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Crítica | The Flash – 4X21: Harry and the Harrisons

por Giba Hoffmann
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  • Há spoilers. Leiam as críticas dos demais episódios de The Flash, aqui.

De tudo que o episódio dessa semana tentou fazer, uma mensagem ficou clara para mim como nenhuma outra: essa série precisava de um ator para encarnar Barry Allen com o mesmo empenho e gosto com que Tom Cavanagh encarna Harry Wells, em suas múltiplas versões transdimensionais. Claro que nenhuma atuação é capaz de servir de muleta ao ponto de elevar um roteiro ruim a algo mais do que isso, mas é certo que um pouco mais de energia e momentos de improviso e descontração conseguem pontuar uma produção apática de modo a torná-la pelo menos divertida.

Digo isso não apenas por conta das perfomances de Cavanagh com suas versões alternativas estapafúrdias – que constituem afinal de contas algumas das cenas mais inspiradas do episódio. Mesmo no (tradicionalmente sonífero) núcleo príncipal da história, observamos que a dinâmica divertida entre o quarteto Barry (Grant Gustin), Caitlin (Danielle Panabaker), Iris (Candice Patton) e Amunet (Katee Sackhoff) consegue por vezes tirar leite de pedra e divertir de forma minimamente inspirada em cima de uma premissa tão batida que já virou chantilly. Novamente temos um enredo que recombina algumas das subtramas favoritas da produção – muitas delas (se não todas) inclusive já tendo dado as caras dentro dos últimos cinco episódios.

Vamos lá, temos: um antigo inimigo trabalhando junto do Team Flash; Iris com problemas na liderança e tendo leves DRs com Barry a respeito; segredos entre a equipe gerando problemas de comunicação e tensão dramática (“Mas por que você não nos contaria isso?” sem dúvida deve ser uma das frases mais proferidas dessa série); enredo girando em torno de “Temos agora que encontrar X, é a única coisa que pode parar DeVoe!”; resolução via associação livre (bem livre mesmo: “Placebo? É isso, Caitlin! O culpado é o cara que tem uma cobra no olho!” – Ahn!?!).

Pelo que percebi da reação de nossos leitores e de espectadores da série em geral, a vilã rouba-cena Amunet está longe de ter agradado o público tanto quanto a produção parece supor aqui. Provavelmente essa aparição será um ponto decisivo na apreciação da personagem, no sentido do “ame ou odeie”. Eu particularmente sou simpático à ideia da “aeromoça do mal”, proposta inventiva que é explorada de forma bem humorada na atuação completamente escrachada de Sackhoff. Acho sempre preferível esse abraçar do contexto televisivo e da produção trash, criando algo exagerado ao ponto do humor, do que a apatia total com que alguns personagens e tramas acabam construídos, na tentativa de alcançar uma seriedade ou drama que nunca estiveram ali.

O enredo envolvendo a busca pela ajuda da vilã e subsequente tentativa de resgatar suas lascas de metal super-poderosas não traz grandes reviravoltas, e inclusive muito espanta a tentativa de vender o fato de que é Norvock (Mark Sweatman) o responsável pelo golpe pra cima da vilã. Foi mostrado explicitamente que o cara assumiu as operações criminosas de Amunet muito antes que ela própria desse as caras, porque a trilha sonora e a direção estão tentando fazer como se fosse um grandioso plot twist?

Pelo menos a batalha no subterrâneo tem lá seus momentos, tanto com Flash quanto com a dupla Caitlin & Joe (Jesse L. Martin). Nossa “Capitã Fria” não consegue utilizar o poder secreto de “imunidade total a balas” da arma congeladora como Snart fazia, mas eles improvisam uma saída bem interessante para o problema, no maior estilo absurdo e quadrinhesco. Até mesmo o Flash tem seus momentos no episódio! Não sei se é distorção da minha parte, mas parece que tem sido tão raro vê-lo… sabe… se utilizar da sua supervelocidade! Neste episódio ele tem vários momentos legais, com destaque óbvio para o lance do bumerangue de metal de Amunet – ótima sequência de ação! E ainda tivemos a cura de um envenenamento via vibração. Poxa gente assim parece até que eu estou vendo uma história do Flash! Veja só que coisa!

