Número de temporadas: 01
Número de episódios: 22
Período de exibição: 20 de setembro de 1990 a 18 de maio de 1991
Há continuação ou reboot?: Não. Mas Barry Allen, vivido por John Wesley Shipp, foi absorvido no multiverso DC por meio do chamado Arroweverse, participando de episódios de The Flash (2014), Arrow e Supergirl. Além disso, Ship viveu tanto Henry Allen, pai de Barry Allen, quanto Jay Garrick, o Flash original, em The Flash (2014) e este último personagem também em Stargirl.
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Se lembrarmos dos anos 80 e 90, chega a ser irônico que os personagens da DC Comics, desde O Homem de Aço, tenham tido tantos problemas para se firmar em um universo cinematográfico compartilhado realmente coeso. Afinal, em 1984, Supergirl dividiu o mesmo universo com o Superman de Christopher Reeve e, em 1990, é perfeitamente possível dizer que The Flash, que só se manteve no ar por uma temporada, foi concebida para dividir o mesmo universo do Batman de Tim Burton. Concordo que são compartilhamentos discretos – no primeiro caso apenas algumas menções e, no segundo, apenas o “espírito” e, claro, Danny Elfman -, mas são tentativas embrionárias interessantes e, em última análise, também falhas de se reunir super-heróis diferentes sob um mesmo guarda-chuva.
The Flash, apesar da vida curta que teve, marcou tanto sua época que a série de 22 episódios não só não foi esquecida, como serviu de modelo para muita coisa que viria nas décadas seguintes em termos de origem de super-heróis no audiovisual e na confecção de seus uniformes, sempre um desafio – às vezes um pesadelo – para as equipes criativas, além de ter sido efetivamente incorporada ao multiverso DC por intermédio da talvez injustamente longeva The Flash, que foi ao ar de 2014 a 2023. Na série noventista, John Wesley Shipp vive Barry Allen, um cientista forense que, depois de um acidente envolvendo um relâmpago e frascos de elementos químicos, ganha incríveis poderes relacionados com super velocidade e torna-se o icônico Velocista Escarlate.
A Warner Bros. lá por 1988, começou a se movimentar na direção da criação de séries de TV sobre os personagens da DC e Danny Bilson e Paul De Meo desenvolveram uma série que traria diversos personagens importantes para a telinha. Esse conceito inicial, porém, não foi em frente, mas o interesse no conceito não demorou a se renovar com o sucesso de Batman (1989) nos cinemas, levando a mesma dupla a conseguir luz verde para trabalhar em uma série focada no Flash que começaria com um piloto de duração dupla, um telefilme, trocando em miúdos. A atmosfera foi quase que completamente herdada do filme de Tim Burton, uma escolha que parecia mais do que natural para época. Com isso, Central City, a cidade fictícia onde Barry Allen vive, é, basicamente), uma versão mais simplificada (e barata) da Gotham City gótica de Burton, algo que é amplificado pelas diversas tomadas noturnas repletas de fumaça e pela escolha de vilões, nada mais do que uma gangue de motoqueiros um tanto quanto genérica liderada pelo vingativo e corrupto ex-policial Nicholas Pike (Michael Nader) que é inimigo mortal de Jay Allen (Tim Thomerson), policial e irmão mais velho de Barry. Sob certos aspectos, sobretudo o grau de violência até elevado para uma obra destinada à TV aberta americana, a série também evoca Darkman, de Sam Raimi, lançado nos cinemas no mesmo ano.
O roteiro escrito pela dupla de criadores da série é o padrão de origens de super-herói: um acidente dá poderes ao protagonista que, inicialmente, os rejeita; ele é ajudado por uma cientista; seu irmão é assassinado pelo vilão e, com isso, o heróis efetivamente nasce, com o uniforme sendo fornecido pela cientista. Mas simplicidade não é sempre sinônimo de história ruim e é sensível o cuidado na criação de uma conexão familiar para Barry e dele com sua namorada Iris West (Paula Marshall), com seu amigo e colega de trabalho Julio Mendez (Alex Désert) e, finalmente, com a Christina R. “Tina” McGee (Amanda Pays), cientista da versão pobrinha (uma salinha, nenhum outro funcionário e alguns aparelhos pseudo-modernos) do STAR Labs. É particularmente interessante como Henry Allen (o veteraníssimo M. Emmet Walsh), pai de Barry e Jay, reverencia Jay por ser um policial verdadeiro e desdenha Barry por ele ser “só” um técnico, o que o magoa profundamente.
Jogando seguro, mas com qualidade, na categoria roteiro, os desafios maiores da produção ficaram mesmo na criação do famoso uniforme vermelho do super-herói e os efeitos de velocidade. No primeiro ponto, o artista de quadrinhos Dave Stevens (criador do Rocketeer) recriou o uniforme clássico emudecendo a cor vermelha, retirando o amarelo das botas e trocando o amarelo pelo dourado nos detalhes, além de rebuscar os “apetrechos” do Flash, especialmente os dois “fones” em seus ouvidos. Com o conceito pronto, coube a famoso Stan Winston Studios construir a roupa com músculos aparentes de forma que ela resultasse em um híbrido entre a armadura do Batman de Burton e um tecido que lembrasse o estilo dos quadrinhos. Talvez, para os padrões de hoje, ela não funcione mais, mas, para a época, ela representou alguns passos a frente na escolha de materiais e estilo que, não tenham dúvida, influenciou inclusive o uniforme conceitualmente semelhante que Henry Cavill usou no citado longa de 2013 de Zack Snyder.
No lado dos efeitos especiais para dar a impressão de super velocidade, os problemas são mais visíveis. No entanto, temos que convir que esses efeitos nem mesmo hoje em dia, com todo o CGI disponível, ficam muito bons (vide o recentíssimo The Flash, com Ezra Miller) quando a escolha não é usar a câmera lenta extrema como nas sensacionais sequências do Mercúrio, na franquia X-Men nos cinemas. No episódio piloto, o que é feito é o que se espera da tecnologia da época, ou seja, a aceleração dos fotogramas e a sobreposição deles em velocidades extremas, além do uso de câmera em primeira pessoa. Há momentos constrangedores, não tenham dúvida, mas a grande verdade é que o conjunto funciona de maneira suficientemente eficiente para não atrapalhar a narrativa.
O começo de The Flash é, portanto, um caprichado – e caro, uma das razões para a vida curta da série – piloto com duração de longa-metragem que adapta com cuidado a origem do personagem nos quadrinhos e que consegue fazer de Shipp, um ator razoavelmente limitado, talvez o melhor Velocista Escalarte live-action até hoje. E, voltando à questão do universo compartilhado, seria muito fácil, se a série continuasse para além de sua temporada inaugural, a Warner providenciar a reunião do BatKeaton com o Flash de Shipp ou, pelo menos, tornar explícito que os dois super-heróis coexistiam no mesmo universo.
The Flash – 1X01: Piloto (Idem – EUA, 20 de setembro de 1990)
Desenvolvimento: Danny Bilson, Paul De Meo
Direção: Robert Iscove
Roteiro: Danny Bilson, Paul De Meo
Elenco: John Wesley Shipp, Amanda Pays, Alex Désert, M. Emmet Walsh, Priscilla Pointer, Paula Marshall, Tim Thomerson, Michael Nader, Robert Hooks, Richard Belzer
Duração: 93 min.