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Crítica | The Fall (2019)

A imagem do medo.

por Fernando JG
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Inspirado nas telas sombrias de Francisco de Goya, como Saturno Devorando Um Filho e O Sono da Razão Produz Monstros, e também na ideia estética de ‘grotesco’ e ‘feiura’ The Fall, de Jonathan Glazer, sem utilizar de um diálogo sequer, caminhando apenas entre ruídos, respiros e um desespero atmosférico sufocante, produz uma cinematografia primitiva em que coloca, por meio de imagens, o tormento enigmático de um homem preso em seu próprio pesadelo. Na verdade, aqui não se distingue o real do sonhado. O que é tão pior do que a realidade tornada um pesadelo?

Freud, num texto chamado Das Unheimliche, que já foi traduzido como O Inquietante, O Estranho-Familiar, O Infamiliar, A Inquietante Estranheza, definia assim esse elemento indefinido que nos causa o pavor: “o estranho é tudo aquilo que deveria permanecer em segredo, escondido, mas que veio à tona”. A ideia do medo provocado por um pesadelo é, numa análise desse fenômeno, o oculto que veio à luz, que deveria estar escondido, mas apareceu. 

A palavra que descreve o clima do filme é densidade e com apenas 6 minutos de tela o curta-metragem consegue ser uma experiência que supera, e muito!, inúmeras produções boas de horror que circulam por aí. O seu formato em curta-metragem enclausura em poucos minutos, de modo opressor e limítrofe, um horror que caberia em duas horas de filme. Com isso, o clímax é constante, não diminui e só aumenta conforme o tempo passa, provocando um prazer estético através do temor. Não há reviravoltas, peripécias, enchimentos, nada que não seja o puro estranhamento, o incômodo e o pavor.

Jonathan Glazer consegue o incrível feito de nos comover no âmbito negativo, trazendo à tona as emoções mais intranquilas das quais fazemos questão de manter escondidas. Utilizando do medo como uma ferramenta retórica, Glazer não apenas experimenta o inferno, mas insere-nos, sem piedade alguma, dentro dele, gerando uma agonia que retira toda a ideia de paz, como fez MGMT na subversiva canção Lady Dada’s Nightmare. O oculto, aqui, aparece. Nossos medos mais intranquilos, horrorosos, primitivos, sobretudo humanos, dão as caras e é insuportável olhá-los de frente. O cineasta faz a manutenção da experiência psicológica do medo para provocar o efeito final de seu filme, com isso, os breves 6 minutos de tela se convertem numa aflição que parece ser eterna. 

O horror se manifesta por meio de lugares-comuns que são amplificados pela trilha sonora imersiva e pelas imagens escuras, fazendo com que a ideia de cair num abismo, de encontrar pessoas mascaradas sem que possamos ver suas faces, de estar cara a cara com o desconhecido, possa nos incomodar profundamente, nos levando a comportamentos irracionais através da simples incompreensão da realidade. Não sabemos o que está acontecendo e isso é inadmissível para a racionalidade humana e o medo, assim, toma lugar de todo e qualquer sentimento. 

The Fall é sucinto na medida exata e por meio da síntese do material fílmico gera efeitos de alcance precisos. A confusão mental criada na película transforma o pavor em fobia – e a fobia em loucura. 

The Fall (The Fall, Reino Unido, 2019)
Direção: Jonathan Glazer
Roteiro: Jonathan Glazer
Elenco: Susanne Brown, Lee Byford, Christopher Jupp.
Duração: 6 minutos.

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