No mais, este episódio conseguiu fazer uma coisa realmente notável que foi trazer um bom momento comédico com Barry. Na cena em que eles vão até o pier para recuperar as coisas de Amunet, a vilã reage com seu jeito hiperbólico tradicional, apenas para Barry dar uma risadinha sem graça e um tanto impaciente. Muito raro ver o Gustin com um timing comédico desses, e somado com a cena em que ele tem que se desmascarar, que traz também um pouco disso, acaba sendo mais uma das coisas que me fez pensar no quanto a coisa toda seria muito mais palatável com um Barry Allen realmente gostável.

Infelizmente é só isso mesmo, já que no subplot do casal Allen a coisa continua anêmica como sempre. O dilema envolvendo a reportagem de Iris é uma premissa bacana tratado de forma risivelmente boba, e incomoda que no final das contas a impressão que fica da montagem é que se tratava de Barry aceitar/permitir ou não a ideia de Iris, como se a decisão não estivesse ali para ser tomada em pé de igualdade entre os dois.

A dinâmica da vilã com Caitlin traz boas cenas para a personagem e possibilita um bom suporte em um raro episódio em que vemos um pouco mais dela, uma das figuras mais subaproveitadas do nosso S.T.A.R. Labs. É bem interessante o desenvolvimento que tem sido dado para a trama da dupla personalidade, com a perda de seu lado Nevasca nos mostrando um momento raro de fúria e nervosismo para a personagem, que nos lembra o quanto ela vinha tendo que se segurar para lidar com os poderes desde que se manifestaram.

É uma pena que a mão pesada do roteiro vem novamente querer entrelaçar a subtrama com a de Harry, em busca por uma unidade temática forçada para o episódio. A revelação de que o splicer de Amunet atuava apenas como placebo não apenas serve de escada para mais uma terrível resolução de enredo via associação livre como sabota toda a tensão da subtrama de Caitlin, encaminhando todo o lance da perda da Nevasca para um desfecho mais previsível e um tanto batido.

Para finalizar e por falar em desfechos previsíveis e batidos… Que rumos está tomando este arco do Pensador, afinal de contas? Por mais que eu tenha achado muito bacana o encontro do Conselho dos Wells Rejeitados (não tem jeito, eu adoro as galhofadas do Cavanagh!) e inclusive interessante e quiçá surpreendente o encaminhamento da história para uma tentativa de cura que comece pela (necessária) melhora de Wells no âmbito emocional, o modo como isso foi amarrado no final foi um tanto preocupante. Especialmente se levarmos em conta o paralelo com a situação de Caitlin e toda a ideia de que “o problema está nos seus sentimentos, busque a solução dentro do seu coração”. Levando em conta que já foi indicado que o ponto fraco de DeVoe é sua dificuldade em compreender emoções, a trama encaminha-se para uma preocupante resolução estilo Ursinhos Carinhosos. A hipótese é fortalecida ainda pelo papo no final de que “A cidade está respondendo o meu post! Eles estão querendo ajudar!”. Esperemos que não. Mas com cautela.

Harry and the Harrisons traz vários momentos divertidos em todas as frentes de suas tramas, e compensa a falta de inovação com bons momentos de personagem e sequências de ação empolgantes – com destaque para nosso protagonista realizando alguns feitos bacanas e protagonizando cenas divertidas para quebrar com a tradição. Deixando de lado a preocupação com os rumos forçados que a trama de DeVoe vai tomando (ainda mais com a sensação inevitável de que a coisa tem se estendido mais do que deveria), temos um episódio decente de The Flash, mas nada que venha a dar jeito na dinâmica desconjuntada em que a temporada tem se encontrado.

The Flash – 4X21: Harry and The Harrisons — EUA, 8 de maio de 2018
Direção: 
Kevin Mock
Roteiro: Judalina Nera, Lauren Certo
Elenco: Grant Gustin, Candice Patton, Danielle Panabaker, Carlos Valdes, Tom Cavanagh, Jesse L. Martin, Katee Sackhoff, Mark Sweatman
Duração: 43 min.

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