Há spoilers. Leiam as críticas dos demais episódios de The Flash, aqui.
Após uma mini-saga em duas partes que deixou os que esperavam por um embate épico entre o Flash e os supergorilas propensos a procurar nas HQs (porque na televisão vai ser difícil, pelo jeito), o episódio desta semana propõe voltar à trama principal da temporada: a entediante incessante caçada à Savitar para evitar o futuro no qual Iris (Candice Patton) é morta pelo auto-intitulado Deus da Velocidade. Infelizmente, os produtores da série permanecem insistindo nos mesmos erros e The Wrath of Savitar não apenas falha em entregar o que o título promete (nos apresentar finalmente a figura de Savitar e o motivo de sua ira e, quem sabe com isso, começar a encaminhar melhor a bagunça que se tornou a trama da série) mas entrega uma dose excessiva de tudo aquilo que a série tem de pior a oferecer.
O episódio começa relativamente bem, com Barry (Grant Gustin) e Jesse (Violett Beane) ajudando no treinamento de Wally (Keiynan Lonsdale) para que ele seja capaz de salvar a vida de Iris. Se por um lado trata-se de uma sequência divertida e descontraída, do tipo que o show tem precisado, por outro lado é difícil ignorar o fato de que a ideia de que apenas Wally possa salvar Iris soa bastante forçada, para não dizer sem sentido. O episódio termina com Wally inadvertidamente ajudando Savitar a escapar da Força de Aceleração, realizando com sucesso o plano do vilão, que se usa do aprendiz de herói trocando de lugar com ele e adquirindo finalmente sua liberdade. Segue-se um rápido combate contra o Flash, que como sempre chega um pouquinho atrasado, rendendo uma boa sequência de luta onde o herói sai derrotado. Entre esses dois acontecimentos temos aproximadamente trinta minutos do que é praticamente uma auto-paródia da série.
Começando pelo menos pior, temos a subtrama das aluncinações de Wally, que é o que mais se assemelha a algo interessante, sendo que o personagem acaba protagonizando boas cenas, em especial no inesperado “encontro” com sua mãe. Infelizmente, ao invés de explorar a condição do Kid Flash de alguma forma minimamente instigante, a rota escolhida pelos roteiristas é inseri-la na já bem conhecida fórmula mágica do drama barato: Wally guardou segredo a respeito de suas alucinações, Barry se enfurece com isso, todos se comovem e pessoas vão para cantinhos do S.T.A.R. Labs cochichar sobre o caso. Depois de um tempo, as partes envolvidas conversam emocionadas, e a vida segue. De novo.
Ocorre uma rápida busca pela caixa da Pedra Filosofal, na qual descobrimos que nesse período todo não passou pelas cabeças do Team Flash investigar o culto que idolatra (com uma estátua enorme no meio do parque e tudo!) o ser que eles dizem estar procurando impedir. Vejam bem, Barry Allen cogitou matar um inimigo e Cisco (Carlos Valdes) cogitou morrer para mudar este evento futuro, mas ninguém cogitou uma investida contra o culto a Savitar, mesmo contando com três velocistas, dois supergênios e um Joe (Jesse L. Martin) que costuma ter a SWAT ao alcance de um toque na tela do celular.
Depois de recuperada a caixa vazia, descobrimos que Caitlin (Danielle Panabaker) também tinha um segredo terrível: ela havia guardado um fragmento da Pedra Filosofal, na esperança de curar seus poderes. Com Barry tendo trazido já há um bom tempo as más notícias do futuro, e levando em conta que eles erroneamente pensavam que o fato de a Pedra estar na terra era o que “ancorava” as manifestações do vilão, digo que não faz sentido a inteligentíssima Caitlin não ter mencionado o fragmento até então. Os personagens entretanto parecem tão dessensibilizados com esses dramas de segredos, que já não fazem muito alarde, aparentemente colocando o vexame na conta de Killer Frost.
Mas é evidente que dois mal-entendidos longos e arrastados em torno de segredos são muito pouco para um episódio chamado The Wrath of Savitar. Ninguém quer ver o Team Flash investigando sobre o oponente ou desenvolvendo formas de enfrentar a ameaça de Savitar. Queremos ver cara feia, beicinho e choradeira! Entra aqui a pior subtrama do episódio, que é a de Iris “descobrindo” que Barry a pediu em casamento tendo em vista mudar o futuro e salvar sua vida. Desde o modo como o drama se arma, com Wally agindo como um menino mimado buscando se vingar da dura que levou mais cedo do irmão/cunhado, até as cenas de Iris num surto de incompreensão que faz parecer que a personagem dela voltou no tempo, a coisa toda simplesmente não convence. Ambos personagens parecem reduzidos às suas formas mais imaturas e, por conseguinte, irritantes. A dinâmica do casal já se apresenta com cansaço em tão pouco tempo juntos e o episódio acaba com Barry chorando em uma maca e Iris sem o anel de noivado, exatamente um episódio após o pedido de casamento. Todo companheirismo dos dois desabando mediante a revelação do motivo “secreto” por trás do pedido em casamento de Barry, em tons dignos de novela mexicana. Seria risível, se não simbolizasse o quanto a série perdeu o foco e se tornou quase que uma auto-sátira de seus piores momentos na já tão longínqua primeira temporada, onde as coisas definitivamente funcionavam melhor.
Se as aventuras com os gorilas se reduziram a boas premissas mal-executadas, The Wrath of Savitar parece uma premissa sem graça executada de forma a alongar as partes mais maçantes e forçadas e abreviar os tímidos momentos em que a trama avança e em que transparece algum sentido de diversão. Não apenas a série exagera na dose do drama fora de hora e de lugar, mas a forma de execução, o timing e a frequência com que o faz beira o impossível. Mesmo após a boa cena com Julian (Tom Felton) “encarnando” novamente o vilão (que acaba sendo apenas uma revisitação daquilo que já vimos anteriormente), a ira de Savitar permanece ainda inexplicada, enquanto a dos espectadores, que aguardam por uma trama divertida, que faça jus ao elenco e aos personagens, continua a aumentar.
The Flash – 3X15: The Wrath of Savitar — Estados Unidos, 7 de março de 2017
Direção: Alexandra La Roche
Roteiro: Andrew Kreisberg, Andrew Wilder
Elenco: Grant Gustin, Candice Patton, Danielle Panabaker, Carlos Valdes, Keiynan Lonsdale, Tom Cavanagh, Jesse L. Martin, Tom Felton, Violett Bane, Vanessa Williams
Duração: 43 min.