Há spoilers. Leiam as críticas dos demais episódios de The Flash, aqui.
A diretora Millicent Shelton, que dirigiu um dos poucos bons episódios da temporada passada, Welcome to Earth-2, volta ao programa pós o hiato desta terceira temporada, em um episódio que apesar de mediano, traz uma possível luz no fim do túnel e que pode, com as devidas desviadas do óbvio através do roteiro, fazer com que esta fase 2017 de The Flash seja salva.
Em partes, o roteiro de Borrowing Problems from the Future é simpático e quase funciona acima da média. Quase. O famigerado vilão da semana é apenas um incômodo parcial, mas ao menos ganha pontos pela presença ligada a algo importante para o #teamflash, um salto notável, se compararmos ao que nos foi apresentado na maioria dos episódios da 2ª Temporada e na maioria dos episódios anteriores desta 3ª Temporada. No enredo, o Plunder (Jared Morillo, interpretado por um enigmático Stephen Huszar), é tanto um mistério de ligação com o futuro visto por Barry em The Present, quanto um impulso para a resolução de mudanças a partir do presente.
O mesmo ânimo não permanece quando consideramos as relações familiares ou de amizade em cena, exceto a sequência da “inauguração” da casa de Barry e Iris (o pior casal do Multiverso), que é bela, bem fotografada e delicadamente dirigida. Das outras relações, a mais forçada é ligada a Julian, que agora entre oficialmente para a equipe. Se já custáramos para digerir HR quando este começou a entrar em um processo de repetições, insistências e bobagens (desperdício criminoso do talento de Tom Cavanagh), imaginem Julian agindo primeiramente como um rude infame com Caitlin (aliás, eles protagonizam a pior sequência de todo o episódio, que é quando a ex-futura Killer Frost recebe uma mensagem do ex-futuro Alquimia. Ela vai até o escritório dele. Ele fala apenas umas amenidades sem nexo e do nada diz “obrigado por ter vindo!“) e depois como um amigão da galera. Simplesmente não dá para digerir bem.
O medo que fica é que baseado no histórico da série de insistir em inimigos internos e plots óbvios que são desmentidos por um roteiro ou outro, mas depois voltam a ser óbvios. Será que podemos ter Julian traindo o grupo? Abrem-se as portas para reinterpretações da profecia de Savitar (agora que existe a desculpa da mudança do tempo) e para o retorno do enredo “o inimigo à frente do meu nariz“. Como se isso não tivesse bastado na 1ª Temporada da série.
Das novidades, os tais problemas do futuro que o título nos sugere são o verdadeiro atrativo. Vocês que acompanham minhas críticas sabem do amor que eu tenho pelo gênero ficção científica e principalmente pelo conceito de viagem/manipulação do tempo. E é preciso ser muito aleatório (como foram os roteiristas e produtores da CW desde Flashpoint) para fazer um enredo com essa riqueza morrer na praia. O lado bom disso é que também é possível consertar esses erros com a própria matéria do erro, ou seja, com a viagem e a manipulação do tempo. Me parece que o trem foi colocado no caminho certo. Se ele seguirá neste caminho, já é outra história.
As atuações neste retorno da série ficaram mais harmônicas para os protagonistas, mesmo no caso dos personagens mais chatos (Kid Chatus, Iris e parcialmente HR, com sua caricata inauguração do Museu). Novamente destaco o esforço de Grant Gustin em criar um herói humano, com falhas comuns e confusões esperadas de um humano em momentos de crise. Uma pena que a série tenha estragado completamente essa linha de abordagem para o herói. É preciso adotar um outro rumo, o que não me parece que vai acontecer. O “Barry inconsequente alterador de linhas do tempo a qualquer custo” entrou definitivamente para a história. E nem ele mesmo pode mudar isso. Para nossa infelicidade.
The Flash – 3X10: Borrowing Problems from the Future (Estados Unidos, 24 de janeiro de 2017)
Direção: Millicent Shelton
Roteiro: Grainne Godfree, David Kob
Elenco: Grant Gustin, Candice Patton, Danielle Panabaker, Carlos Valdes, Keiynan Lonsdale, Tom Cavanagh, Jesse L. Martin, Tom Felton, Jessica Camacho, Stephen Huszar, Greg Grunberg, Andre Tricoteux, Sonia Beeksma, Jason Hunt
Duração: 42 min.