionar uma nova camada a uma trama central que já andava bem.

Utilizando-se da coroa telepática do Tubarão para amplificar seus próprios poderes, Grodd parte para um ataque em grande escala que faz justiça ao figurão, redimindo-o em parte do fraco Attack on Gorilla City/Attack on Central City. Com pouca conversa e muita porrada, a subtrama já faz valer em grande parte o retorno do gorilão. Por sua vez, a atitude heroica de Shay convence e traz um inesperado desenvolvimento para um personagem que, para todos os efeitos, parecia fadado a ser um enfeite de tela renderizado em computação gráfica glorificada. Não sei bem como, mas a subtrama do romance dos Lamden me convenceu para além do que a premissa merecia – as maravilhas de que é capaz um roteiro sem excessos quando combinado com atuações ao menos decentes.

Infelizmente, nem tudo são sardinhas. Aquele papel que eu havia previsto para a desafortunada cientista precisou recair sobre alguém. Alguém precisava passar o capítulo inteiro com as emoções à flor da pele e atitudes infantis que fizessem dessa pessoa um personagem facilmente desgostável, como preço a se pagar para fabricar um draminhazinho a mais (“Sabe como é né, nosso público faz questão de ao menos três picuinhas dramáticas por hora ou eles desligam a televisão!”). Mas quem? Que tal… nosso protagonista?

Assim é que o Sr. Barry Allen (Grant Gustin) acaba novamente pintado, de maneira totalmente aleatória, como um projeto de herói eternamente em treinamento com uma inclinação nada saudável a comportamentos infantilóides e soluções mal pensadas. O fraquíssimo ponto sobre “os fins justificam os meios”, levantado de forma forçada e sem inspiração em Goldfaced, volta com tudo para pintar nosso velocista escarlate como alguém com fortes opiniões aleatórias contra o consentimento. Um drama fabricado que não tem amparo nenhum no restante dos eventos da série, e o qual na verdade não funciona bem na continuidade especificamente porque o arco de Savitar já teoricamente teria tratado dele à exaustão. Isso para não dizer do arco Nora na atual temporada, de Dibny na temporada passada, e inúmeros outros momentos das carreiras heroicas do Team Flash.

Barry age como um babaca e acaba jogado para escanteio, enquanto a subtrama de Iris (Candice Patton) com o retornado Joe (Jesse L. Martin, ainda visivelmente baqueado ou é só impressão minha?) faz pouco mais do que encher linguiça e ressaltar a falha completa da série em produzir uma versão de Wally West à altura do personagem — reduzido aqui àqueles casos de novela rasteira onde um ator deixa a produção e todos fingem que o personagem continua a existir por entre as cenas. O que esses fatores combinados mostram é que o próprio elenco fixo da série, o que deveria ser a espinha dorsal de sua narrativa, acaba sendo frequentemente seu ponto fraco.

Nem mesmo um roteiro que consegue a façanha de transformar uma proposta que tinha tudo para não dar em nada em uma trama super-heroica envolvente e divertida consegue atenuar o desencontro e a falta de planejamento explícita a respeito de nosso elenco principal. Com rumores de saídas de atores e com a vindoura Crise pintando no horizonte, é muito pouco provável que a situação melhore a tempo de termos ao menos um desfecho digno dos pontos altos da produção. Enquanto tivermos sequências bacanas como a batalha titular, pelo menos, vamos nos divertindo!

The Flash – 5×15: King Shark vs. Gorilla Grodd — EUA, 5 de março de 2019
Direção:
Stefan Pleszczynski
Roteiro: Eric Wallace, Lauren Certo
Elenco: Grant Gustin, Candice Patton, Carlos Valdes, Danielle Panabaker, Tom Cavanagh, Jesse L. Martin, Jessica Parker Kennedy, Danielle Nicolet, Audrey Marie Anderson, Zibby Allen, Dan Payne
Duração: 43 min.

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